•19• Paripūrṇa vyakti

181 26 44
                                    

O capítulo tá bem grandinho, e com o clima um pouco parado, mas é importante pra história e mesmo assim eu amei muito escrever. Espero que vocês gostem de ler tbm!

Boa leitura e até a nota final 💜💜
➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳ ➳


Jungkook

"A dor é uma reação afetiva a uma perda. Trata-se sempre da perda de uma unidade, seja na dor física, em que se perdem a harmonia e a integração equilibrada das diferentes partes do corpo, ou na dor psíquica, em que a perda diz respeito a um ente querido. A dor é uma reação afetiva a uma perda brutal e violenta de uma parte que prezamos e da qual nossa unidade depende. Para falar de dor, é preciso que haja uma perda, a perda violenta e imprevista de uma unidade. Se a perda não é brutal, não falo de dor, mas de sofrimento. Para mim, a dor está ligada ao tempo, à imediatez, ao imprevisto." — J.-D.Nasio "A Dor Física"

Meses atrás, a lembrança daquele parágrafo, de um dos incontáveis livros da biblioteca em que Jimin trabalhava, ficara em minha mente por semanas. Não lembro o que me motivou a pega-lo ou que coincidência do destino teria me feito abrir justamente naquela página. Mas o jeito como explicou tão objetivo, tão limpo, o sentimento de perder alguém, prendeu as palavras em mim, finalmente entendendo um pouco mais o que eu sentir na primeira vez que perdi um dos meus pais.

Perder minha mãe foi como perder uma perna. Quando ela se foi tivemos que nos adaptar, meu pai teve que reaprender a cuidar de mim e eu tive que reaprender a ser filho. Tivemos que reinventar uma rotina, uma vida. Como se eu tivesse reaprendendo a andar, achando um novo equilíbrio em meu corpo. Vivendo uma nova vida, sem aquele pedaço. E doía aprender tudo de novo, recomeçar.

Mas apenas quando meu pai se foi eu realmente entendi o que ele quis dizer sobre a diferença de dor e sofrimento. A perda brutal e a prevista.

Eu sofri vendo minha mãe adoecer mais e mais a cada dia que passava, sofri ao ver nossas vidas se mudando aos poucos, se preparando para sua partida. Já com o meu pai era como se eu tivesse o perdido naquela cozinha, nos meus braços. Não teve aviso prévio, não teve despedida. Ele foi tirando de mim de forma violenta, repentina. E todos os outros dias no hospital foram batalhas perdidas, por mais que eu não conseguisse admitir, não era mais meu pai deitado naquela cama, era apenas o seu corpo lutando em vão.

Nunca conseguiria medir e lhes falar o que doeu mais, nunca. Mas eu finalmente entendi a diferença entre sofrimento e dor. E como podiam vim em sequências diferentes.

Eu teria que aprender a viver de novo, pela segunda vez. Não fazia ideia de como faria aquilo, não fazia ideia de como buscar meu equilíbrio. Eu precisava deles.

Todos os dias depois que o médico informou a mim e a tia Chunja que meu pai partira foram um grande borrão. Acho que eram tantos sentimentos, tanta dor, que me cegaram, fizeram minha cabeça simplesmente desligar e não pensar sobre absolutamente nada do que acontecia.

E assim se fizeram os fleshs daquele mês, os abraços de meus amigos, o choro de minha tia, o terno em meu corpo, as flores, o cachão, lágrimas e condolências de pessoas que eu nunca vira na vida.

Lembro de Seokjin se oferecendo para me tirar dali, me levar pra casa. Não lembro o que mais disse, o que eu respondi ou como aceitei, mas fui, agarrando a única chance que tive de fugir daquilo. E lembro de ver Jimin e sua mãe, um ao lado do outro, entrando ao mesmo tempo em que eu saia. Nossos olhos se encontram por alguns segundos, mas logo os desvio, apressando meu passo para que não desmorone na frente de todas aquelas pessoas.

Quando Jin abre o carro e eu me sento em seu banco de passageiro, fecho a porta e as lágrimas caem sem comando. Acho que foram as primeiras lágrimas daquele dia, e Jin a primeira pessoa a realmente me confortar, me colocando dentro de um abraço protetor, em silêncio. Taehyung entra no carro minutos depois, pronto para ir embora, quando meu choro já estava diminuindo. Também não falara nada, ou fizera perguntas. Agradeço mentalmente.

Fuja Para As Estrelas ||| Jjk + Pjm Onde histórias criam vida. Descubra agora