10.3 - Liberte-se

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Uma semana. Durante uma semana inteira eu havia meditado e dito a mim mesma que não apareceria mesmo se ele aparecesse. Afinal, tinha sido um convite, havia altas chances dele simplesmente não aparecer.

Ele deveria estar vivendo o que sempre desejou, não tinha razões para ele aparecer.

Mas, mesmo assim, eu fui prudente e cogitei todas as malditas possibilidades. Cenários em que ele dava as caras e cenários que ele não aparecia. Se por ventura ele cruzasse a porta de minha casa, estaria tudo bem, eu disse a mim mesma. Eu me manteria trancada em meu quarto, esperando que ele compreendesse isso como uma recusa de minha parte em vê-lo e então ele poderia ir embora.

Então aquele cheiro que eu conhecia tão bem impregnou o ar e eu segurei minha própria mão, impedindo-me de girar a maçaneta e correr até ele e inspirar seu cheiro direto de sua pele para me acalmar, para me sentir segura e em casa, como eu não me sentia desde que o deixei.

No minuto seguinte, meus pés desciam a escadaria com rapidez e meus olhos ávidos e necessitados vasculharam o ambiente a sua procura. Seus olhos âmbares já estavam cravados em mim e eu pareci esquecer como respirava. Sequer liguei para os olhares preocupados dos meus irmãos quando Helion começou a andar em minha direção e eu quis muito andar até ele para diminuir aquela distância mais rápido.

Mas minhas pernas pareceram não funcionar e eu me esqueci de tudo quando seu musculoso corpo se chocou contra o meu, puxando em um abraço necessitado, forte, desesperado. Céus. Eu o segurei com tanta força e encaixei meu rosto na curva de seu pescoço, lembrando finalmente como se respirava e inspirei aquele cheiro que tanto senti falta. Notei seu corpo enrijecer, mas não me importei.

Ele estava ali. Ele estava ali. Ele...

- Se eles se gostam tanto assim, por que ela voltou para casa mesmo? – Ansel perguntou propositalmente no idioma de Helion para que ele entendesse e eu finalmente voltei a realidade.

Certo, havia mais gente ali.

Tentei me afastar, mas Helion me manteve presa em seus braços.

A Xamã Mhirna pigarreou e em meu campo de visão eu a vi levantar.

- Certo, por que não damos um momento aos dois? – A Xamã sugeriu, mas ninguém pareceu se mexer, até minha mãe adentrar a sala dizendo:

- Vazem.

E todos saíram para outro cômodo no mesmo instante e somente quando Helion se certificou que todos estavam longe, ele se afastou o suficiente para segurar meu rosto entre as mãos e estudar minhas feições, fazendo-me corar pelo ato.

Eu não sabia o que aquela proximidade toda significava. Helion estava acompanhado e a semelhança dos cabelos ruivos indicavam que aquele que passou seguindo minha mãe para a sala de chá era o filho dele com Aurelia.

Eu estava certa, então. Ele resolveu a vida dele. O que ele estava fazendo aqui, se esse é o caso?

- A pergunta do seu irmão é válida, menininha. – Helion murmurou ainda próximo demais, fazendo-me contorcer meus dedos dentro dos sapatos. – Eu consigo ouvir seu coração, sentir em seu cheiro, sentir em seu aperto, se gosta tanto assim de mim, por que foi embora?

Não me preparei em nenhum dos meus cenários fictícios para encontrar seu olhar tão vulnerável, tão aberto, tão... derrotado?

Abri e fechei a boca várias vezes, tentando formular uma resposta que eu não estava preparada para dar. Ele sabia o motivo. Tinha que saber. Eu via em seus olhos que ela já sabia meus motivos.

Em vez disso, eu perguntei:

- Por que está aqui, Helion?

- Porque você está aqui.

10 passos para conquistar um Grão-SenhorOnde histórias criam vida. Descubra agora