Capítulo XXIII: Cidade Luz

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  Era manhã, a água quente do chuveiro caía no rosto de Lúcia escondendo o fio de lágrimas que descia de seus olhos, era sua maneira de lidar com a dor, disfarçá-la, fingir que ela não estava lá, mas estava e ela sabia. Ali, sentada sob o chão do banheiro de um hotel, com o chuveiro ligado na temperatura mais alta, a aqua cumpria seu ritual, ela não saia até que chorasse tudo que precisava chorar. Era assim desde que aquilo aconteceu, dias, depois semanas de choro incessante, mas não era só isso, ela ainda teria séculos pra sofrer por isso, sereias não esquecem, nunca, mas ela poderia tentar se distrair, um dia ela seguiria em frente, ao menos era o que ela esperava, o que a dava esperança de que tudo ia acabar bem, ela acreditava que um dia Beto poderia esquecê-la, arrumar uma namorada, se casar, ter filhos, construir uma família... sem ela, era um pensamento doloroso, mas era seu jeito de se confortar, Beto teria uma vida sem ela, então que essa vida fosse feliz.

-Amiga, já passou da hora de sair desse banheiro não acha, não? - Avanta gritou do lado de fora batendo com força moderada na porta.

-Já estou saindo - Lúcia respondeu desligando o chuveiro, se levantou e foi até o grande espelho da pia passando a mão nele numa tentativa de desembaraçá-lo, seu rosto parecia mal, era meio obvio que ela não estava bem. A ruiva se secou e se enrolou em uma toalha saindo do banheiro, dando de cara com sua amiga na porta.

-Ainda não entendo esse negócio de tomar banho todo dia - disse a Aqua mais alta.

-Coisa de Brasileiro, você devia experimentar - disse a mais baixa.

-Tá me chamando de fedida?- Avanta deu um tapa no ombro da amiga.

-Tô sim, você fica toda suada depois de se exercitar e só passa uns paninhos depois, o cheiro de suor fica impregnado em tudo.

-Nossa não precisa ofender também - a mais alta disse entrando no banheiro e já se despindo.

-Ah... desculpa eu não quis dizer...

-Ei, eu tô brincando, não fiquei ofendida de verdade - disse a loira - Você tem razão de qualquer jeito, eu preciso tomar mais banhos.

-Tá tudo bem com você? - a ruiva pergunta preocupada enquanto sua amiga liga o chuveiro.

-Eu tô ótima pra falar a verdade, conheci uma DJ que disse que é amiga de um cara que conhece o primo de um cara que trabalha no Mix Club, que pode conseguir umas entradas pra gente - a loira parecia animada.

-Não entendi metade do que você disse, mas... e essa Dj aí?- Lúcia perguntou - Tenho certeza que tem mais nessa história.

-Com certeza tem minha querida, aliás ia falar com você, eu chamei ela pra vir aqui amanhã pra passar o dia... vou precisar do quarto.

-Ah... entendi, acho que vou ficar em Aquitaria então.

-Olha, eu sei que você ainda está muito triste e tudo mais, porém... daqui há um tempo você não vai mais poder sair de Aquitaria, no seu lugar eu ia querer passar o máximo de tempo possível fora de lá - aconselhou Avanta.

-É tem razão, mas sei lá. Não dá pra ficar com as outras meninas e eu não queria voltar pra exoterra sem...- ela pensou nele, aquilo bateu forte de uma maneira não esperada, Lúcia sentiu uma leve dor no coração, não como um mau pressentimento, era mais como a dor de uma perda.

-Você pode ficar aqui com a gente mesmo - a mais alta ofereceu.

-Não quero atrapalhar seu momento. Sabe, acho que vou visitar Fobos, já faz um tempo que eu não o vejo.

-Tem certeza, amiga?- Avanta desligou o chuveiro e se secou com uma toalha, enrolando-a em seu corpo logo em seguida -Pode ficar com a gente, sério não vai atrapalhar.

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