Capítulo XVIII:Disfarce

40 10 102
                                    

Dois meses depois

Um formigamento estranho percorria minha pele, como se formigas estivessem andando por dentro da minha pele. Naquele momento eu já estava pra lá de suado, na oficina de Gedra, o anão estava praticando magia obscura, então, a oficina parecia ainda mais abafada a cada segundo que passava. Virei meus olhos para Lúcia, podia sentir seu nervosismo de longe, peguei em sua mão para tentar confortá-la, mas não sabia se tinha adiantado. O som do pesado martelo rubro batendo no pequeno pedaço de metal era ensurdecedor, a ruiva impaciente do meu lado parecia não sentir tanto os efeitos, mas pra mim era como se tivesse uma obra sendo feita dentro da minha cabeça. Após um longo tempo o anão parou de martelar, jogou sua ferramenta no chão e nos encarou.

-Está pronto? - perguntou Lúcia.
-Isso vocês irão me dizer, venham conferir - respondeu o misterioso ser.

Nos aproximamos da bigorna onde a pouco o Gedra conduzia uma verdadeira orquestra do terror para meus ouvidos, observamos a pequena peça de metal reluzente, um anel prateado rodeado por linhas diagonais vermelhas, muito bonito.

-Satisfeitos? - perguntou o Anão.
-É realmente bonito, mas precisamos saber se funciona - respondeu Lúcia pegando o anel em sua mão e o assoprando forte, saiu um pouco de fumaça do objeto -Aqui Beto, me dê sua mão.
-Eh... tá bom - estendi minha mão para ela que a segurou e lentamente deslizou o anel pelo meu dedo do meio, o objeto estava ainda quente pela fricção, mas era suportável - Era pra acontecer alguma coisa?
-Quais são as palavras de ativação Gedra? - perguntou a ruiva com um tom um tanto impaciente na voz.
-Calma princesa, até parece que não confia em mim - disse o anão com um tom estranho - Lupi-Lupi.
-Lupi-Lupi?- pergunta ela confusa.
-Era o nome da minha potrinha de estimação, morreu a coitada.
-Ah, lamento - disse finalmente - Então é... eu tenho que dizer Lupi-Lupi pra...

Uma luz prateada começou a rodear meu corpo, senti um formigamento por todo meu corpo, minha pele queimava, mas não doía, o processo levou pouco mais de quinze segundos e logo tudo parou. Lúcia me olhava com um sorriso surpreso no rosto. Empolgada, a Aqua me levou até um grande espelho que havia na oficina de Gedra, fiquei espantado com a imagem que vi, ao lado da ruiva havia uma criatura pequena, de pele extremamente clara, orelhas pontudas, cabelos brancos lisos caindo pelos ombros, suas roupas de pareciam com as minhas, era eu, aquele seria meu disfarce.

-Eu... nossa isso é... incrível- mal conseguia falar de tão espantado, eu estava completamente diferente.
-Gostou mesmo? Se quiser a gente pode trocar - disse Lúcia.
-Não precisa eu... achei ótimo - respondi.
-Então pombinhos, se estão satisfeitos acho que é uma boa hora pra falar sobre meu pagamento - o anão nos interrompeu.
-Não antes da visão verdadeira- retrucou a ruiva- Depois te explico, Beto.
-Eu já fiz a parte mais complicada do trabalho, a visão verdadeira é fácil, eu sou um homem de negócios, quero meu pagamento agora - Gedra era irredutível.
-Droga, tá, tanto faz- ela parecia realmente incomodada com o anão - Vai ser rápido.

Lúcia apanhou um pouco de água que havia num balde e a controlou a passar ao redor de sua cabeça. A água começou a brilhar, borbulhou como se estivesse fervendo e aos poucos tomou a forma de uma coroa de pérolas, com várias joias encrostadas em si, uma peça realmente linda. A Aqua levou sua mão até uma pequena joia verde da parte de trás da coroa e a entregou ao anão que admirou a beleza da joia como se fosse a coisa mais linda que havia visto na vida. Lúcia desfez sua coroa e olhou para o anão com desprezo.

-Pronto, agora termina o serviço - ela bradou impaciente.
-Tudo bem princesa, aqui está - Gedra retirou um pequeno objeto de um pote, que mais se parecia com um feijão amarelo - O encantamento já está pronto, é só mandar pra dentro.
-Tá, tanto faz - Lúcia comeu o "feijão" e olhou pra mim, seus olhos mudaram de cor por meio segundo -Tá funcionando, vamos sair daqui logo, Beto.
-Ah... tudo bem - peguei em sua mão e fomos até a porta, decidi que seria melhor não agradecer pelo jeito que a Aqua falava com o anão.
-De nada jovens, aproveitem seu disfarce - disse Gedra por fim, fazendo Lúcia apertar minha mão com um pouco mais de força.

Abrimos a porta e fomos ofuscados pela forte luz do dia, Atamald estava movimentada como sempre, pode notar um número um pouco maior de minotauros do que o habitual, "devem estar se preparando pro orgato" pensei. Fechamos a porta atrás de nós e saímos rapidamente da cidade, Lúcia ainda parecia nervosa, precisávamos conversar, logo ao sair do local, nos deitamos na grama exaustos e ficamos em silêncio por um tempo.

AQUAOnde histórias criam vida. Descubra agora