i. ponte

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Kyushu, Cidade em Fukuoka - Japão.

Eu estava em mais um de meus devaneios costumeiros enquanto andava pela cidade com a desculpa de que iria para a biblioteca do centro. Meus pais ─ por incrível que pareça ─ morderam a isca.

Entretanto, o que eu menos queria agora era enfiar minha cara nos livros e fingir que estou ganhando tempo estudando quando na verdade o que eu realmente fazia era rabiscar as páginas com alguns desenhos bobos e sem forma.

Uma vez eu vi na internet que os rabiscos que fazemos quando estamos entediados - ou distraídos - pode dizer muito sobre o que você está sentindo naquele momento. No meu caso, eu desenho círculos; estejam eles unidos entre si ou sozinhos.

Isto pode significar meu sentimento de grupo e meu senso de associação com outras pessoas. Também mostra minha necessidade inconsciente de calor humano e amizade.

Droga, pesquisando sobre rabiscos. Patético.

''Você tem coisas melhores pra fazer e fica pesquisando sobre essas coisas, depois reclama que não entende nada.'' ─ Provavelmente é algo que minha mãe diria.

Fiz uma negação com a cabeça, me repreendendo desses pensamentos.

Por que eu tinha que nascer numa família a qual eu não me encaixo? Poderia ter sido qualquer um no meu lugar, alguém adepto às decisões egoístas...

Mas veio eu.

Bom, acredito que metade da culpa possa ser minha por eu ser tão banana quando se trata de ir contra os meus pais. Eu tenho dezenove anos, ninguém deveria dizer o que eu devo ou não ser além de mim mesma. Mas... Não é tão fácil assim quanto eu queria que fosse.

Chutei algumas folhas secas caídas no chão para afastar os sentimentos de insuficiência. Não entendo como eu posso ser tão ridícula, isto não é vida pra mim.

As folhas secas no chão são como meus pais que já cumpriram sua missão nas árvores da vida e que agora estavam dando espaço para os seus descendentes, as folhinhas verdes e amistosas que estavam nascendo nos galhos (no caso seriam meu irmão e eu) e logo seguiriam os mesmos passos dos seus ancestrais.

Uma das folhas se solta e acaba voando com o vento forte que estava rondando livremente por toda Kyushu naquela tarde. Sortuda.

Que analogia boba, talvez você devesse virar uma escritora, não acha? Ironizei a mim mesma enquanto balançava a cabeça por conta do meu pensamento estúpido.

O local que eu desejava ir era na margem da cidade, onde havia uma ponte que interligava Kyushu e outra região a qual não me recordo o nome, mas sempre estou lá quando quero pensar sobre a vida.

Andar pelas ruas já não era mais um problema pra mim, costumava odiar passear sem a companhia do meu irmão mais velho, mas aos poucos fui percebendo que prefiro ficar entre pessoas que não conheço do que com membros da minha própria família. Não que eu odeie meu irmão, longe de mim agir dessa maneira, ele apenas me repreende por não querer que eu sofra tanto nas mãos dos nossos pais como ele sofreu. Koji foi a primeira vítima, falta apenas um ano para ele se tornar um advogado, acredito que ele será um ótimo profissional, entretanto.

Resumindo: ele basicamente me força a entrar nos eixos.

E é justamente isso que o torna insuportável.

O local começa a se tornar familiar ao meu ver; as barraquinhas de fast food, a vegetação mais extensa e o jeito que as plantas dançavam com o vento era harmonioso. Havia também o mar azul e é claro, a grandiosa ponte. Elementos fundamentais para um fim de tarde tranquilo e prazeroso, pelo menos pra mim.

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