Capítulo 4: Amor entre a escuridão

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Obviamente pedi desculpas mais de uma vez ao gerente, apesar de possuir muitos motivos para ficar irritado com ele, passar esse período no cinema era meu teste para voltar ao caminho certo da vida, parar de me sentir um lixo e trazer um pouco de orgulho a minha família realmente era algo muito bom de se pensar. Voltar ao trabalho foi algo desafiador, tive algumas crises de pânico em casa só de pensar nas palavras da criatura e do filme, mas quando finalmente aprendi a deixar estas coisas de lado, consegui me revigorar e trabalhar sem medo novamente, ou pelo menos não com tanto.

Esse processo de superação durou uma semana, mas se não fosse pela ajuda de Liz, teria demorado muito mais, ela me ligava todos os dias para saber como eu estava, ficávamos horas no telefone conversando sobre coisas diversas. Enquanto ela falava comigo, o homem das pernas longas nem passava pela minha cabeça, ela é realmente algo mágico.

Bom, a primeira semana trabalhando pra valer foi bem normal, eu e Liz sempre íamos almoçar juntos e quando nos encontrávamos andando por aí para limpar alguma sala sempre fazíamos questão de falar nossas piadas internas. Já a situação com o Arthur continuou a mesma, ele era realmente uma pessoa misteriosa e distante, em um dos meus horários de limpar as salas, eu havia acabado de limpar a sala quatro e estava indo para a sala dez. No caminho, acabei escutando um barulho estranho vindo da sala nove, encostei meu rosto na porta para conseguir escutar melhor e ouvi Arthur conversando com alguém, ouvi ele falando coisa como "esse filme já está ficando muito repetitivo, já perdeu a graça" e "para um demônio você até que é bem ruim no que faz, sabia?". Realmente acho que ele estava falando com o homem das pernas longas naquele dia, afinal, ele demorou mais de uma hora para sair da sala, deve ter sido por conta do filme.

Já na saída do cinema, na hora do almoço, iríamos ir juntos para algum restaurante, mas antes resolvi perguntar Liz o que ela sabia sobre Arthur, afinal ela estava lá a mais tempo que eu, provavelmente ela devia saber de algo.

-Olha Levi, sendo sincera aquele cara sempre foi um mistério, foi único da história do cinema que nunca demonstrou uma feição de medo e nem questionou nada imposto a ele. A única coisa que sei sobre ele foi o que eu mesma vi com os meus próprios olhos e fiquei em choque.

-E o que você viu Liz?

-Eu e ele entramos em alguma sala que não lembro ao certo qual, mas ao entrarmos, todos estavam olhando fixamente para nós com um sorriso largo e sombrio em seus rostos. Isso é raro mas pode acontecer, é a regra seis, então teoricamente teríamos que chamar o gerente, mas antes de conseguirmos sair da sala, todos do cinema falaram ao mesmo tempo como se fossem um coral algo que eu não lembro sobre a morte da família dele. Ele em vez se sair correndo e se intimidar, me mandou ir para fora da sala e não chamar o gerente, eu obviamente o questionei, afinal ele estava correndo risco de vida ficando lá sozinho, mas ele me ignorou e praticamente me obrigou a sair da sala e deixá-lo. O obedeci em partes, realmente saí da sala, porém fui direto chamar o gerente, quando voltamos para tentar ajudá-lo, todas as pessoas da sala que antes estavam sorrindo de uma forma bizarra e intimidadora, estavam chorando de medo. Foi bizarro ver mais de trinta pessoas chorando em conjunto enquanto Arthur ficava parado na frente de todos com um sorriso largo em seu rosto, foi a única vez que eu o vi sorrindo, aquilo foi mais assustador do que ver um filme do homem das pernas longas, pode ter certeza.

-Olha, eu já achava esse cara bizarro, agora eu tenho é medo dele.

Parei e fiquei pensativo por poucos segundos até uma ideia vir a minha cabeça.

-Liz, que tal chamarmos ele pra comer com a gente?

-Mas por quê? -Ela disse enquanto dava uma risada de surpresa.

-Quero saber mais sobre ele, talvez assim eu passe a entender algo a mais sobre o cinema.

-Lembra o que eu te disse sobre saber demais?

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