xxxiv. esperando por um herói.

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Acordei naquela manhã de segunda-feira com um sentimento de que hoje estava começando uma nova etapa da minha vida. As coisas realmente pareciam estar com um clima mais leve. Eu respirava melhor, sentia o ar entrar por inteiro em meus pulmões e isso de certa forma me confortava muito.

Com uma única exceção de Koji.

Eu sei que ele ainda está chateado por eu não ter comparecido ao enterro da vovó - e acreditem quando eu digo que é um sentimento que dói igual um corte de papel entre os dedos, pode ser pequeno, mas a dor é intensa demais. Não o culpo, afinal, ela era membro da nossa família e, querendo ou não, ela foi uma grande peça importante pra todo esse quebra-cabeça genealógico que ninguém conseguiu montar perfeitamente.

Eu queria que ele notasse que eu estava me sentindo mal com essa perda - eu realmente estava . Mas ele me ignorou a manhã toda, desde casa, até o caminho na escola.

Diferente da mamãe e do papai que estavam de bem, muito embora mantivessem um semblante de chateação devido ao acontecimento trágico que pegou todos nós de surpresa.

Eu estava abalada, mas tentava não demonstrar isso fisicamente, duvido que a vovó fosse querer isso. Então, eu só reprimia um sentimento reclusivo de existência e pensava em como continuar vivendo era importante.

A minha vida toda eu apenas existia para um motivo em específico, agora eu entendo o que é realmente viver. Existe uma linha tênue entre esses desvios psicológicos e eu sentia que estava mais pra cá do que pra lá. Eu me sentia um pouco perdida porque sempre seguia uma linha reta, agora que meus caminhos se dividiram e, consequentemente, se ampliaram eu enxergava um acervo de decisões e finais alternativos.

Eu andava por ali às cegas com um certo incômodo na barriga por medo de estar fazendo algo errado. Mas a vida é isso, se errou e tem a possibilidade de consertar seu erro, o faça, caso não, tentar novamente sempre é uma boa opção.

Eram sete e quinze e, como de costume, Marie e eu estávamos de encontrinhos no auditório para continuarmos o treino de teclado. Eu sou tão grata à ela por estar me auxiliando e por ter paciência comigo. Estas pequenas situações são cenários que eu nunca imaginei estar presenciando um dia e, apesar de usar palavras rasas, eu me sentia uma pessoa normal que agora enxergava coisas boas em pequenos detalhes.

Ok, por mais que Marie seja paciente comigo, às vezes eu sinto que ela tem vontade de fazer carinho na minha cabeça com o teclado porque eu sou bem desastrada e acabo pressionando as teclas muito forte.

Estávamos em silêncio, nada muito constrangedor, apenas porque não tínhamos nada pra falar enquanto caminhávamos pelo imenso vazio entre colunas de cadeiras fofas e perfeitamente enfileiradas do auditório.

- Sinto muito pela sua avó... - Ela quebrou o silẽncio, sem o menor jeito, talvez ela não esteja acostumada com condolências. - Espero que tenham tido ótimos momentos, avós são incríveis.

- Eu concordo. - Digo e logo um filme passa na minha cabeça. - Mesmo que eu não me lembre de algumas coisas, acho que carrego um pouco da sua essência... E legado. Sinto ela aqui comigo. - Marie sorriu e eu limpei a garganta, tentando quebrar o clima. - Antes que eu me esqueça, pega essa coisa de volta! - Retirei da mochila o maldito livro.

- Você leu? - Ela disse manhosa e tomou o mesmo de minhas mãos, eu enxerguei um brilho no seu olhar e eu apenas franzi o cenho. - Então eu acho que fui útil alguma vez! - Continuou com seu jeito alegre e contagiante.

- Você sempre é. - Larguei minha bolsa em uma cadeira qualquer e ela copiou o meu ato. - Você me ajuda em tanto, espero um dia retribuir a você.

- Você é a primeira pessoa que me diz isso. Meus amigos no colegial me chamavam de chata, eu parei de ser assim por um tempo. Fiquei mais reservada, evitava falar... Mas não se pode reprimir quem você realmente é. Uma hora explode! - Ela fez um bico e uma onomatopeia de explosão enquanto gesticulava com as duas mãos. - Você entende, né? Eu simplesmente pensei ''não dá mais'' e voltei a ser eu mesma. Fiquei sozinha, mas não acompanhada de pessoas que não gostam de mim. - Encarou-me profundamente em busca de compreensão.

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