6 - Negue-o (Novamente)

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O farfalhar das árvores sendo complementados por cantos de pássaros e o som das cachoeiras longínqua – sempre cobravam respeito. Não sabia se era assim em todas as florestas, mas naquela, sim.

Um galho quebrou atrás de mim e eu me virei com pressa, suspirando aliviada logo após, vendo aquela enorme figura sorridente abrindo os braços para mim.

- Não me faça esperar muito, meus braços cansarão logo.

Corri para seus braços com fervor, com necessidade, como se somente aqueles braços pudessem me transmitir a essência de segurança, amor e carinho. Senti meus olhos lacrimejarem ao sentir seu cheiro rústico de metal, árvores e colônia.

- Pai...

Meu pai me soltou do abraço, avaliando-me de cima a baixo enquanto eu fazia o mesmo com ele. Aquele feérico alto e largo, musculoso. Tão ruivo que era discrepante com o verde da densa floresta que estávamos. Cabelos tão longos quanto os meus e uma barba grande despojava de seu queixo. Três linhas tatuadas em seu olho esquerdo. Uma linha acima da sobrancelha, indicando que era um guerreiro do Clã. Outras duas abaixo do olho: Pai e Chefe de família.

- Por que choras, minha querida? – questionou ele, segurando meu rosto com suas mãos largas, limpando com o dedão as lágrimas que teimavam em cair de meus olhos.

- Eu não sei. – respondi, sincera.

- Bom, então vamos descobrir o que lhe aflige. – ele disse, largando-me e seguindo para a direita, levantando um galho para que eu passasse por ele em segurança. – Por que não me conta o que se passa em sua mente enquanto caçamos o jantar?

- Mas está de dia, pai...

- E?

Suspirei, já me dando por vencida. Nos embrenhamos na densa floresta, cada passo calculado para não entregar nossa localização e muito menos alertar os animais que iríamos caçar.

Meu pai abaixou-se, pegando algumas folhas secas no chão e as soltando no ar para ver em qual direção o vento as levaria. Um verdadeiro caçador. Havia tanto tempo que não fazíamos aquilo.

- Pai... – ele me encarou, enquanto levantava de sua posição. – Estou tão perdida sem você.

Sua boca se elevou em um sorriso gentil. Tão diferente de minha querida mamãe... Ambos eram como água e fogo, dia e noite, gentileza e crueldade. Opostos em todas as maneiras, opostos como... eu e Helion.

Helion era o sol encarnado, uma estrela em seu esplendor. Amado, necessitado, adorado como um Deus. De longe algo inalcançável, de perto, parecia que estava longe.

Ele queimava e não em uma boa maneira. Se é que existe uma.

- Ele não é o sol, Aster. – meu pai proferiu, virando-se para continuar o caminho que o vento indicava. – Ele é muito brilhante, mas não é o sol. Você é.

Ri em um sopro com suas palavras. Somente a ideia me parecia um sacrilégio. Quem eu era perto daquele Grão-Senhor? Apenas uma feérica de 18 anos que com meia dúzia de palavras espertas e humor duvidoso achava que poderia ganhar o mundo. Mas a realidade me atingiu assim que saí do ninho de raposas que era minha família.

Entretanto, até dentro de minha casa eu não me sentia como parte deles.

Meu pai parou de supetão, como se lesse meus pensamentos, virando com um olhar duro preparado para me dar uma bronca.

- Eu não sou como Astrid, pai. – comecei a falar antes que ele estragasse meu humor. – Ou como Astor e Ansel. Eu nunca fui e você sabe disso. Mamãe não sofreu nem um pouco ao me despachar para longe, ao menos não como ela sofreu quando mandou Astrid para Corte Outonal.

10 passos para conquistar um Grão-SenhorOnde histórias criam vida. Descubra agora