Capítulo IX: Segunda

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-Mais uma pra conta do pai- eu grito vitorioso enquanto meu Kung Lao finaliza o Scorpion de Lúcia, cortando sua cabeça ao meio e fazendo seus miolos saírem da cabeça de maneira grotesca.
-Você sabe que eu deixei você ganhar, né? - Lúcia diz em tom de clara derrota.
-Me deixou ganhar das últimas quatorze vezes também? - eu ria de sua falha tentativa de explicar sua derrota.
-Foi.
-Ah, para. Só admite que eu sou melhor que você e pronto.
-Você se acha demais. - disse ela me acertando com uma almofada- Só porque me venceu algumas vezes.
-Quinze- a lembrei.
-Tá, quinze. Eu perdi, você venceu, está feliz agora? - Lúcia diz largando o controle em cima do sofá.
-Oh meu Deus- digo com voz manhosa- Vem cá vem. Quer mudar de jogo? A gente pode jogar junto.
-Co-operativo? - ela pergunta se animando.
-Isso mesmo, vamos lá?

  Lúcia não responde, apenas se levanta e vai até seu PlayStation 4 trocar o jogo. Ela escolhe um FPS qualquer, não sabia qual porque nunca curti muito esse tipo de jogo. Ela volta a se sentar no sofá, mas antes de começamos o jogo, eu recebo uma ligação. Perguntei a Lúcia se poderia atender ali mesmo, ela assentiu em concordância. Atendo a ligação, era Carlos do outro lado da linha.

-Beto, onde você tá? - ele parecia cansado, lembrei que ele havia saído pra correr.
-Tô na casa da Lúcia, por quê?
-Terminei a corrida, mas agora eu tô à toa. O que você tá fazendo?
-A gente tá jogando um pouco, se quiser eu vou pro orfanato e...
-Pergunta se ele não quer vir pra cá- Lúcia me interrompeu.
-Precisa não Beto, eu vou dormir.
-Aqui, a Lúcia tá perguntando se você não quer vir pra cá.
-Pra fazer o que?
-Sexo a três. Óbvio que é pra jogar né Carlos.
-Ata, me passa o endereço que eu tô indo então- fiz o que ele pediu e ele desligou o celular.
-Ele está vindo- disse para Lúcia- Não tem problema mesmo ele vir pra cá?
-Não, ele pode jogar com a gente, ou só assistir também.
-Essa frase pega tão mal fora de contexto...
-Seu palhaço- Lúcia riu junto comigo- Se bem que, não seria uma má ideia.
-Ei- joguei de volta a almofada nela- Não coloca essa imagem na minha cabeça, vamos jogar logo.
-Vamos- ela disse ainda rindo.

  Começamos o jogo e gastamos um bom tempo arrumando os personagens, alguém bateu na porta antes de começarmos, Lúcia se levantou pra atender, era Carlos. Ele parecia muito cansado, estranho, ele não costumava correr tanto, mas parecia ter percorrido uma maratona.
Lúcia o cumprimentou e o convidou para entrar educadamente. Carlos me cumprimentou com um "toca aqui" e se sentou no chão.

-Pode sentar no sofá Carlos- disse Lúcia estranhando seu comportamento.
-Naah, tô suado demais, além disso o chão está fresquinho, prefiro ficar aqui mesmo.
-Ah, tá bom então né. - disse Lúcia sentando se ao meu lado e pegando o controle- Quer jogar?
-Ah... Agora não, tô meio cansado.
-Tá bom então.

  Após aquele diálogo estranho começamos a jogar. Lúcia era definitivamente melhor que eu naquele jogo, fazendo mais que o triplo da minha pontuação em pouco tempo, e obviamente, se gabando por isso. Após uns quarenta minutos, Lúcia se levantou pausando o jogo.

-Vou pegar alguma coisa pra comer - disse se espreguiçando- Carlos, me ajuda?
-Eu? - perguntou Carlos confuso.
-É, preciso pegar umas coisas nos armários de cima e você é bem alto, me ajuda?
-Claro, vamos lá.
-Vai querer alguma coisa Beto?
-Ahh...- fui pego de surpresa- Vou, o que vocês fizerem eu vou querer.
-Beleza então, vamos.

  Lúcia foi com Carlos até a cozinha e eu voltei a jogar sem ela, mesmo com seu personagem parado e ainda não consegui alcançar a pontuação de Lúcia. Após uns quinze minutos, Carlos e Lúcia voltaram da cozinha com três mistos quentes. Lúcia me entregou um e se sentou ao meu lado, me dando um beijo de surpresa, o que deixou Carlos com uma expressão de confusão. Carlos se sentou novamente no chão e começou a comer seu misto, Lúcia olhou para a tela da televisão e me deu um tapa no ombro.

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