Last To Know

Capítulo 15

“Céus” Lilian escorregou pela porta até sentar-se no chão. Pousou o dedo indicador no lábio inferior e sentiu um calor invadir seu rosto ao repetir a cena do beijo em sua mente. “Será que seria ele capaz de me amar mesmo?” Reclamou em seu pensamento, e, por mais que tentasse, não conseguia parar de pensar em Gabriel e como ele a tratava diferente. Quando seu coração se acelerou em seu peito, rezou para que fosse uma arritmia cardíaca, porém talvez fosse o que ela mais abominava, amor.

“Droga.” Esmurrou o chão, seus dedos doeram, mas reprimiu um gemido de dor. Não deveria ter se mostrado tão fraca para o garoto, não deveria nem mesmo ter se aproximado dele. Odiava o sentimento de amar e nunca pensou que se apaixonaria, e agora o desespero a invadia novamente, não queria se afastar de Gabriel, mas também não queria que esse sentimento se alastrasse. O amor geralmente vem seguido de muitas mentiras, e ela também abominava mentiras, apesar de mentir bastante. Lilian era o tipo de pessoa que odiava a si mesma.

Ela realmente queria falar com ele, talvez se saísse agora conseguisse o alcançar, mas estava envergonhada demais para ir atrás dele. Depois de alguns segundos, levantou num pulo e abriu a porta, olhou para os lados e procurou por algum vestígio dele, tinha um péssimo senso de direção, mas seguiu o caminho que achava ser o mais correto para a casa dele. E ela estava certa, na metade do caminho, o encontrou parado num canto conversando com Catarina. Torceu a boca em desgosto e continuou observando de longe.

Catarina ria e dava uns toques no braço de Gabriel, enquanto ele permanecia sério, tentando escapar da garota. Lilian sabia que não era certo espionar os dois, mas o que mais podia fazer? Sua curiosidade e ciúmes falavam mais alto. E para piorar a situação, Lilian considerava Catarina sua inimiga. Já foram amigas no passado, mas Catarina se mostrou uma enorme vadia mesquinha e cruel. Ver Catarina praticamente se jogando para cima de Gabriel a corroia de raiva.

Gabriel suspirou e encarou o céu, de longe Lilian pode ouvi-lo dizendo que precisava ir para casa, mas mesmo assim Catarina não o deixara ir. Quando o garoto voltou o olhar para Catarina, pôde enxergar Lilian tentando se esconder atrás de uma parede e riu.

– Ei, Lilian – Chamou o garoto num tom alto – Você não é nada boa em pique-esconde.

Lilian relaxou a postura e se aproximou dos dois com uma expressão meio boba e envergonhada.

– Ora, veja só quem está escondendo como um rato – Riu Catarina

– Catarina, fique calada. – Reclamou Gabriel

– Eu não me importo com o que “isso” diz – Disse Lilian num tom provocante e levantou o rosto para encarar Catarina – Nem precisa se preocupar, Gabriel

Gabriel surpreendeu-se com a resposta de Lilian, e se surpreendeu mais ainda com a linguagem corporal da garota. Poderia considerar Lilian uma pessoa de múltipla personalidade, ora quieta e tímida, ora malcriada e irônica. O silêncio tomou conta do local, Catarina encarava Lilian com um sorriso cínico no rosto e Lilian a encarava de volta, com uma expressão séria e um ar de superioridade.

– Vejo que voltou a ser convencida e metida – O sorriso de Catarina sumiu – Achou uma cura sua frescura que chamava “depressão”?

– É, parece que sim. Pena que você nunca irá achar uma cura para seu mau caráter, Catarina. – Lilian esboçou um sorriso que logo sumiu

– Oh, pelo menos ainda tenho meus pais.

Lilian trincou os dentes e reprimiu um choro, naquele momento o que mais quis foi partir para cima de Catarina e destruir o rosto maquiado dela, mas não se rebaixaria àquele nível. Pensou em inúmeras respostas, mas se manteve quieta.

– Mesmo assim, Lilian tem algo que você nunca terá – Gabriel puxou Lilian para perto e envolveu o pescoço dela com o braço – Alguém que a ame de verdade.

Lilian se encolheu ao toque de Gabriel, mas não se afastou. Catarina fitou os dois em silêncio por alguns segundos e sorriu.

– Que mau gosto, Gabriel. Uma pena que você preferiu uma louca à mim. – Riu a loira – Mas saiba que eu não desisto fácil!

– Eu jamais gostaria de alguém tão superficial e horrível como você, Catarina.

– Horrível? – Catarina fechou a boca num bico – Você é um chato.

Gabriel puxou Catarina para o lado e seguiu seu caminho com Lilian, deixando a loira falando sozinha.

✽✽✽

Chegaram rapidamente ao mesmo café que Lilian havia levado o grupo de amigos de Gabriel e sentaram-se.

– Quer tomar algo? – Gabriel falou enquanto lia um cardápio

– Não, obrigada.

Gabriel abaixou o cardápio para encarar Lilian

– Você não está bem. – Ele puxou a cadeira para se sentar mais próximo da garota – Foi Catarina?

Ficaram se olhando por algum tempo até Lilian resolver falar.

– Hoje não está sendo um dia bom – Suspirou – Primeiro, você faz aquilo, depois te vejo com Catarina, e então brigo com ela... E ela diz coisas horríveis.

– Com “aquilo” se refere ao beijo?

– Sim. – Lilian voltou o olhar para o chão

– Você não gostou?

Lilian não sabia o que responder, ter vindo atrás dele foi um erro.

– Não é isso, Gabriel. É que sei lá, você age tão normalmente, e eu... Eu não sei nem mesmo como estou conseguindo olhar para você. Você sempre, sempre consegue me deixar sem jeito!

– Que meiga – Gabriel riu – Bem, então você gostou!

– Céus, estou indo embora. – Lilian se levantou, seguida de Gabriel.

– Por que está sempre se esquivando do amor?

Lilian soltou uma risada curta

– Há anos eu não amo alguém, nem lembro mais como é isso, e odiaria te magoar.

– Você jamais me magoaria, Lilian.

– Eu costumo magoar todo mundo – Suspirou

Gabriel se manteve quieto, mas colocou sua mão no ombro de Lilian, confortando-a. Eles se mantiveram em silêncio até a casa de Lilian. Eles se despediram e ela entrou, deixando o rapaz arrependido por não ter tentado algo, mas ainda estava feliz por ter sentido o calor dos lábios da garota, mesmo que nunca mais acontecesse novamente.

“Sou um idiota.” Ele riu consigo mesmo e seguiu para sua casa.