Capítulo 16

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Catarina acordou um tanto nervosa e trêmula, havia tido novamente um pesadelo, mas não conseguia se lembrar dele. Seu celular marcava dez da manhã, ela considerava isso cedo demais para se levantar, mas não conseguiria voltar à dormir, então levantou-se. Ficou parada diante da janela por algum tempo antes de abri-la, e quando abriu não se surpreendeu com o clima frio de sempre, era raro o sol brilhar na cidade. Coçou os olhos com a palma da mão para realmente acordar e seguiu para seu banheiro. Lavou o rosto e escovou os dentes, depois ficou bastante tempo se olhando no espelho, insatisfeita com sua aparência matutina, penteou o cabelo loiro encaracolado para parecer melhor, mas mesmo assim precisava de maquiagem, embora fosse domingo e sair de casa não estava em seus planos.

Saiu do banheiro e passeou pelo quarto lilás pensando no que fazer. Encarou alguns porta-retratos e pensou em ligar para Bia, porém era cedo demais e a amiga provavelmente estaria de ressaca, já que todo sábado ela vai se embebedar em festas de gente mais velha. Riu ao imaginar a garota bêbada, mas voltou à observar suas fotos, sorriu ao lembrar-se de alguns momentos e quase chorou por saudades de outros, adorava ver fotos antigas, então decidiu ver alguns álbuns de fotografia antigos enquanto os pais não acordavam.

Abriu uma gaveta e tirou dela um álbum de capa rosa e começou a passar pelas fotos, a maioria das fotos eram dela com Bia, mas tinham algumas com pessoas que ela nem se lembrava mais, e no final do álbum, havia uma foto sua com Lilian, ambas sorrindo e com o cabelo preso em marias-chiquinhas. Catarina se lembrava dessa foto, foi na festa junina, quando um garoto que Catarina costumava gostar quis prender o cabelo das duas. A loira sorriu para a foto, era verdade que Lilian e ela eram melhores amigas, Catarina sentia muita falta da garota e queria poder mudar certas coisas que fez à amiga no passado, mas era orgulhosa demais para se desculpar, e em sua mente, ela achava ter feito a coisa correta, por mais estranha que parecesse.

O sorriso desapareceu ao se lembrar do garoto que gostava, Tomas. Foi o primeiro menino que ela realmente amou, mas ele só tinha olhos para Lilian, o que a fazia ficar com bastante ciúmes, afinal, o que é que Lilian tinha demais? Aliás, o que é que ela tem demais? Tomas, Gabriel, todos caíram por ela, todos por quem Catarina se interessava, Lilian “roubava”. No caso de Tomas, Catarina podia até aceitar, já que naquela época Lilian era bem diferente, ela se arrumava, ria, era uma pessoa bastante querida. Mas Gabriel? O que diabos ele viu nela?

“O que será que há de errado comigo?” Catarina fez um bico e olhou para a foto mais uma vez antes de jogar o álbum num canto e soltar um longo suspiro.

Ouviu barulhos na cozinha, o que indicava que sua mãe havia acordado, então desceu as escadas para encontrá-la.

– Bom dia, mãe – Sorriu Catarina

– Bom dia – A mãe de Catarina tinha os olhos inchados – Acordou cedo hoje.

– É, eu não consegui dormir mais – Catarina se aproximou da mãe – Esteve chorando?

A mãe de Catarina abaixou o olhar e suspirou, ficou claro que a resposta era “sim”. Catarina odiava ver sua mãe nesse estado, desde que seus pais decidiram se separar, ouve sua mãe chorando baixinho toda noite, o que a deixa arrasada.

– Ah, mãe – Catarina acariciou o braço da mãe com seus dedos – Quer conversar?

– Não há o que conversar. – Ela estremeceu ao ouvir o marido se aproximando da cozinha.

– Bom dia – Ecoou uma voz grossa.

– Bom dia, pai – Catarina sentou-se à mesa

– Agora vai me ignorar, Amanda? – Reclamou seu pai.

– Bom dia, Lucio. – Disse Amanda, num tom ignorante.

Os dois se encararam, mas se mantiveram em silêncio em respeito à Catarina.

Amanda montou rapidamente a mesa do café da manhã e se sentou à mesa para comer junto de Lucio e Catarina.

– Como vai a escola, Catarina? – Perguntou Lucio

– Oh? Vai bem – Sorriu Catarina

– E a Lilian, como ela está? – Amanda sorriu, não fazia idéia do que havia ocorrido entre a filha e a ex-amiga – Ela nunca mais veio aqui em casa, e eu gostava dela, era a única amiga decente que você tinha.

– Ela – Catarina mordeu um pedaço de pão – Ela se afastou bastante depois da morte da mãe.

– Ah sim – Suspirou Amanda – Pobrezinha, mas já faz tempo, poxa! Ela já devia ter superado, deve ser puro drama.

– Amanda, por favor, a mãe era a única pessoa que a menina tinha e você ainda diz isso? – Lucio a confrontou, o que a fez abaixar a cabeça.

Catarina realmente odiava o clima tenso em que sua casa estava, mas não podia fazer nada além de ficar quieta e fingir que estava tudo bem, como Lilian fazia.

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