Capítulo XX: Inigualável

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   Meu estômago doía assim como minha cabeça, Lúcia tentava desesperadamente me ajudar usando a água da fonte, mas não adiantou, assim, de joelhos, mirando a figura da criatura que há mais de dois meses assombrava meus sonhos, eu caí desmaiado.

  Ao acordar, as dores haviam passado, senti apenas um leve incômodo nos olhos causado pela luz forte acima de mim, eu estava numa sala grande, deitado sob uma cama de madeira, a sala era toda marrom, adornada em vários tons da cor.

-Ele tá bem? - sussurra Lúcia para uma ninfa que também estava ali, não consegui responder na hora.

-Vai ficar - respondeu a mulher - Já deve estar recobrando a consciência.

-E quanto aos sonhos com a Deusa?

-Não consegui encontrar nada, quem quer que tenha colocado esses sonhos nele usou magia poderosa.

-Ahh... - murmurei chamando a atenção da Aqua, que pediu licença para a ninfa e se aproximou de mim.

-Oi Beto - ela parecia aliviada, passou a mão em meu rosto e depois a pousou sobre a minha - Fiquei tão preocupada.

-De- desculpa... Eu...- tentei dizer.

-Não peça desculpas, você não tem culpa de nada. Só tô feliz que você esteja bem- ela se curvou e me beijou lentamente, apertou minha mão com certa força, mas não liguei, o toque de sua boca na minha me fazia sentir mais leve, senti algo molhar meu rosto e parei o beijo, era uma lágrima.

-Lúcia... não chora por mim... eu tô melhor - eu disse com certa dificuldade.

-Eu sei, é que... - ela parecia não saber o que dizer - Você é muito importante pra mim, Beto... Não posso perder você... não agora.

-Eu te prometo... que você não vai me perder - digo apertando sua mão - Vou ficar com você.... até não poder mais.

-Beto, eu... - Lúcia fora interrompida pela chegada da Ninfa de antes.

-Com licença, eu vou precisar do consultório livre, tenho uma paciente urgente - disse a mulher.

-Já estamos saindo - a Aqua responde - Consegue andar, Beto?

- Consigo - disse me levantando, precisei me apoiar na ruiva pra não cair - Tudo bem... vamos?

-Vamos - ela respondeu.

  Saímos da "clínica" da ninfa, que Lúcia posteriormente me explicou se tratar de uma feiticeira com especialização em magia da saúde, era tipo medicina só que mais radical. O lugar ficava do lado de trás da cidade que estávamos a pouco, havia uma pequena fila de criaturas esperando pra ser atendidas. Já era noite na Exoterra, eu havia ficado muito tempo desmaiado, voltamos rápido para a Terra, por sorte Carlos não estava no quarto na hora, nos vestimos e ficamos deitados no chão, sem dizer nada, por um longo tempo, eu ainda sentia um certo incômodo, mas nada muito forte.

  A mão direita da Aqua repousava em minha cintura e a minha sobre sua mão livre, nós nos encarávamos em silêncio, olhando dentro dos olhos um do outro. Seu olhar me transmitia uma série de sentimentos, cuidado, carinho, medo, angústia, saudade... amor, meu olhar lhe dizia o mesmo, nós sabíamos o que era, foi inevitável, mas não podíamos dizer, verbalizar tornaria real e se fosse real, seria trágico. Permanecemos no silêncio por algum tempo, posteriormente Lúcia voltou pra sua casa e eu fiquei ali, tomei um banho, troquei minha roupa e me deitei. Carlos chegou tarde, parecia cansado, mas feliz, ficava contente por vê-lo assim, Rafael o fazia bem e isso era ótimo, ele tinha encontrado sua pessoa especial e estava feliz com isso. Achei que não dormiria aquela noite, mas fui vencido pelo cansaço, novamente, sonhei com aquela mulher, mas dessa vez foi diferente.
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