10.2 - Liberte-se

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Desde quando Astrid era criança, ela sempre soube usar sua inteligência, charme e sede por controle para conseguir o que queria. Fosse um pouco mais de sobremesa ou fazer seus irmãos levarem a culpa por um machucado em sua pele que ela mesma causara, apenas para marcar um ponto.

Mas Astrid nunca imaginou querer tanto algo que ela jamais soube que existia e muito menos imaginava que quem lhe daria tamanha informação seria sua irmã mais nova. Entretanto, lá estava ela, debruçada na mesa de mármore devorando as mesmas páginas de um antigo livro que Aster um ano antes havia a incumbido de achar antes de ir fingir ser ela na Corte Outonal.

E depois deste livro, Astrid achara que pouca coisa a surpreenderia nesse nível, até um envelope ser depositado bruscamente em cima das páginas que lia por um Grão-Senhor visivelmente irritado que não tardou a dar as costas e sair do recinto.

- O que raios...

O coração gélido de Astrid não tardou a falhar uma mísera batida quando reconheceu o selo já rompido da carta. O brasão de sua Casa. Tão antigo e honroso na terra que viveu anos de sua vida, que Astrid dedilhou levemente a cera avermelhada se perguntando o porquê de o símbolo parecer uma memória tão antiga em sua mente.

Era uma carta de sua terra natal, Omari. Mas mais do que isso, era uma carta de sua família. Astrid tentou esconder a preocupação quando abriu o envelope. Teria algo acontecido a algum deles? Algo com Aster? Depois dos últimos acontecimentos e dado que Aster tinha enfrentado Beron para evitar que Astrid sofresse um destino pior que a morte, ela não podia mais fingir que não se importava com o bem-estar de sua irmã mais nova.

Era a letra de sua mãe. Reconheceria aquela caligrafia em qualquer lugar, não importava quantos anos se passasse. Mas a maior surpresa foi o conteúdo, um convite para Helion resolver seus assuntos pendentes com a Casa Reed.

Astrid não tardou a dobrar a carta e seguir o Grão-Senhor que saíra irritado, não se importou de invadir o quarto do mesmo e encontra-lo de costas em frente a sua cama.

- Você vai? – Astrid questionou, fazendo-o virar para encará-la.

A ruiva tentou não temer aquela faceta de gelo que ele mostrava há tempos para qualquer um, com algumas importantes ressalvas. Raramente ela encontrava aquele fervor e o macho estimulante do antigo Helion que ela conhecera.

- Não. – Ele respondeu, ríspido.

- Como não? – Ela questionou, incrédula. Era a chance que ela acreditava que ele clamava toda vez que o via encarando o céu nas horas vagas. – Aster...

Somente a menção do nome fez a feição do Grão-Senhor se contorcer numa profunda dor. Breve. Mas ela pode ver.

- Aster? – Questionou seguido de um riso amargo gesticulando para o nada. – Aster apareceu quando quis, mudou tudo aquilo que eu achava que queria para minha vida. Disse que não me queria. Depois disse que me queria. Disse que queria um nós. Prometeu que haveria um nós. Escolheu o filho de meu inimigo acima do que tínhamos e teve a capacidade de ir embora sem ao menos dizer adeus.

Helion sempre foi um macho controlado. Orgulhava-se de ser um, tanto em personalidade quanto em sua vida. E então Aster trouxe todo o descontrole e o fez subir pelas paredes, o fez desejar todo aquele descontrole que ela trazia para a vida dele. De repente, esse descontrole tornou-se algo ruim, algo que ele não reconhecia em si mesmo, principalmente quando ele teve que ser segurado por mais de cinco pessoas para não esmurrar um Eris que lhe dava a notícia de que ela havia partido.

Partido e deixado ele sem ao menos uma única palavra.

- Vocês parecem partir do princípio que é somente Aster estalar os dedos que eu vou correndo para ela.

10 passos para conquistar um Grão-SenhorOnde histórias criam vida. Descubra agora