Capítulo 14

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Sábado às uma da tarde a campainha tocou na casa de Lilian, a garota demorou alguns minutos para atender a porta, quando abriu, encontrou Gabriel segurando sua bolsa e uma caixa de chocolates.

– Hm – Lilian saiu da frente e deixou que o garoto entrasse

– Mil desculpas por ontem – Ele entregou a bolsa e os doces – Minha mãe não sabia

– Eu sei – Ela colocou os itens em cima da mesa e coçou os olhos – Eu estava errada, eu que peço desculpas – Lilian ajeitou o moletom que caia para os ombros – Diga para sua mãe que sinto muito, mesmo

– Ei, calma – Gabriel se aproximou – Está tudo bem, minha mãe nem realmente ligou – O garoto encarou o chão

– Está mentindo – Lilian suspirou e se afastou, encostando-se na parede atrás dela – Eu sei quando está mentindo, e você é um péssimo mentiroso.

– Eu sei – Ele relaxou o corpo – Minha mãe não gostou muito de você

– Estou acostumada, nem precisa se preocupar – Ela suspirou

– Não gosto quando fala assim

– Assim? Assim como?

– Assim, tão deprimida

Lilian fitou o chão e torceu o canto da boca, mas logo voltou ao normal.

– Eu disse algo errado, não disse? – Gabriel tocou a mão da garota com os dedos, fazendo com que ela olhasse para ele

– Gabriel – Lilian olhou para os lados, parecendo preocupada – Posso lhe contar um segredo?

– Erm – Ele a olhou – Pode.

– Pode não parecer algo tão importante assim para você, mas para mim é horrível, por isso evito contar... – A garota respirou fundo

– Conte logo, não vou julgar.

– Se julgar, te jogo pela janela.

Gabriel riu, adorava o senso de humor irônico de Lilian, embora nem parecesse um senso de humor.

– Bem, continuando – Disse ela, melancólica – Eu tenho algumas doenças – Suspirou e demorou um pouco para continuar – Depressão, anemia... – E parou.

Ele não se surpreendeu muito, era como se já soubesse e não os afetasse em nada, porém não sabia como reagir à isso e apenas ficou lá, estarrecido, encarando a garota, evitando dar risada da situação.

– Lilian – Ele a puxou para perto e a abraçou – Isso vai passar, tenho certeza.

– Como pode ter certeza? Você não faz idéia de como é isso.

– Ora, mas agora estou com você, e vou fazer com que tudo isso passe.

Lilian se afastou novamente e manteve o olhar fixo no teto, Gabriel percebeu que ela queria começar novamente um diálogo, mas desistiu.

– Obrigado por confiar em mim – Sorriu Gabriel

– Eu prometi que confiaria, não gosto de quebrar promessas – Ela seguiu para a sala, encarando preocupada um relógio digital na estante perto da televisão.

– Qual o problema?

– Alexandre – Lilian se jogou no sofá e soltou um suspiro – Ele está fora de casa desde quinta.

– Você disse que ele não ia passar a noite em casa, lembra-se?

– Sim, mas não imaginava que seria tanto tempo – Lilian pousou a mão na testa e relaxou no encosto do sofá. – Pode ter acontecido algo à ele.

– Ora, isso não é bom? – Gabriel riu

Lilian o fitou, horrorizada, gaguejou a letra “E” por um tempo e respirou fundo para voltar à sua expressão comum.

– Não gosto de pessoas que desejam mal para outras. – Reclamou a garota

– Eu estava brincando – Bufou – E, ele faz muito mal à você, não sei por quê o defende tanto.

– Ele me deixa morar aqui e paga minhas contas, apesar de ser bem selvagem às vezes, devo muito respeito à ele.

– Não gosto dele. Ele te bate, estou certo?

Lilian se manteve calada encarando Gabriel, depois de certo tempo, deixou um pequeno sorriso escapar e sentou mais próxima do garoto, o que o fez se assustar.

– Você me deixa tão confuso. – Resmungou ele.

– Sempre digo para não se preocupar comigo, mas sabe – O sorriso se apagou aos poucos – Eu gosto disso

– Eu me preocupo pois amo você.

Lilian manteve o olhar fixo em Gabriel e sorriu novamente, há anos não ouvia um “eu te amo”, a única pessoa que lhe dizia isso era sua mãe, que agora estava morta. Talvez devesse abrir mais espaço para Gabriel, para que pudesse ouvir isso mais vezes.

– Você parece minha mãe – Lilian escondeu a boca com a mão para soltar uma pequena risada – Obrigada

– Não foi nesse sentido, Lilian. – Riu ele – Foi no sentido, hm – Gabriel fez uma pausa para pensar e riu mais um pouco de sua resposta – Foi no sentido sexual.

– Isso – As bochechas de Lilian se tornaram avermelhadas – Isso não é engraçado, cara.

– Só disse a verdade – Gabriel passou o braço pelos ombros de Lilian – Eu amo você.

A garota evitou olhar para o rosto corado de Gabriel e tentou se soltar dos braços dele, talvez tenha sido uma má idéia deixá-lo entrar.

– Olha, Gabriel – Lilian começou, mas foi surpreendida pelos lábios de Gabriel nos seus. Primeiramente, ela estremeceu, era a primeira vez que isso acontecia à ela, e não sabia exatamente como reagir e nem o que fazer. Pensou em se afastar, mas não queria realmente isso, então apenas ficou parada, com os olhos arregalados.

Gabriel se afastou lentamente, ainda com um sorriso largo no rosto.

– Que cara é essa? – Ele começou a rir.

Lilian não conseguia dizer nada, nem mesmo se mover, continuava na mesma pose, encarando o garoto boquiaberta, com as bochechas coradas. Ela se levantou e cambaleou um pouco para o lado e pousou as duas mãos na cabeça

– Céus – Resmungou ela – Gabriel, eu quero que saia.

– Ora, Lilian – Contestou ele, mas foi interrompido por outra ordem para que ele saísse, e foi o que ele fez. – Não precisa ficar tão emburrada, me desculpe

– Eu não sei o que dizer. – Lilian tinha as duas mãos sobre a porta, prontas para fechá-la a qualquer momento – Só quero um tempo. Eu jamais imaginei que aconteceria isso.

– Você é uma fofa – Riu – Se quiser, pode esquecer o que houve, só não garanto que eu irei esquecer.

– Pelo amor de Deus, tchau!

– Tchau, meu amor – Gabriel soltou outra risada.

– Vá se danar. – Lilian deixou apenas uma fresta da porta aberta para ver o garoto partir.

– Também te amo – Riu, antes de quase ter perdido sua mão na porta que Lilian bateu.

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