4 - Reze por ele

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Uma semana e meia depois eu já estava desgastada mentalmente. Já havia lido mais livros que meus dedos dos pés e mãos juntos poderiam contar. Além disso, a quantidade de vezes que eu tinha o mesmo sonho multiplicaram.

A ponto de um dia acordar com Helion me chacoalhando.

- Você estava gritando! - dissera ele, com um semblante assustado, como se meus gritos lembrassem coisas que ele gostaria de esquecer.

E eu sabia bem o que eram essas coisas.

Helion outrora me deu um livro que contava a história da Guerra contra Hybern. Não pude deixar de derramar algumas lágrimas ao ler da rebelião da Corte Estival, Invernal e Diurna contra a general Amarantha. A bela Corte Diurna tinha presenciado tempos sombrios.

Embora tudo isso tivesse acontecido há 30 anos - e eu nem tivesse nascido -, era pouquíssimo tempo para um feérico.

De qualquer forma, era por causa dos meus constantes pesadelos que o Grão-Senhor demandou, veja bem, demandou que eu especificasse o que raios estava acontecendo e isso resultou no presente:

Eu deitada em uma mesa em uma masmorra cheia de poções, ervas e duas grã-feéricas que a julgar por algumas rugas nas suas faces, eu sabia que elas provavelmente tinham visto o Grão-Senhor nascer.

A forma natural que as duas rodearam-no - apontando e cochichando a respeito de algo que estava no livro que uma delas segurava - era extremamente estranha.

Quando levantei meu torso, me apoiando pelos cotovelos, uma delas me lançou um olhar mortal de "continue deitada, idiota". Voltei a me deitar no exato momento que Helion se aproximou da mesa.

- Estou sendo usada para um sacrifício? - perguntei, zombeteira.

Helion me encarou seriamente e eu arregalei os olhos.

Ele iria me sacrificar?

- Não se mova. - ele demandou, com a voz levemente rouca enquanto depositava sua mão direita em meu abdômen.

O comprimento e largura da mão dele eram assustadoramente grandes. Com um tapa ele provavelmente me desmontaria completamente. Novamente, quando ele lançou um olhar divertido me peguei pensando se não havia dito isso em voz alta ou se ele era realmente um Daemati.

Ele suspirou e fechou seus olhos.

Uma luz apareceu abaixo da palma de sua mão depositada em minha barriga. Era quente, mas não era insuportável. Sua mão começou a subir e eu tentei não segurar o ar quando passou por meus seios e seguiu seu rumo até minha testa.

Quando seus olhos voltaram a se abrir, eu estava encarando-os procurando por alguma resposta neles. Definitivamente tinha algo errado comigo. Eu sentia. Eu não era uma vidente para estar tendo sonhos proféticos.

Ele negou com a cabeça e eu soltei o ar que nem sabia que estava segurando. Quando as duas feéricas se aproximaram, ele disse:

- Não encontrei nada de errado.

- Então talvez sejam apenas pesadelos criados pelo constante medo dos livros serem roubados. - a feérica que segurava o livro, concluiu.

Procurei Helion com os olhos enquanto me sentava.

Não podia ser. Eu não estava com medo dos livros serem roubados, tanto que eu estava constantemente lendo eles por saber que no fim eles seriam levados.

- Eu gostaria de ir até a biblioteca que aparece nos meus sonhos.

Helion me encarou como se eu fosse maluca. E no momento que ele abriu a boca para negar a situação, eu usei a minha carta que estava guardada na manga fazia tempos:

10 passos para conquistar um Grão-SenhorOnde histórias criam vida. Descubra agora