AQUA

Capítulo X: Guerra

Silêncio.

Paz.

Inspiração.

Expiração.

  Lúcia se deliciou com o ar puro e limpo do bosque isolado, sorriu ao olhar para o lago e lembrar de seu primeiro encontro transformada com Beto. O silêncio instalado no local não era aterrador ou solitário, era acolhedor, calmo, ela tinha certeza que se prestasse atenção, poderia ouvir as árvores crescendo ao seu redor, aquele era seu lugar de paz, seu porto seguro. A Aqua desejou poder apreciar sua solidão por mais tempo, mas como a princesa de Aquitaria, ela tinha suas obrigações.

  Lúcia novamente seguiu o maçante.
ritual, se despiu e adentrou a água gelada do lago submergindo nela, ela sorriu quando começou a sentir a transformação. Suas pernas formigavam e se colavam uma na outra com uma força impressionante, Lúcia sentia o formigamento da magia agindo sob sua pele, suas pernas coladas foram tomadas por um brilho intenso que era acompanhado por um calor muito bem-vindo, quando a luz se foi, suas lindas pernas deram lugar à uma maravilhosa e brilhante cauda de peixe, com escamas reluzentes e longas. Lúcia deu uma volta em si mesma se abraçando, poucas coisas na vida são mais prazerosas que um orgasmo, e a transformação de humana pra sereia era uma delas, junto com comer um bolo quente num dia chuvoso, um banho bem tomado e voar. Lúcia quase se perdeu em seus pensamentos, mas logo voltou para a realidade, nadou até o fundo do lago onde abriu o portal pra parte submersa da exoterra, atravessou o portal e foi novamente inundada pela beleza radiante de seu lar, se já não estivesse acostumada com aquela visão, teria parado para admirá-la, mas ela já estava muito atrasada pra isso, então tratou de se dirigir direto para o enorme Castelo de Aquitaria, onde sua tutora a esperava.
Depois de alguns minutos de nado, Lúcia se encontrava já no enorme castelo procurando por aMa-Tha sua tutora ou Ama (como era chamada pela jovem aqua), que era uma sereia experiente e que há muito tempo servia a família real como tutora das futuras governantes. Ama possuía uma cauda longa e prateada que reluzia assim como a de toda sereia, sua pele era alguns tons mais escura que a de Lúcia e os traços denunciavam uma ascendência oriental, seus cabelos pretos e curtos estavam quase sempre amarrados em um coque no topo de sua cabeça, sua beleza era estonteante assim como a de toda sereia ou aqua. Lúcia a procurou durante 15 minutos por todo o castelo até que foi surpreendida no salão principal.

-Vinte minutos de atraso princesa, teremos que voltar à lição sobre o valor do tempo? - disse uma voz vinda detrás de Lúcia, uma voz meio rouca, mas ainda jovial, sereias não envelheciam na mesma velocidade que os humanos, então, tecnicamente mesmo a tutora já estar chegando em seus 160 anos, sua voz parecia a de uma moça de 30.
-Não... Eu só... Tive um problema na passagem do portal- Lúcia torcia para que sua desculpa esfarrapada fosse aceita.
-Bem, tudo bem, vamos seguir normalmente- disse a tutora tranquilizando Lúcia- Contanto que não se repita.
-Não irá- prometeu Lúcia mesmo sabendo que era mentira, a verdade era que Ama já havia feito vista grossa pra muitos atrasos... além de outras quebras de conduta- Qual é a lição de hoje mesmo?
-História da Guerra das Agulhas.
-Mas eu já conheço essa história muito bem - disse Lúcia confusa.
-Não exatamente, tem algumas partes que são omitidas das outras e que apenas a família real tem acesso.
-Uou!- exclamou Lúcia- É coisa séria então.
-Muito séria- pontuou Ama- Venha comigo.

  Ama saiu nadando à esquerda de Lúcia, que logo a acompanhou, pararam de nadar quando chegaram a um corredor vazio e sem saída, Lúcia estranhou estarem naquele lugar mas Ama logo revelou que no final do corredor havia uma passagem secreta, ativada pelo toque e que dava passagem para um grande salão, Lúcia não questionou, já havia encontrado outras passagens como aquela no castelo antes, já sabia que haviam muitas outras que ela ainda não conhecia. Ambas tutora e aluna entraram no salão, um lugar surpreendentemente grande e redondo, com paredes vermelhas de aparência estranha, lembrava veludo, estantes de mármore contendo um número enorme de perolinhos preenchiam boa parte do local, o chão era de um material altamente reflexivo, como se um grande espelho ocupasse o chão, no topo do salão, dois peixes-lâmpada nadavam em círculos iluminando o local com seu brilho claro, no meio do salão havia uma mesa de mármore quadrada, lotada de runas aquáticas de cores escuras que mostravam sereias dentro da água em sofrimento, e fora dela, armadas para lutar, em cima da mesa, um tubo de cristal permanecia apagado, como se aguardasse ser ativado. Ama fechou a entrada secreta, se trancando com Lúcia no estranho salão.