Capítulo 7

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Lilian entrou em casa e trancou sua porta, estava faminta. Dirigiu-se para a cozinha e descongelou uma lasanha pronta no forno, enquanto esperava, buscou seu celular e, por mais que odiasse fazer isso, esperou uma mensagem de Gabriel.

Foi acordada de seus pensamentos com o cheiro sedutor da lasanha que ficara pronta, retirou-a do forno e comeu na própria fôrma de plástico.

“Por que ele insiste tanto?” Ela colocava o último pedaço da lasanha na boca enquanto pensava “Talvez eu devesse deixar esse meu medo de lado e dar uma chance a ele” Lilian sorriu ao último pensamento, mas logo castigou-se por isso e voltou à vida real. Lavou a louça suja que seu padrasto havia deixado antes de sair de casa e limpou o chão, pegou o celular e surpreendeu-se ao senti-lo vibrar com uma mensagem no WhatsApp de número desconhecido

“Bem, finalmente esse aplicativo vai servir para conversar com alguém que eu conheça na vida real” Ela desbloqueou seu celular e abriu a mensagem, um “Oi Lili J de Gabriel, torceu a boca em desgosto ao ler “Lili”, mas respondeu mesmo assim.

“Oi” Sentou-se na cadeira e enviou

“Tudo bem?”

“Tudo, e com você?”

“Tudo. Coloca uma foto sua”

Lilian apoiou a cabeça com a mão na mesa, ela não era nem um pouco fotogênica, e nem queria tentar ser.

“Não quero” Respondeu

O assunto parecia mais fácil de rolar por mensagem, já que eles não precisavam se ver pessoalmente. Passaram cerca de duas ou três horas conversando, e Lilian, surpreendentemente achou isso divertido.

“Vou sair e ajeitar minhas coisas, tchau” Se Lilian não se despedisse agora, provavelmente não conseguiria arrumar a casa e fazer suas coisas.

A garota subiu as escadas para seu quarto e o jogou em cima da cama. O quarto era bastante simples, havia uma cama de solteiro, um guarda-roupa de madeira bem escura e um raque com uma televisão e alguns enfeites, havia uma porta que dava para sua suíte, também simples. Ela retirou suas roupas com preguiça, revelando seu corpo magro e algumas cicatrizes e hematomas em seus braços e costas, pegou roupas limpas e correu para o chuveiro.

Lilian não costumava demorar muito no banho, mas dessa vez foi diferente, permitiu-se até mesmo sentar-se no chão e perder-se em pensamentos, deixando a água escorrer por suas costas marcadas. Não queria sair dali, mas também não queria ouvir que as contas aumentaram por sua culpa, então desligou o chuveiro, enrolou-se na toalha e saiu. Colocou o mesmo moletom surrado de antes, era seu único pijama para o frio, apenas trocou de calça e roupa íntima. Sentou-se na cama e fechou a porta, encontrando seu espelho pendurado. Estava cansada demais para secar os cabelos, mas o fez mesmo assim, demorou um pouco para que ele estivesse completamente seco. O enrolou num coque e saiu do quarto, seguindo para a cozinha, imaginando se deveria ou não fazer a janta de seu padrasto, como estava com fome, acabou fazendo um pouco de arroz e fritando um bife de carne que estava na geladeira.

Pegou um pouco da comida e deixou as panelas em cima do fogão, quando ele chegasse bastava aquecer a comida, embora ela não tivesse a certeza de que ele chegaria cedo, afinal, é sexta. Comeu e subiu para o seu quarto novamente, soltou os cabelos e deitou-se na cama para passar as anotações para o caderno, quando acabou, não demorou muito para que adormecesse.

✽✽✽

Acordou com o barulho da porta e algumas risadas, o celular marcava exatamente 04h30min da madrugada, ela bufou e cobriu a cabeça, a fim de abafar o som e voltar a dormir, mas não obteve sucesso.

Levantou-se e desceu as escadas, encontrando seu padrasto sustentando uma garota aparentemente bem mais nova que ele bêbada. Lilian fitou os dois por algum tempo, até ouvir seu padrasto reclamar um “O que foi?”.

– Ah – Ela passou a mão pelos olhos, tentando afastar o sono – Eu fiz o jantar, mas acho que não tem comida suficiente para... Para ela – Lilian apontou para a mulher

Ela tem nome – O cheiro de álcool invadiu o ar, fazendo Lilian querer vomitar.

– E, qual o nome dela?

Eles permaneceram em silêncio por meio minuto, até a mulher começar a rir.

– Qual seu nome, meu doce? – Perguntou o padrasto

– Marina – Ela continuou a rir – Não acredito que não sabe meu nome, Alexandre!

Lilian continuou encarando os dois, agora rindo feito idiotas.

A mulher se soltou de Alexandre e cambaleou um pouco para o lado enquanto caminhava em direção à Lilian, ainda rindo e murmurando alguns “Êpas!” e “Ôpas!” pelo caminho, nem tão grande assim. Ela pousou a mão no rosto da garota e sorriu, seu hálito incomodava Lilian.

– Está tudo bem, querida – Ela acariciou o rosto em suas mão com o polegar – Não estou com fome.

Lilian recuou para trás, quase tropeçando na escada, e murmurou um “Certo”.

Alexandre guiou Marina para a cozinha, e antes que Lilian pudesse subir para o quarto, gritou:

– Ei, não pense que vai dormir, essa casa está uma bagunça, e a louça não se lava sozinha!

– São quatro e meia da manhã! – Lilian protestou

O homem encostou Marina na parede e puxou Lilian pelo braço, apertando-a.

– Não me conteste. – Ele trincou os dentes – Não pense que sou como sua mãe, que a deixava ficar à toa!

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