A história de Carlos: Parte II

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  Fazia frio, muito frio, especialmente naquele dia, felizmente Carlos se aquecia com a blusa de frio emprestada por Rafael, ficava meio grande nele já que seu namorado usava alguns números a mais, mas ainda assim era aconchegante. Ambos andavam lado a lado pelas ruas quase vazias de sua cidade, indo em direção ao cinema que havia no centro, andavam próximos, mas não o suficiente pra levantar suspeitas, afinal, era um lugar ainda antiquado, sua relação ainda era mal vista então o melhor era manter em segredo por enquanto.

  No caminho, conversaram sobre qual filme iriam assistir, pra Carlos pouco importava, ele só queria sair com Rafael, já o loiro não sabia se decidir, se pudesse assistiria a todos os filmes daquele cinema, sua indecisão divertia o menor, que chutava pedras na calçada meio distraído.

-Me ajuda a decidir caramba - disse o mais velho.

-Ah, sei lá - disse o mais baixo ainda um pouco avoado - Você não tem nenhuma preferência?

-Não né, se não já teria escolhido. Me ajuda vai - disse o louro fazendo uma cara de cachorro pidão.

-Ah... Tem aquele filme da Marvel, né? - o gênero de super-herói era bastante atrativo para o mais baixo, por mais que ele preferisse outra editora.

-Ah... Até tem, mas esse eu já vi - responde Rafael um tanto desapontado.

-Pior que eu também...- Carlos respondeu deixando o mais alto ainda mais cabisbaixo.

-Droga - disse ele.

-Quer saber? Não importa, vamos ver de novo - disse o mais novo parando fazendo o mais velho parar também - O importante não é o filme e sim que a gente vai estar junto.

-Você é muito fofo, sabia? - disse o mais velho pegando em sua mão, ignorando as poucas pessoas distantes na rua - Vamos fazer isso mesmo.

  Os jovens se encararam por um tempo, Carlos olhava a boca de Rafael, e o mesmo também o fazia, a vontade percorreu o corpo de ambos, mas o medo fora mais forte, por fim, eles voltaram a andar chegando ao cinema em alguns minutos. Não havia muita gente na fila naquele dia, o que era ótimo, cinema cheio é uma porra, surpreendentemente, encontraram naquela mesma fila Ana Beatriz e Sandro, ambos internos do orfanato, estavam a pouco mais de um metro e meio de distância e obviamente viram os dois meninos, eles obviamente também estavam em um encontro, relacionamentos entre internos eram mal vistos por diversas questões por mais que não fossem exatamente proibidos, se descobrissem do relacionamento entre Ana e Sandro, os funcionários acabariam ficando muito em cima deles, por isso, preferiam ignorar a existência do casal e vice-versa.
Com essa segurança, Rafael sentiu um pouco mais de liberdade e segurou a mão de seu namorado, Carlos por sua vez teve receio, ao sentir o toque tentou puxar sua mão, mas foi impedido pelo loiro "relaxa, não tem ninguém vendo" sussurrou o mais velho, o mais novo olhou a redor e constatou que era verdade, ainda assim era perigoso, mas um perigo que ele estava disposto a correr, ele então relaxou e entrelaçou seus dedos com o do mais velho que sorriu de canto com o gesto. O casal a frente finalmente se move e Rafael chega ao balcão para comprar os ingressos, a atendente lhe dá um sorriso tímido que logo desaparece ao perceber o contato entre os jovens, nada muito alarmante, mas ainda incomodou o mais novo.

  Ingressos comprados, duas cadeiras bem ao canto na última fileira, antes de entrarem compraram um balde de pipoca desnecessariamente caro e dois copos bem grandes de refrigerante, ambos levavam uma vida saudável então podiam se dar ao luxo de se entupir de besteira as vezes. Ao entrar na sala, o casal percebeu que o cinema estava realmente bem vazio, além deles havia apenas os outros dois internos do orfanato e um grupo de quatro mulheres nas fileiras mais à frente, o fundo do cinema estava completamente vazio.

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