O Outro Lado - O Segredo da Família Glarson

Capítulo 20- Mais segredos?

O dia mal havia começado. Não estava ensolarado, estava um tanto nublado com cheiro de pétalas de inverno. Luck havia ido a minha casa e me contado coisas que eu não conseguia me recordar de forma alguma. Não posso dizer que está mentindo, pois disse cada palavra com tanta confiança do que estava dizendo, mas não posso dizer que é real se eu mesma não me recordo. Disse ele que após o acidente dos meus pais, passei por um processo de amnésia pós traumática, na qual depois de um certo dia não poderia me recordar de coisas específicas. Isso tudo parece irreal, mas não sei mais dizer, afirmar, qual parte da minha vida está sendo de verdade.

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Subi para o meu quarto. Coloquei uma calça jeans preta e uma blusa de tecido leve cor de vinho. Amarrei o meu cabelo em um rabo de cavalo e desci de volta para a sala. Luck ainda estava parado na porta. Caminhei até ele e em seguida ele saiu da passagem. Fui caminhando para fora. Virei para dar uma breve olhada, mas ele não olhou de volta, ficou apenas parado de costas para mim. Saí sem pressa, fui andando com toda calma possível. Era dia de me encontrar com Lucas em sua casa novamente, e hoje aquele livro não me escapa.

Depois de alguns minutos andando, não muitos, finalmente chego em frente sua casa. Me aproximei bem da porta e toquei sua campainha para que ele viesse a abrir. Esperei mais um tempinho e logo então ele apareceu.

- Então você veio. - Ele abriu um sorriso enorme em seu rosto, se aproximando de mim me convidando para entrar.

- Disse que viria, então não poderia furar assim. - Respondi caminhando em passos lentos para dentro, como se fosse a primeira vez que entrasse ali.

Olhando para Lucas, volto a me perguntar se a história de Luck realmente é real, e se for, estou ao lado de alguém que em um piscar de olhos poderia acabar comigo, sem ao menos sentir remorso. Fiquei parada no meio do corredor pensando e encarando os belos quadros feitos por Lucas. Nada daquilo tudo se encaixava.

- Você está bem? - Ele se aproximou devagar e parou ao meu lado.

- Estou. Fique tranquilo. - Respondi calmamente.

- Quer compartilhar o que está atormentando seu consciente? - Ele se virou para mim, que ainda estava de lado encarando os quadros fixamente.

- Você parece me conhecer bem... As vezes sinto como se eu e você já tivéssemos sido muito próximos. - Preciso tirar a minha dúvida, se ele começar a me contar coisas que bata com a versão de Luck, então finalmente vou me convencer. Se ele não disser nada, talvez ele é quem esteja mentindo para mim.

- Eu meio que te atormentava Emi, como poderíamos ter sido próximos? - Ele abaixou a cabeça e mesmo não o encarando pude sentir a sua energia. Não era algo agressivo, mas não era algo de imensa calmaria.

- As vezes me pergunto se eu e você tivéssemos crescido juntos, como seria. - As palavras saiam da minha boca sem que eu pudesse mais ter controle.

- Também não consigo imaginar isso. - Ele suspirou de uma forma que me parecia que estava escondendo algo. Parecia estar dizendo menos do que realmente diria.

- Vamos ao livro? Sei que está ansiosa para o ler. Prometi, então também irei cumprir. - Saiu do meu lado e foi caminhando para o quarto cheio de antiguidades.

Apenas o segui. Não acreditava que finalmente iria conseguir ler aquele livro tão diferente e estranho. Minha avó iria surtar se soubesse disso, então vou me lembrar de não mencionar livros quando for vê-la. Chegando ao quarto antigo, ele entrou primeiro, pegou o livro e esperou até que eu entrasse. Minhas pernas pareciam estar falhas. Parecia que não estava conseguindo me manter. Era como se sentisse uma energia muito forte ali, e não faço ideia de o por que estou sentindo, ou como consigo sentir.

- Pode entrar, Emilly. Aqui está o tão esperado livro. - Ele estendeu suas mãos com o livro para me entregar.

Estava sentindo um leve arrepio a cada passo que dava. Era algo fora do comum, na verdade, sentia no fundo que talvez um dia eu já tivesse sentido essa mesma sensação, mas não consigo me recordar. Será que toda a história de Luck é verdadeira? Não sei quando vou conseguir saber disso. Finalmente peguei o livro em minhas mãos, estava pronta para o abrir, Lucas estava quase tão ansioso quanto eu. Segurei-o firmemente, e quando fui abrir a capa, estava tão suave quanto uma pétala de rosa branca. Abri o livro na frente de Lucas, sua expressão era de surpreso como se ele realmente achasse impossível abrí-lo.

- Como conseguiu? - Me perguntou abismado.

- Eu apenas puxei a capa. Não conseguiu fazer isso? - Respondi.

- Tentei fazer isso diversas vezes, mas sempre que tentava abrir ele, era como se estivesse emperrada a capa e as páginas. - Ele me olhou e encarava o livro atentamente.

- Ok, agora vou ler. Fique em silêncio! - Falei.

- Claro. Mantenha o foco e não tire seus olhos das páginas. Vou esperar lá fora. - Disse ele se afastando.

Tudo bem que eu adoraria ter privacidade para ler o livro da minha avó em paz, mas creio que não era necessário ele sair da sala exatamente. Sentei em um canto daquela sala e então comecei a ler. Era um livro distinto, estranho, não sabia do que se tratava especificamente, mas não eram coisas comuns. Lucas saiu e encostou a porta. Creio que nesse momento, eu descubra coisas que talvez não esteja tão pronta para desvendar, mas é o meu momento. Devo isso a mim mesma. Comecei a ler o primeiro parágrafo do livro. Ele era semelhante a uma história, como se houvesse alguém narrando a vida de outra pessoa.

Cada vez que me encontrava com cada palavra descrita, um suspiro saía de mim. Até que...

[Neste dia especial, iremos conceder a família Glarson, que por sua vez nos procurou com dor em seu coração por seu filho único, uma chance de que ele possa viver sua vida longa e feliz. Este ritual não poderá ser quebrado durante as próximas gerações.]

- Um ritual? - pensei em voz alta.