Capítulo 21

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– Certo, comece. – Ele a envolveu com os braços, tentando confortá-la.

– Acho que todo meu inferno pessoal começou quando minha mãe morreu. Eu não conheci meu pai, não sei se ele morreu ou nos abandonou, minha mãe sempre evitava esse assunto, então tive que viver com meu padrasto. – Ela suspirou – Fiquei muito mal com a morte dela, muito mesmo, e Alexandre, bem, ele não se importava nem um pouco, ele virou um verdadeiro ditador e um cafajeste assumido depois que ela se foi.

– Sinto muito – Ele a apertou contra seu corpo – Essa parte... Bem, eu já a conhecia.

– Acredita que eu era bastante popular até a sétima série? – Lilian continuou, parecendo nem ao menos ter ouvido o garoto – Depois do ocorrido com minha mãe, fiquei umas duas semanas sem ir à aula. Quando voltei todos estavam preocupados, todos! – Ela deu uma risadinha – Imagine só, preocupados comigo! Bem, eu estava muito, muito mal mesmo, e acabei me afastando de todos, o que fez todos ficarem nervosos comigo, especialmente Catarina, que na época era minha melhor amiga. A única pessoa que continuou do meu lado era Tomas – Sua voz abaixava um pouco mais a cada palavra – O que deixou Catarina totalmente furiosa, ela amava Tomas, e olhe só, ele amava a mim!

Gabriel se lembrava do que Catarina havia dito. Então era realmente verdade que elas eram amigas. Ele continuou ouvindo, atentamente.

– Então – Continuou ela – Catarina se mostrou uma verdadeira maldita. Quando eu estava melhorando, ela afastou completamente todo mundo de mim e inventou coisas horríveis, e daquela vez, eu não tinha mais Tomas para me apoiar.

– Ele se mudou?

– Mudou de escola – Suspirou – Então, todo mundo passou a me odiar. Catarina estragou, estragou boa parte da minha vida. Sei que também não estou certa em me afastar de todo mundo, mas o que ela fez foi horrível. Eu confiava tanto nela, mas tanto...

– Você não tem culpa, Lilian. Você estava em depressão, e não afastou as pessoas porque quis. – Gabriel forçou um sorriso.

– Foi por causa dela que fiquei sozinha, por causa dela eu tenho essa maldita depressão até hoje. Não basta ela afastar todos de mim, ela tem que continuar me provocando com isso. Já não basta o que eu passo em casa? Isso já não basta? – Lilian sustentou seu rosto com as duas mãos, estava arfando, provavelmente segurando um choro.

Gabriel não fazia ideia de como reagir. Ele já imaginava boa parte disso, mas não imaginava o quão má Catarina fora.

– Ah, Lilian. Está tudo bem, eu estou com você – Disse ele num tom confortante – Eu nunca vou te deixar só, nunca.

– Preciso que me prometa algo também, Gabriel. – Ela tombou a cabeça para trás e manteve o olhar no céu

– Qualquer coisa – Disse trêmulo, com medo do que ela poderia pedir.

– Prometa – Lilian fez uma pausa – Prometa que não ficará preso a mim.

– Como assim?

– Sabe, se algum dia nos acontecer algo, eu quero que você viva normalmente, espalhando sorrisos verdadeiros por aí, como sempre. Por favor, Gabriel, prometa.

Gabriel a fitou, um pouco assustado. Abriu a boca e começou a gaguejar algo, mas desistiu e apenas concordou.

– Eu prometo, Lilian. E também quero que prometa que você vai ficar bem. – Ele sorriu

– Prometo. Tudo vai ficar bem. – Um sorriso triste se formou no rosto de Lilian.

“Céus, mas que expressão é essa?” Gabriel desviou o olhar de Lilian, pode parecer idiotice, mas se continuasse a olhando com aquele sorriso quebrado iria começar a chorar junto dela, e ele não podia ser um fraco, não agora.

Sentia que sua única função era cuidar de Lilian, sem se importar com suas próprias feridas. Ficou pensando o que ela queria dizer com o “se nos acontecer algo”, é claro que nada dura para sempre, mas não conseguia se imaginar vivendo sem ela. Só de pensar nisso, seu coração doía. Ele já gostara de alguém antes, mas com Lilian era diferente, ela se tornara totalmente importante e essencial em sua vida em pouquíssimo tempo.

– Gabriel – Ela o despertou de seus pensamentos

– Ah, sim?

– Eu amo você. – Disse num tom baixinho, tão baixo que ele podia pensar que ela estava chorando. – Muito, muito.

– Você não faz ideia de quanto eu esperei ouvir isso de você – Gabriel deu um sorriso bobo – Eu também te amo, demais.

– Eu preciso ir embora – Ela olhou para o relógio de pulso – Tchau, Gabriel.

– Eu te levo até sua casa, pode deixar. – Ele se levantou.

– Não! – Lilian pulou na frente dele – Não precisa, eu vou sozinha, pode deixar.

– Oh, tá. – Ele a puxou para perto – Posso beijá-la? – Riu

– Não, bobo. – Ela se afastou. – Até.

– Posso passar lá amanhã?

– Não. – Ela começou sua caminhada. – E novamente, até.

– Até segunda. – Ele acenou, com um sorriso largo no rosto.

✽✽✽

Gabriel acordou com o sol em seu rosto, ainda faltava alguns minutos para que seu despertador tocasse, mas ele levantou mesmo assim e foi até a janela.

“Que milagre.” Era raro um dia amanhecer assim, tão ensolarado.

Arrumou-se rapidamente e desceu as escadas para encontrar sua mãe.

– Acordou cedo – Comentou a mãe e deu um gole em seu café. – O dia está lindo hoje.

– Eu vi. – Gabriel andava de um lado para o outro, estava ansioso. Ansioso para encontrar Lilian.

Ao chegar à escola, encontrou os corredores em silêncio.

“Outro milagre.” Ele deu um sorriso curto.

Procurou por Lilian mas não a encontrou, nem mesmo quando o sinal bateu e todos foram para a classe. Catarina foi a última a entrar na classe e andou até a mesa de Gabriel de um modo desconfortável e sem seu típico sorriso no rosto.

– Oi – Disse ela num tom baixo.

– Oi – Ele forçou um sorriso – Você viu a Lilian? Já que chegou atrasada pode ter visto e

– Você não soube? – Catarina o interrompeu.

– Soube de quê?

Catarina respirou fundo e sentiu seus olhos encherem de lágrimas, mas não permitiu que elas rolassem.

– Jamais imaginei que logo você seria o último a saber. – Ela tentou dizer num tom humorado, mas sua voz falhou.

– Pare de enrolar, Catarina. Diga o que houve.

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