Capítulo XVII:Neve

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  "As solas dos meus pés estavam molhadas, mas eu não via nenhuma água, eu mal via meus próprios pés. Minhas roupas não estavam em meu corpo, a única coisa me cobrindo era a luz rosa emanada do céu de mesma cor, o chão era totalmente branco, de um tom que não se deixava saber sua profundidade, uma fina chuva caía dos céus, mas eu não me molhava, eu nunca me molhava. Uma voz de mulher me chamava, num tom carregado de cuidado e compaixão, como uma mãe “Beto, Beto... me alcance, meu menino” a voz dizia, porém eu não a reconhecia, mas sabia que não era da minha mãe. Começo a andar, sem rumo, sem direção, não controlava meus pés, não controlava meu corpo. A caminhada se transformou numa corrida, eu fugia, mas não sabia de que ou de quem, não conseguia olhar pra trás, só conseguia correr, até que não consegui mais.

Minhas pernas me traíram e eu fui jogado no chão, me molhei com a água que ali havia, senti frio, vazio, dor. Senti meu corpo ser envolvido e levantado, estava num espaço com pouca luz e muito apertado, logo descobri se tratarem de mãos, mãos que se abriram revelando pertencer a mesma mulher do sonho anterior. A voz também vinha dela, que repetia o chamado como um mantra. Por fim parou, encarou meus olhos por algum tempo e abriu sua boca a um nível assustador, me jogou dentro de sua boca e depois disso, não vi mais nada."

  Acordei assustado, pulei da cama e acabei caindo de cara no chão, feri meu nariz, agradeci por Carlos não estar no quarto na hora. Me levantei ainda meio tonto e fui até o banheiro, verifiquei meu nariz e percebi que era apenas uma dor temporária, escovei meus dentes demoradamente e depois retirei minha camisa, que havia se rasgado na queda, percebi uma marca no meu peito, não como um ferimento, era uma pequena elevação de um vermelho fraco no formato de "V", passei a mão por cima da marca, e ela logo desapareceu. Pensei ser algum tipo de alucinação ocasionada pela queda, resolvi não contar a ninguém.

  Depois de me arrumar contactei Lúcia e avisei que estava indo, ela parecia muito empolgada com o que viria a seguir, então eu logo compartilhei de sua animação. Antes de ir para a casa da ruiva avisei a Carlos que o quarto ficaria livre pelo resto do dia, chegando na casa seguimos o mesmo ritual de sempre e atravessamos o portal. A Aqua chamou Ichabu novamente, daquela vez o animal não me assustou, ela montou o Aghante com facilidade e depois me ajudou a subir, quase desloquei meu braço, mas beleza.

-Ainda não falou pra onde vai me levar - disse enquanto a Lúcia me segurava em sua cintura.
-É uma surpresa seu chato - ela respondeu com um pequeno sorriso no rosto - A gente vai chegar rápido.
-Tá bom, tá bom – respondo - Vamos lá. Tô animado pra o que quer que seja.
-Vai adorar com certeza - ela disse confiante.

  Dito isso, ela se abaixou para sussurrar na orelha do Aghante e novamente me disse para segurá-la, me agarrei a sua cintura com força e a abracei, torci para não passar tão mal quanto da última vez. O belo animal trotou até a parte de trás da cabana e então, começou a correr, me agarrava a Lúcia com cada vez mais força a cada momento, se fosse uma menina normal já estaria reclamando da dor, mas ela aguentava. Ao finalmente chegar ao nosso destino, senti um leve desconforto no estômago, mas não era tão ruim quanto da última vez.

-Você está bem? - perguntou a ruiva.
-Surpreendentemente tô sim - respondi- Só tê com um leve incômodo na barriga, mas nada demais.
-Esse é o legal dos Aghantes, você vai se acostumando. Daqui a duas ou três corridas você não vai sentir mais nada.
-Tomara mesmo, mas então... Onde a gente está? - perguntei olhando ao redor, o terreno era um tanto árido, o chão era vermelho e seco, a poeira sujava meus pés, havia algumas montanhas por ali, mas não eram tão enormes, era um lugar muito bonito.
-Vem, vou te mostrar - Lúcia pegou minha mão e me levou até o meio de duas montanhas – Essa, meu querido, é a casa dos dragões.

  Mal pude acreditar em meus olhos, estava diante de criaturas lindas e gigantes, dragões, vários deles, cada um diferente do outro. O primeiro que vi foi um Dragão inglês, daqueles que se vê em filmes e séries como Game of Thrones, Senhor dos Anéis, Shrek, etc... suas escamas eram de um vermelho quase vinho lindo e sua barriga era amarela, possuía ossos como espinhos em toda a extensão de sua cauda assim como nas extremidades de suas asas que se assemelhavam a asas de morcego porém com escamas, seu pescoço era longo e grosso, caberia um ônibus inteiro ali dentro, sua cabeça assim como o resto de seu corpo era enorme, lotada de chifres que se organizavam de maneira totalmente simétrica lhe dando um aspecto selvagem, assustador e principalmente lindo, seus olhos de pupilas findadas pareciam pegar fogo por dentro, um fogo intenso e incessante, mas apesar disso eles pareciam... sonolentos. O dragão vermelho abriu sua enorme boca como num bocejo, apresentando um ameaçador conjunto de dentes enormes, pontudos e estranhamente brancos, em um movimento vagaroso e demorado, a enorme criatura virou sua cabeça para baixo e "cuspiu" uma centelha de fogo no chão abaixo de si, formando um círculo de fogo e logo depois, se deitando como um cachorro, um enorme cachorro réptil de asas, fechou seus olhos e adormeceu, não pude deixar de achar a cena fofa.

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