A história de Carlos: Parte I

28 13 66
                                    


20 de dezembro de 2018

2 meses antes

06:00

Ao som do mais profundo silêncio, acalentado pela fraca luz da manhã de Santa Catarina, os olhos de Carlos se abriram antes mesmo que o despertador pensasse em tocar. Ele se sentou na cama ainda atordoado pelo pesadelo que acabara de ter: estava numa cidade deserta e precisava encarar seu maior medo, ficar sozinho para sempre. O jovem órfão passou as mãos no rosto tentando afastar os pensamentos, mas ele nunca conseguia, esse medo sempre o rondava, mesmo ainda jovem, Carlos tinha medo de morrer sozinho, pois todos os seus relacionamentos haviam dado errado e ele sabia que a culpa não era das meninas com quem ele se relacionou.
Os devaneios do jovem foram interrompidos por uma sequência de batidas na porta.

-Posso entrar? - perguntou uma voz feminina - Ou tem alguém pelado aí dentro?
-Pode- respondeu Carlos, a porta foi aberta, revelando uma mulher negra de meia idade, a diretora do orfanato.
-Acordou cedo hoje, hein? - ela disse.
-Tava com a cabeça cheia- ele desconversou -Mas então, o que a senhora quer?
-O Natal está chegando e a gente precisa de enfeites, a maioria está no sótão, queria que vocês pegassem lá pra mim.
-Tudo bem, sem problema - respondeu o jovem - Só que esse aí ainda vai demorar pra acordar.
Carlos aponta para seu amigo e colega de quarto, que dormia um sono profundo.
-Não tem problema, temos outro voluntário - revelou a diretora.
-Quem?
-Rafael Odillon, o aluno do segundo ano que fica no quarto 23M.
-O que tem um quarto só pra ele?
-Esse mesmo, tudo bem por você?
-Claro, fala pra ele me esperar perto da escada. Preciso me arrumar antes, acabei de acordar.
-Aviso sim, beijo, vê se não demora.
-Pode deixar.

A diretora saiu do quarto fechando a porta, Beto continuava dormindo feito um trator, Carlos fitou o rosto do amigo, pensou que se não fosse por ele ainda estaria sozinho. Decidiu então não pensar mais naquilo, tinha um trabalho a fazer, se levantou e se arrumou, vestindo uma blusa de frio verde sem camisa por baixo, uma calça jeans preta e um tênis branco que completava seu visual, ele se olhou no espelho antes de sair, se sentia um caco, mas não havia muito o que fazer.

Saiu do quarto sem pressa, se dirigindo primeiro a cantina do orfanato para pegar dois copos de café, depois se dirigiu para a escada onde encontrou o segundanista sentado na escada mexendo em seu celular. Ele era alto, naturalmente loiro, possuía um porte atlético de dar inveja, na ocasião usava uma regata amarela, um short jeans largo que deixava a mostra suas pernas fortes e definidas e pra completar um tênis preto e vermelho, Carlos percebeu que já estava a algum tempo fitando o corpo do interno mais velho, "admiração, talvez" pensou na hora.

-Isso é pra mim? - perguntou Rafael interrompendo os pensamentos do mais jovem.
-Ahh... É... É sim - disse e lhe entregou um dos copos de café, o louro sorriu enquanto pegava o copo, seus dentes eram perfeitamente brancos e alinhados formando um sorriso perfeito, sua pequena barba também loira acabava se juntando ao seu sorriso lhe deixando ainda mais encantador.
-Carlos, né? - começou o mais velho - Sou o Rafael. Pode chamar só de Rafa mesmo.
-Sim, Carlos. Me chama de Carlos - o mais jovem estava nervoso, mas não sabia explicar o motivo. Rafael riu da reação dele.
-Gostei de você, mas então... - o louro terminou se copo de café - Vamos pegar aqueles enfeites logo.
-É. Vamos lá.

Carlos terminou seu copo de café e ajudou Rafael a se levantar, sua mão era forte, o mais jovem sentiu seu corpo se arrepiar levemente. Ambos logo subiram os dois andares do orfanato e enfim, chegaram ao sótão, um lugar surpreendentemente limpo e bem arrumado, após alguns minutos de busca, Rafael encontrou algumas caixas com os enfeites. Eram poucas caixas então decidiram levar tudo de uma vez, cada um levava três, uma em cima da outra. Com muito cuidado levaram até a cantina onde se encontrava a diretora.

-Gostei de ver meninos, trabalharam bem juntos. Mas ainda preciso de mais um favor - disse a mulher.
-Mais um? - perguntou Rafael fingindo cansaço.
-Sim mocinho, mais um - ela respondeu - Quero que peguem a caixa de pisca-pisca e arrumem eles, é incrível como essas coisas se embaraçam do nada.
-Tudo bem então, Carlos, vamos levar isso pro meu quarto - disse o loiro.
-Ahh... tudo bem - respondeu o mais jovem ainda atônito.

Rafael pegou a caixa e se encaminhou com Carlos para seu quarto, ao chegar, jogou todo o conteúdo da caixa no chão e se abaixou pra começar a desembaraçar, o mais jovem logo o acompanhou. Depois de quase uma hora de trabalho ainda havia muito pra se arrumar ali, então o segundanista resolveu testar se as luzes ainda funcionavam, porquê se não funcionassem, seu trabalho teria sido em vão. Ele então se levantou limpando as mãos no short e retirou sua camisa revelando seu abdômen e peitoral definidos, Carlos ficou boquiaberto com o ato, não sabia para onde desviar os olhos, não sabia nem se conseguia. Se sentiu atraído pelo rapaz a sua frente, mesmo que não quisesse admitir, sentiu que precisava desconversar, arrumar outro assunto pra fugir daquele momento de pânico.

-Tá com calor? - perguntou Carlos logo se arrependendo.
-Muito - respondeu o mais velho - Você não?
-O que você vai fazer? - perguntou nervoso.
-Vou testar esse pisca-pisca - disse pegando a tomada e a ligando na parede, as luzes se acenderam e começaram a piscar - É, funciona.
-É tão lindo... - começou Carlos, sendo logo notado por Rafael - As luzes... são lindas.
-São mesmo, mas espera aí... Tem uma ali atrás que eu acho que está queimada.

O loiro começou a andar em direção ao mais jovem, pois a luz supostamente queimada estava atrás dele, alguns fios embaraçados se enroscaram no pé direito do mais velho, fazendo ele cair em cima de Carlos. O mais jovem se sentiu desesperado, o corpo pesado do interno mais velho sobre o seu estava lhe causando sensações que nunca havia sentido antes, Rafael ria por causa de sua queda, ainda sobre o corpo do mais jovem, após alguns minutos apoiou suas mãos ao lado da cabeça de Carlos e se levantou olhando para seu rosto.

-Ai, Deus. Desculpa cara - disse o louro ainda rindo - É que eu fico desastrado às segundas ou quando tem alguém atraente por perto.
-Hoje... é quinta - pontuou o mais jovem com receio.
-É mesmo, né...? - disse o mais velho com um tom provocativo - Deve ter sido a segunda opção então...

Os jovens se encararam por um tempo, os olhos do loiro eram verdes, Carlos havia notado apenas quando eles estavam a poucos centímetros de si, olhou pra baixo e notou que suas mãos estavam sobre o abdômen definido do mais velho, que sorriu ao notar também. Eles voltaram a se encarar, sentindo a respiração um do outro, Rafael passou sua mão pelo rosto liso do mais jovem, parando com os dedos em seu queixo e sem dizer uma palavra sequer, tocou seus lábios iniciando um beijo lento. Carlos começou assustado por suas próprias emoções e pelos atos repentinos de Rafael, mas aproveitou cada segundo do beijo, seus olhos se fecharam lentamente e suas mãos foram parar na cintura do mais velho.
Ele agora entendia o porquê nunca havia dado certo com nenhuma de suas ex namoradas, o problema não era com elas, nem com ele. O jovem apenas precisava se permitir duvidar, se conhecer. Naquele momento, envolto por luzes coloridas que piscavam sem parar, dentro de um beijo profundo com um interno mais velho, Carlos se sentiu bem. Não estava sozinho, e jamais estaria de novo.

-----------------------------------------------------------

Personagem secundário bom tem que ter ao menos um capítulo proprio não é mesmo?

Oque acharam dessa história?

Oque esperam a seguir?

Curte e compartilha de gostou da historia.
Um beijo meus leitores e lembre-se que existem duas coisas na vida em que você nunca deve economizar:
Tatuagens e Armas

AQUAOnde histórias criam vida. Descubra agora