Capítulo 18

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– Céus, Gabriel – Reclamou Lilian – Eu mal me incomodei quando Alice disse aquelas besteiras para mim!

– Você simplesmente saiu sem se despedir de ninguém, como se isso fosse muito educado. – Retrucou com uma voz pomposa, sem perder a pose.

– Tomas nem disse nada demais, já aquela garota... – Lilian trincou os dentes. Às vezes Gabriel podia ser bem ignorante.

– Fala sério, viu o jeito que ele te olhava? Se ele pudesse, te devoraria ali mesmo.

Lilian revirou os olhos e relaxou a postura enquanto andava, queria chegar em casa logo, não gostava de discutir.

– Que cara é essa, Lilian? – Se colocou na frente da garota e tornou seu tom de voz mais baixo e profundo – Eu só estou cuidando do que é meu. – Ele sorriu

– Você é maluco – Ela bufou e desviou o olhar

– Maluco, eu? Ora, por quê?

– Por gostar de mim – Respondeu numa voz fraca.

Gabriel riu e a impediu de continuar seu caminho.

– Eu não só gosto de você – Continuou – Eu amo você, Lili.

Gabriel segurou o rosto da menina, a fazendo olhar para ele. Adorava a ver corada, era ótimo ver uma cor no rosto pálido dela, e melhor ainda era saber que era ele que a fazia assim.

– Lilian – Ele se aproximou mais do rosto da garota – Quero que diga que me ama.

– O quê? – Ela se estarreceu e puxou o rosto para trás numa tentativa falha de se soltar do garoto – Não vou dizer nada.

– Eu já disse, agora é sua vez – Ele sorriu – Não é tão difícil, apenas diga “Eu te amo”

– Me solta – Ela voltou o olhar para o chão – Está me machucando.

Gabriel tirou as mãos do rosto da garota e soltou um suspiro impaciente. Virou-se para seguir o caminho, mas ao invés disso ficou apenas parado, com Lilian o fitando. Colocou as mãos nos bolsos da jaqueta e voltou o olhar para o céu.

Lilian não fazia idéia do que fazer, não podia simplesmente voltar para casa e deixá-lo lá, depois de tudo isso. Ela se importava, ela realmente se importava com ele, mas não queria ser obrigada à dizer algo assim. Um “eu te amo” não pode ser simplesmente jogado ao vento sem significado algum. Quer dizer, naquele momento, se ela dissesse não teria significado, mas em outro, talvez.

– Por que é tão difícil para você admitir? – Gabriel arrastou o pé e abaixou a cabeça.

– Me desculpe – Respondeu ela numa voz fraquinha – Me desculpe mesmo.

Ele balançou a cabeça e voltou para perto da pequena, novamente com um sorriso no rosto. Gabriel era o tipo de pessoa que apesar de toda birra e manha de Lilian sempre a tentava entender e a recebia com um sorriso no rosto.

– Tudo bem – Ele fez um gesto para que continuassem o caminho – Eu vou esperar até que se apaixone por mim.

Lilian curvou os cantos da boca, formando um pequenino sorriso que desapareceu em segundos, porém isso já era o suficiente para que Gabriel se sentisse feliz.

✽✽✽

“Obrigada por mais um dia.” Orou ela em seus pensamentos.

Lilian nunca foi uma pessoa religiosa, mas ultimamente têm agradecido por ter sobrevivido à mais um dia todas as noites. Com tudo que estava acontecendo, ela precisa acreditar em uma força superior que colocou Gabriel em seu caminho.

“Isso é ridículo.” Riu ela. Mas mesmo assim, conhecer Gabriel foi a melhor coisa que aconteceu à ela em anos.

Deitou-se na cama e perdeu-se em pensamentos, quando despertou deles, percebeu estar afundada novamente naqueles pensamentos torturantes que envolviam sua mãe, seu padrasto e toda sua vida escolar. Céus, toda noite era a mesma coisa, sempre se torturando psicologicamente com essas malditas lembranças. Afundou a cabeça no travesseiro e chorou baixinho até adormecer, algo que já havia virado costume.

✽✽✽

Lilian chegou à escola um pouco mais cedo do que o normal e passou pelos corredores procurando por Gabriel.

– Procurando algo? – Catarina parou na frente da garota

Lilian estremeceu e evitou trocar olhares com Catarina, se fizesse isso com certeza as duas iriam discutir.

– Acho que ela não ouviu – Bia forçou um sorriso amarelo – Ei, depressão, volte para nosso mundo. – Ironizou

– Beatriz – Leandro pousou a mão na testa – Menos.

– Eu nem falei nada demais – Bia fez um biquinho e puxou sua calça para cima a fim de esconder um pouco de gordura.

– Com licença – Lilian se esquivou do grupo, e agora sentia que a escola toda a olhava. Isso era exagero, claro, mas algumas pessoas haviam parado para observar a discussão.

– Aquela gordinha e a girafa são um saco, né? – Riu uma voz feminina atrás dela.

Lilian se assustou e virou-se, encontrando uma garota de cabelos curtos e castanhos, um pouco mais alta que ela.

– É, são sim – Lilian se limitou à isso e continuou o caminho, mas foi seguida pela garota.

– Me chamo Lorena – Ela sorriu – E você?

– Lilian.

– Legal – A garota fez uma pequena comemoração – Eu sempre quis falar com você

– Oi? – Lilian a fitou confusa e segurou uma risada.

– É que me faltava coragem – Ela prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha - Bem, eu queria montar um grêmio, mas os professores só me deixaram chamar alunos com notas boas – Ela respirou e continuou – E no primeiro ano não tem muita gente boa, então fui procurar no segundo ano e ta-da! Encontrei você! Quer fazer parte do grêmio?

Lilian ajeitou a postura e reprimiu o riso

– Não, não quero.

– Ah, Lilian! Por favor – Lorena cruzou os braços e fez uma cara de choro – Por favor!

– Eu não quero. E isso não vai dar certo, desista.

– Bem que me avisaram que você era uma chata, poxa.

– Sim, sou. – Lilian passou na frente da garota – Agora, me deixe em paz.

– Coitada da garotinha, Lilian – Gabriel sorriu

– Bom dia para você também – Lilian estreitou o olhar.

– Vejo que acordou de mau humor – Gabriel suspirou – Oi, Lorena.

– Gabriel – Lorena pulou para perto dele e passou o braço em volta da cintura do garoto – Convença Lilian à entrar!

– Ah, essa aqui quando diz “não”, é “não” mesmo – Ele riu e se afastou – Desculpe.

O sinal bateu e Lorena seguiu em uma direção oposta a de Lilian e Gabriel.

– Vejo que já se conheciam – Lilian reclamou

– Ela veio me pedir para participar do grêmio também – Ele entrou na sala de aula

– Você recusou?

– Sim, mas também não maltratei a coitada.

– Eu não a maltratei, por Deus! – Lilian jogou sua mochila em cima da mesa.

– Mas então, porque essa cara de que não gostou da garota?

– Não gosto de como ela te toca. – Ela se sentou

– Está com ciúmes? – Ele sentiu as bochechas esquentarem e riu para disfarçar.

– Sim. – Ela suspirou – Estou simplesmente cuidando do que é meu.

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