Capítulo 19

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- Você se lembra?

- Sim Harry, mas conversamos depois sobre isso. - Digo seria tentando não demonstrar emoção na frente deles.

Me lembrar dos meses que perdi foi difícil, dolorido e confuso. As dores de cabeça não cessavam e com elas vinham os lapsos de memórias, foi aos poucos e cada vez mais conseguia diferenciar os sonhos reais das memórias perdidas.

Doeu e me confundiu lembrar das palavras doídas de Harry pra mim, comecei a achar que não passava de uma brincadeira de mal gosto que ele estava fazendo depois de tudo.

Mas então eu me peguei pensando em todos os outros que também estavam mentindo como ele. Não deixei minha raiva transparecer, permaneci apenas mostrando minha confusão que não era mentira e mesmo com tudo ficar do lado deles sempre foi bom.

Harry me tratava diferente, antes éramos mais como um caso escondido e agora me trata quase como uma princesa. Suas intenções ficaram martelando na minha mente por que ficou óbvio que ele estava se aproveitando da situação, mas ele nunca me tocava nem nada então não entendia.

Até a noite que lembrei das horas que antecederam o acidente. Suas atitudes, palavras, tentava entender os momentos enciumados, o que ele queria dizer quando falou que me queria, como assim me queria depois de tudo? Então horas depois disso quando estava sã o suficiente disse que não era homem pra mim, que eu deveria ficar com Martino, como assim porra?

Ele me quer ou não me quer, era simples. Até me lembrar que ele não é um cara simples, ele é um homem confuso que vive num mundo de desconfiança compartilhando sorrisos irônicos por onde passava e não se apegava a ninguém.

Mas eu me entreguei a ele novamente, não me aguentei quando esse mesmo homem me fazia rir tarde da noite e tirava um tempo pra mim todos os dias mesmo cansado, não me aguentei com ele mostrando um pedaço dele que não conhecia, o lado carinhoso e atencioso.

Com toda certeza não me arrependo de nada mas aquela pergunta no final me pegou. Eu realmente perdoaria essa mentira? Com esse questionamento passei a entender e olhar tudo com outros olhos e perspectivas conseguindo ver um pouco mais do que todos estavam fazendo.

Me peguei tendo a certeza que sou apaixonada por Harry Trevelyn a muito tempo mesmo com suas atitudes de merda, aqueles olhos azuis me encarando quando ainda dançava na boate na penumbra da noite.

Porém as últimas semanas me trouxeram o total receio de que no final de tudo ele pode só estar brincando comigo o que me doi e não é pouco por que apesar de tudo eu sempre quis amar alguém e ser amada em troca e se isso não for recíproco não sei como ficarei.

Me sinto num fogo cruzado aqui, igual aquelas mulheres que rodam o sutiã no ar dando abertura a corrida entre dois carros velozes.

- Ari.

- Ela já disse que não quer conversar mafioso de merda. - Não suporto mais um falando e outro rebatendo.

- Olha só, cansei. - Falo alto. - Estamos na minha casa, vocês são mafiosos mas eu sou da família não sou? Então abaixa essas armas. E vocês dizem ser meu pai e irmão e sabe-se lá com que merda mexem, então abaixe essas porras também. - Falo irritada. - Vou pro meu quarto e é melhor vocês conversarem, não quero tiros, sequestros ou nada do tipo.

Consigo vislumbrar o olhar quase suplicante de Harry e o orgulhoso da minha atitude de Domenico antes de seguir o corredor encontrando meu quarto e literalmente me escondendo lá dentro. Essa vida não é pra mim, meu coração está batendo num ritmo alucinante e tento respirar fundo mesmo sendo dificuldade.

Consegui manter a expressão neutra na sala apenas por ter a aprendido durante meu tempo de dançarina, era isso ou todos aquele olhares de homens asquerosos iriam me corroer pelo resto da vida.

Minha vida está pior do que aqueles filmes que cada minuto uma coisa diferente acontece e no final a gente não entende nada sobre a história.

Informações vem sendo jogadas contra mim e quando não é isso é meu cérebro brincando comigo, não sei se rio, choro, me alegro ou entristeço de vez.

●●●

Palavras altas me fizeram ligar um música qualquer no celular e cantarolar como se nada tivesse acontecendo por que escutar esse papo entre eles seria uma merda pra mim.

Me assusto ao ver a porta se abrir e ninguém mais ninguém menos que Liam passar por ela. Esperava todos menos ele, não que ele seja mal ou algo do tipo, quer dizer, ele é, porém não comigo, mas por ter uma ligação maior com Vic do que comigo, já eu conquistei isso mais com Dimitri com o passar do tempo.

- Como você está? - Questiona com as mãos no bolso e apenas me olhando naquela mesma expressão de sempre onde nunca consigo entender direito o que se passa em sua cabeça.

- Confusa por ter descoberto um pai e irmão, deslocada tentando entender por que todos mentiram pra mim e principalmente com medo de saber o que tudo isso foi pro seu irmão. - Desabafo.

O que? Ele pode não ser meu melhor amigo mas sei que é um ótimo ouvinte e conselheiro.

- Entendo. - Diz simplesmente. - Não vamos te deixar ir com eles sem ter certeza sobre tudo que disseram, mas entendo sua curiosidade sobre uma parte da família que não fazia ideia que existia. Agora basta saber quais dos três questionamentos da sua cabeça você quer entender primeiro.

- Você acha que é verdade? - Ele da de ombros.

- Vi muita coisa pra entender que as pessoas são ardilosa e confiar em todos não faz parte do nosso mundo, precisamos sempre estar com um pé atrás, mas.. vamos descobrir se é realmente verdade.

Desvio o olhar prendendo o cabelo num coque usando os próprios fios como se isso fizesse minha mente pensar melhor. Ele tem razão, não posso confiar em dois homens que surgiram assim do nada e os Trevelyn tem tomado conta de mim por muito tempo, são minha família e merecem a dúvida do por que mentiram.

- Vamos pra casa. - Afirmo e ele assente apenas me esperando para prosseguimos de volta a sala onde agora estão apenas Fabrizio e Harry, não faço idéia onde Domenico e Dimitri se encontram e nem quero saber.

- Ariane, nós precisamos conversar. - Afirma assim que me vê e asseno.

- Vamos pra casa então conversamos.

- Mas Ariane, você.. - O interrompo.

- Fabrizio, se tudo isso for verdade ficarei feliz por ter conhecido vocês a tempo mas até lá os Trevelyn são minha família e me protegem.

Percebo que ele abre a boca pra rebater ainda sério mas nega com a cabeça vindo em minha direção e apoiando a mão em meu ombro.

- Nós somos sua família. - Afirma me olhando como se quisesse transparecer tudo com um único olhar. - Mas eu entendo que precisa de espaço, conversamos depois.

Deixa um beijo casto em minha testa antes de sair me deixando apenas com o vislumbre de suas costas me fazendo voltar o olhar pro outro elefante branco presente na minha vida.

- Vamos pra casa e acho que uma conversa longa nos espera.

Harry - Trilogia Irmãos Trevelyn 2Onde histórias criam vida. Descubra agora