•2• Kotta sārlu

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Jungkook (16 anos)
A caminho de Gwangju, Janeiro 2007

Porque crianças tem medo do escuro?

Mesmo de olhos fechados consigo perceber a luz batendo no meu rosto e depois indo embora, de novo e de novo.

Já tinha dormido bastante, mas a preguiça me dominava, fazendo meu corpo querer retomar meu sono de minutos atrás.

Eu vibro junto com o movimento do carro e me percebo perdido entre lembranças e pensamentos.

Porque naquela época eu pedia pra dormir na cama dos meus pais toda noite?

Abro os olhos e vejo pela janela a paisagem preenchida de tons rosas e laranjas, passando rápido a medida que avançamos pela estrada.

Escuto o assobio do meu pai acompanhando a música e apoio a cabeça no vidro da janela.

Até que momento da vida é permitido pedir backup quando a mão treme e o coração bate rápido?

Será que essa regra só vale quando se tem medo de monstros em baixo da cama?

Olho pro meu pai lembrando dele me abraçando de noite entre seu corpo e o de minha mãe.

Vejo seu cabelo balançar com o vento, um braço na janela apoiando sua cabeça e o outro no volante, com a mente mais longe do que seu olhar.

O seu sorriso era mínimo, mas me trazia uma certa paz, mesmo que estivesse no mesmo rosto de suas rugas acumuladas com o tempo e seus olhos cansados, que eu sabia que iam muito além de uma noite dirigindo.

Até quando os nossos medos podem ser irracionais?

Ele pega o café que está apoiado entre os bancos e depois de beber um gole olha pra mim. Levanta as sombrancelhas por me ver acordado o encarando, e seu sorriso aumenta um pouco.

— Bom dia. — Da uma risadinha e devolve o café para o apoio — Falta uns trinta minutos ainda, se quiser continuar dormindo, eu te chamo quando a gente chegar.

Quais medos vem depois de o escuro virar só um detalhe?

— Não, acho que já dormi muito.  Vou te fazer companhia. — Respondo ainda sonolento, bocejando enquanto falo e aumento o som do rádio — Adoro essa música.

Ele ri baixinho e cantarola um pouco, voltando a olhar pra estrada, enquanto "I don't want to miss a thing" do Aerosmith tocava no rádio.

— Sua mãe amava. — Ele fala, com a nostalgia dançando entre cada sílaba.

Balanço a cabeça concordando lentamente enquanto tento ignorar meu coração apertando. Ainda lembrava dela dançando e cantando essa música no meio da nossa sala. Era como se puxasse toda a luz do mundo só pra ela. Lembro de só conseguir pensar em como ela era a mulher mais linda do mundo.

Aquela era uma das poucas lembranças boas que ficaram vivas em minha mente. Por mais que me doesse muito adimitir, mesmo vivendo toda minha infância com minha mãe, todas as lembranças dela doente vinham mais fortes e com mais frequência.

Eu queria conseguir lembra mais dela dançando, das nossas viagens, da nossa vida em Gwangju. Queria lembrar mais dela antes de tudo começar a desmoronar. Do seu sorriso sem mágoa ou dor por trás.

Mas sempre que eu tentava, as primeiras coisas que vinham era seu quarto em Seul, seus aparelhos, a sala de hospital, seu olhos em mim acompanhando meu choro. Lembro do desejo que sua mão fosse mais quente, toda vez que estava sob a minha.

Fuja Para As Estrelas ||| Jjk + Pjm Onde histórias criam vida. Descubra agora