O bolo na garganta de Gabriel o impediu de falar qualquer coisa ou esboçar qualquer reação.
– Por favor – Ele indagou – Por favor, me diga que é apenas uma brincadeira de mau gosto.
Catarina se manteve imóvel, fazendo caretas para segurar as lágrimas. A sala, que estava em aula vaga, estava em total silêncio, observando a cena.
– Catarina – Gabriel se levantou e jogou as duas mãos sobre a mesa com força, fazendo que um estrondo ecoasse pela sala – Droga, Catarina! Droga! Diga que é uma brincadeira!
– Não é uma brincadeira, Gabriel! – Vociferou Catarina – Ela estava com depressão, e é isso que pessoas com depressão fazem! Elas se matam! Se matam para que todos tenham que sofrer junto delas – Foi aí que as lágrimas escaparam e sua voz ficou trêmula – Ela era uma egoísta, egoísta!
Gabriel trincou os dentes. Não estava triste, mas sim com raiva. Mas não com raiva de Lilian, e sim de Catarina. Ficou parado por poucos segundos antes de explodir para cima de Catarina, exclamando centenas de ofensas.
– Você nunca, nunca se importou com ela! E agora que ela está morta quer pagar de boa moça e chorar? – Ele a segurou pelo colarinho da camiseta rosa – Você é uma falsa, Catarina. Com certeza o pior tipo de ser humano, nunca alguém conseguirá amar você. – Gabriel a soltou e descontou o resto de sua raiva chutando a mesa de Lilian.
Catarina cambaleou para trás e se jogou ao chão para continuar chorando, não só por Lilian, mas pela reação de Gabriel. Não deveria ter contado, era melhor que ele houvesse descoberto sozinho.
– Catarina – Bia se ajoelhou perto da amiga – Oh, eu sinceramente não entendo o porquê da morte da senhora depressão ter lhe afetado tanto.
Catarina encarou Beatriz, mas prestando atenção ao que Gabriel dizia enquanto chutava da mesa da falecida Lilian, ele soltava coisas como “Eu não acredito”, “Como você pôde?” e algumas ofensas.
– Ela foi a melhor amiga que alguém poderia ter. – Catarina choramingou
– Então porque a odiava? – Bia riu.
– Eu – Catarina se embolou nas próprias palavras e desistiu de dizer algo, ficou apenas parada ali, chorando enquanto olhava Gabriel, num surto de raiva, destruir a antiga mesa de Lilian.
Gabriel encostou-se à parede e escorregou até encontrar o chão. Encarou a sala toda o observando e sentiu-se envergonhado por seu surto.
“E agora?” Ele fechou os olhos. A raiva havia passado e ele foi tomado pelo vazio da tristeza. O que seria dele sem Lilian? Como seriam seus dias? Ele ainda esperava que alguém se virasse, dissesse que tudo era apenas uma brincadeira e que Lilian entrasse na classe.
Mas isso não iria acontecer. Ele nunca mais veria Lilian andando pelos corredores procurando por ele, ele nunca mais a levaria para casa, ele nunca mais a provocaria com suas demonstrações de afeto, ele nunca mais a veria.
“Nunca.” Ele colocou as mãos no rosto e começou a chorar. “Por quê? Por que, Deus? Se é que você existe, por que tirou de mim uma das pessoas com quem eu mais me importava?” Ele afundou o rosto nos joelhos e só os tirou dali quando uma professora entrou na sala e soltou um gritinho de susto.
– Mas o que é que aconteceu aqui? – Ela se aproximou de Catarina em prantos, depois de Gabriel e da bagunça que ele fizera.
– Gabriel e Catarina surtaram – Riu um aluno.
– Estou falando sério, o que houve? – Perguntou novamente a professora.
– Eles surtaram mesmo. – Disse Leandro.
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Last To Know
Teen FictionSeu erro foi acreditar que ela contaria seus problemas e com o tempo se apaixonaria por ele, como ele fez. "Se ela ao menos me contasse o que se passava com ela, tenho certeza que nada disso teria acontecido." All rights reserved to Gabriele Arberta...