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° Aviso °

Esse capítulo pode conter gatilhos por conta de uma cena descrevendo ataques homofóbicos verbais e físicos. Acredito que escrevi de forma responsável, mas se em algum momento durante a leitura algo estiver te fazendo mal, por favor pare.

Esse emoji 🛑 vai aparecer antes da cena citada a cima, para que fiquem mais atentos.

Espero que gostem da leitura, até as notas finais💜

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Jungkook
Março, 2008

Eu me olhava no espelho em silêncio. Aqueles últimos meses me mudaram muito, tanto física como psicologicamente, mas eu finalmente conseguia me olhar no espelho sem pensar tantas coisas ruins sobre mim mesmo.

Tinha cortado meu cabelo pouco depois que decidi me esforçar a trazer tudo, ou o que eu ainda podia, para o normal. E vejam bem, quando eu digo isso não quero que imaginem que eu levantei da cama, fiz as pazes com Jimin, comecei a arrumar minha vida e de repente estava feliz. Como se o que estivesse me mantendo naquele quarto por tantos dias fosse apenas falta de vontade.

Fazer o que eu estava fazendo agora foi uma das coisas mais difíceis da minha vida. Passar pelo luto de um pai novamente foi uma das maiores dores da minha vida. E eu lutei todos os dias para sair daquela cama, mesmo que para alguns talvez não parecesse, mesmo que em alguns momentos até eu duvidava, pensando em mim como uma das pessoas mais fracas que já tinha conhecido.

Agora consigo ver com um pouco mais de clareza o quanto estava errado ao pensar aquilo sobre mim. Foi uma luta contra mim mesmo, contra partes diferentes de meu cérebro que batalhavam todos os dias sobre as coisas mais simples até as mais complicadas de minha vida.

Foi difícil, mas eu conseguir voltar a me permitir ter pessoas que me faziam bem por perto. Me permitir ficar dentro do abraço de Jimin, conversar com minha tia, ir até quem podia me ajudar. E a cada pequeno passo daqueles eu ia juntando mais força, me erguendo aos pouquinhos.

Tive milhões de recaídas, muitas que aquelas pessoas me ajudaram, mas várias que guardei só para mim. Ainda estava trabalhando em deixar que outros me vissem em estado vulnerável, mas aguentei e fui levando dia após dia, minuto após minuto.

E agora eu estava em pé de frente para meu espelho, com o cabelo cortado mostrando uma nova fase, braços com mais tatuagens, mostrando a volta pela busca de meus sonhos, e meu corpo ganhando aos poucos a massa que perdeu, voltando a ficar saudável. Eu estava voltando a mim.

Botei mais um casaco por cima da roupa e respirei fundo, virando para minha bancada de estudos e colocando dois livros, a pequena caixa delicadamente embalada junto da folha bem protegida, dentro da mochila. Espero que ele goste, penso.

Quando saio do quarto com a bolsa nas costas, paro encarando a porta no final do corredor. O quarto de meu pai. Nem eu nem minha tia tivemos coragem de entrar ali, de ver suas coisas, de as tirar do lugar onde ele deixara.

Fecho os olhos e tento não pensar naquilo, não naquele dia. E no mesmo momento que fecho meu quarto, deixando aqueles pensamentos longe, a minha tia sai do seu, que antes era de hóspede, e sorri em minha direção.

Fuja Para As Estrelas ||| Jjk + Pjm Onde histórias criam vida. Descubra agora