Capítulo 5

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O resto da semana passou rapidamente, e sem que Lilian aparecesse na escola, o que fez quase todos perguntarem o que havia acontecido com a garota. No final da sexta-feira, uma das coordenadoras da escola entregou uma pasta com anotações dos professores à Gabriel para que ele entregasse à Lilian, já que foi dito que ele era seu único amigo. E, curioso para saber o que se passava com a garota, ele não pensou duas vezes para aceitar.

Assim que saiu da escola, seguiu para a casa da garota, torcendo para que estivesse sozinha e não tivesse que encarar seus pais. Ao chegar, ele bateu na porta e esperou alguns minutos, observando como o dia estava bonito em relação ao resto da semana, estava nublado, porém não tão frio como antes.

Gabriel esperou mais alguns segundos e bateu na porta novamente, esperou, bateu de novo.

– Lilian – Ele se apoiou na porta – Sou eu, Gabriel. – Ele bateu os dedos na porta, tocando alguma música – Eu sei que está aí.

Esperou mais um pouco, e logo desistiu.

– Estou indo embora. – Não passou um minuto para que a porta se abrisse, revelando uma Lilian que parecia mais pálida do que antes vestida com um moletom preto que ficava enorme em seu corpo pequeno e uma calça de flanela.

– O que você quer? – Disse ela num tom cansado.

– Vim trazer umas anotações dos professores, você faltou praticamente a semana toda e eles estão preocupados. – Gabriel levantou a pasta em sua mão

Lilian olhou para o chão, passou a mão nos cabelos desarrumados e depois esfregou os olhos, o que indicou que ela estava dormindo.

– Quer entrar?

– Claro – Sorriu o garoto e entrou assim que Lilian lhe deu passagem.

Assim que entrou, percebeu-se na sala com mobília escura, a casa era demasiado bonita, mas escura demais.

– Sente-se – Apontou Lilian para um sofá de couro preto – Quer ligar a televisão? – Ela estendeu o controle para Gabriel, que recusou e se sentou no sofá.

Lilian pegou a pasta que Gabriel a ofereceu e folheou algumas páginas, mas logo jogou em cima da mesinha de centro.

– Por que faltou?

Lilian suspirou e logo mudou de assunto

– Quer comer algo, Gabriel?

– Não – Respondeu ele, observando o quão diferente a garota era em sua casa, ela falava, se mexia, bem, parecia viva – Onde estão seus pais?

Ela olhou para o chão novamente e relaxou a postura antes de se sentar na poltrona ao lado do sofá.

– Meus pais morreram

– Sério? – “Idiota”, pensou Gabriel – Quer dizer...

– Na verdade, meu pai eu não conheço, e minha mãe morreu há alguns anos.

– Desculpe, eu não deveria ter tocado no assunto

– Tudo bem – Disse ela, novamente em um tom baixo

– Mas – Ele olhou em volta – Você mora sozinha?

– Quem me dera – Ela soltou uma risada tímida, que logo desapareceu – Moro com meu padrasto

– Ele está trabalhando?

– É, acho que sim – Lilian encarou um relógio na parede - Mas hoje é sexta, então ele chegará tarde.

– Por que?

– Provavelmente vai se divertir com alguma vadia por aí, mas gosto disso, pelo menos posso ficar em paz. – Respondeu sem emoção alguma, enquanto ainda fitava o relógio

Gabriel encarava Lilian por um bom tempo antes de soltar uma risada, que fez Lilian o encarar de volta, fazendo o silêncio reinar entre os dois por alguns segundos.

– Você não precisa ir para casa? – Perguntou a garota

– Minha mãe está trabalhando

– E seu pai? – Ironizou ela, tentando imitar o tom em que ele perguntou por seus pais

Ele riu

– Meus pais se separaram há pouco tempo, e logo minha mãe recebeu uma promoção no trabalho que a fez mudar para cá, foi bom para ela até.

– Legal

– Pois é – Ele encarou o chão de madeira, procurando por um assunto – Você tem irmãos?

– Não, e você?

– Tenho um, mas ele já tem sua vida formada em Londres.

Ela balançou a cabeça afirmativamente e levantou-se, seguindo para o final do corredor

– Aonde você vai? – Perguntou Gabriel, mas não obteve resposta.

Lilian voltou rapidamente e jogou um pacote de salgadinhos em cima de Gabriel

– Ah, valeu – Ele riu, abriu o pacote e ofereceu para Lilian – Faz muito tempo que mora aqui?

– Sim – Disse ela enquanto comia um dos salgadinhos que pegou – Acho que desde sempre

– E sempre estudou no mesmo lugar?

– Sim também, por quê?

– Então, você nunca teve amigos? – Sua curiosidade era maior que sua ética

Lilian apoiou a cabeça com a mão no braço da poltrona e colocou mais alguns salgadinhos na boca.

Após engolir, encarou Gabriel por alguns segundos, o suficiente para ele perceber seus olhos castanhos e sua expressão cansada.

– Pare de ser tão curioso, será que não percebeu que não confio em você à ponto de lhe contar sobre minha vida toda? – Respondeu ela com frieza.

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