11 - O começo do fim

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Dói?

Aquela voz feminina questionou. Algo arcaico em sua voz retumbou em meus ossos e pareceu desfazer em minha carne. Aquela voz esteve sempre ali, percebo. E mesmo que eu não fizesse ideia de quem pertencia aquela voz empática, soturna e cativante, eu sentia que a conhecia.

Dói, respondi para o nada.

Então, permita-me tomar sua dor.

Eu arfei em busca de um ar que já circulava em meus pulmões. A figura ao meu lado, que parecia brilhar em meio à escuridão do recinto, se ressaltou e sentou-se me alcançando com as mãos seguras.

Helion.

Ele havia me apagado porque eu havia perdido o controle e estava a um passo de fazer uma besteira que selaria não só o meu destino, mas de todos à minha volta. Porém, mesmo na escuridão de meu quarto, conseguia ver seu rosto retorcido em dor, como se tivesse doído mais nele do que em mim.

- Helion... - minha voz saiu rouca, seca e rapidamente ele se virou para apanhar o copo d'água que estava repousando na mesa de canto.

- Aqui, beba um pouco. - Ele levou o copo a minha boca, me auxiliando no processo, mesmo que não houvesse nada que me impedisse de fazer a tarefa sozinha.

Olhei ao meu redor, para o quarto que vivi durante toda minha vida. Para a larga cama que dividíamos nesse instante, mas eu não me lembrava de como eu tinha chego ali em primeiro lugar.

As negociações...

- O que aconteceu? - Questionei, sobressaltada, procurando seu olhar.

- Nós vamos para casa, As. - Helion respondeu, suas largas e cálidas mãos segurando as minhas, virando-me no colchão para encara-lo. - Nós vamos ter uma grande festa para proferir os votos de nossa parceria e vamos viver juntos até onde o destino permitir e quem sabe até mesmo no pós-vida.

O ar pareceu me faltar novamente e eu disse, assombrada, sentido o peso da situação impulsionando meus ombros cada vez mais para baixo:

- Você aceitou as negociações?

Helion soltou minha mão direita e mostrou seu pulso que agora possuía as colinas de Omari tatuada no local. Não as tatuagens que tradicionalmente fazemos orgulhosamente para mostrar nossas conquistas, mas sim aquela mágica de um acordo inquebrável. Aquela que mataria minha mãe e até mesmo Helion caso ele não cumprisse o combinado.

Segurei seu braço com força e meus dedos trêmulos passaram pela tatuagem, para me certificar que era real, que minhas atitudes impensadas haviam finalmente impactado a vida de Helion. Se eu tivesse controle o suficiente, poderia ser uma arma valiosa e poderíamos abrir o caminho até a saída, levando minha família conosco - sem o peso de um juramento.

Porém, e os outros? A Xamã Mhirna estava desesperada o suficiente para procurar qualquer linha torta entre as leis para conseguir o apoio de Helion para finalmente nos tirar desta terra à beira da morte.

"Você herdou esses poderes por uma razão e se não é pela guerra, então será pela diplomacia", ela dissera aquele dia. E realmente falara sério. Poderia eu culpa-la?

Olhei para minhas próprias mãos, inertes nas mãos do Grão-Senhor. O que eu poderia fazer?

- Aurelia me disse alguns meses depois que você partiu... - Helion proferiu e a menção do nome dela em seus lábios contorceu o meu estômago, mas não demonstrei aquela insegurança arrebatadora. - Que sabia o porquê o Caldeirão uniu nós dois. - Arqueei as sobrancelhas, sentindo a curiosidade levar o melhor de mim. Ele sorriu travesso, sabendo que a necessidade por informação estava me corroendo por dentro. - O Grão-Senhor da criação com uma grã-feérica capaz de recriar.

10 passos para conquistar um Grão-SenhorOnde histórias criam vida. Descubra agora