Capítulo 8 - Segredos enterrados

26 1 0
                                    


Uma sensação estranha, sentir que estou sendo observada. Jurava que havia visto alguém, mas de certa forma, não havia ninguém ali. Talvez eu esteja tendo um verdadeiro colapso. Talvez a minha cabeça esteja brincando comigo. Subi as escadas, observando atentamente qualquer coisa fora do normal. Entrei no quarto da minha avó, na esperança de conseguir encontrar o livro, mas infelizmente não o via em lugar algum. Ouvi um barulho da porta se abrindo, minha avó cantarolando.

- Droga! Ela chegou... - Falei em um tom baixo, para que ela não me escutasse lá de baixo.

Saí de seu quarto e fechei a porta. Corri para o meu, entrei no meio das cobertas e fiz cara de quem estava completamente derrotada.

- Emilly? O que faz em casa? - Ela abriu a porta, se aproximando e cruzou seus braços. Estava com uma expressão séria.

- Oi vó. Estava me sentindo muito mal, precisava vir para casa. - Falei, mudando meu tom de voz. Fiz parecer que realmente estava doente.

- Por que não me ligou? Sabe que eu iria até lá buscar você. - Ela aparentava estar bem preocupada.

- Já estou um pouco melhor vó... Só precisava descansar. - Falei e sorri para ela, esperando amenizar um pouco sua preocupação.

- Qualquer coisa, estou lá embaixo. Ok? - Ela se virou e caminhou para fora do quarto.

"Essa foi por pouco!", pensei.

Me levantei da cama e fiquei imaginando: se eu fosse a vovó... Onde eu colocaria um livro velho na qual é extremamente secreto?

"Como você não é ela, não vai descobrir", meu consciente me lembra.

De certa forma, hoje não irei conseguir voltar no quarto dela para retomar as buscas ao livro. Também não irei conseguir ficar o dia todo deitada, são apenas meio dia e treze. Talvez eu deva voltar para a escola, com certeza estão passando muito conteúdo para estudar. Saí do meu quarto, caminhando em direção à escada. Desci e fui até a sala.

- Vó? - Falei alto, mas não escutava sua resposta de nenhum cômodo.

Fui dando passos lentos até a cozinha. Observando ao redor, notei que o ambiente estava extremamente silencioso. De repente, um barulho do lado de fora. Abri a porta da cozinha, que dava para um espaço no jardim. Minha avó sempre gostou de flores, então decidiu ter um espaço somente para isso. Ultrapassei para fora. Pensei "de onde pode ter vindo esse barulho? Não há ninguém por aqui!". Novamente o barulho retorna. Me virei de uma só vez para trás, não acreditava no que meus olhos estavam vendo... Se... Se... Nhorita Be... Berry...?

- Srta. Berry? O que faz aqui? - Perguntei completamente pasma.

- Você deveria ter pego antes... Agora é tarde. - Disse ela, paralisada, nem se quer piscava.

- Está se referindo ao livro? - Dei um passo à frente, tentando não fazer movimentos arriscados.

- Agora é tarde... - Ela continuou.

- Tarde para o que? - A encarava seriamente enquanto tentava me aproximar, mas a cada passo que eu dava, ela se afastava mais.

- Ele virá atrás de você Emi... Sinto muito. - Finalizou, e então saiu correndo para fora do jardim, sem me dar tempo de conseguir alcançá-la.

Logo ouvi o barulho das portas da cozinha batendo. Assustada, me virei rapidamente em direção a elas.

- Emi querida, o que faz aqui fora? Achei que estivesse descansando. - Minha avó estava parada em pé, me observando e com duas sacolas na mão.

Até pensei em contar para a vovó sobre o que acabara de acontecer ali, mas talvez não fosse uma ótima ideia. Se eu contar para ela, terei que falar sobre o livro. Ela já mentiu uma vez sobre, então provavelmente vai mentir de novo.

- Eu estava a procurando... Não a encontrei dentro da casa, então vim ao jardim. - Tive de mentir, era a única saída.

- Bom, eu fui ao mercado. - Fez uma pausa enquanto arrumava as sacolas em suas mãos. - Vamos entrar querida, vou fazer um chá para nós. - Ela sorriu e se virou, caminhando para dentro da casa.

Eu fui logo em seguida. Confesso que estava com as palavras da professora maluca na cabeça... "ele virá atrás de você", "agora é tarde". O que significa isso? Quem está vindo atrás de mim? São perguntas que precisam de respostas, e eu vou encontrar. Decidi voltar à escola, talvez a professora esteja por lá. Vou a encurralar, e tirar minhas conclusões de uma vez por todas. Subi correndo para o meu quarto e peguei uma blusa de frio. Desci as pressas. Minha avó estava na cozinha, me viu indo em direção à porta e logo me parou.

- Parada ai mocinha! Onde pensa que vai? - Perguntou ela, se aproximando e entrando na minha frente.

- Esqueci umas coisas com a Live... - Dei um sorriso de "por favor vovó, me deixe ir", na esperança de que ela caísse.

- A Live não está na escola? Manda uma mensagem para ela e diz para ela vir deixar, quando sair. - Ela me olhou e sorriu com um olhar que já não sei decifrar.

- É importante vó, não posso esperar. Prometo que volto logo. - Falei.

Ela me encarou atentamente, assentiu com a cabeça como quem quer dizer "ok, some da minha frente", e então eu abri a porta e saí. Uma bela caminhada até a escola. Os ônibus escolares tinham horários para passar, então fui caminhando rápido até lá. Assim que cheguei me assustei. Professores, coordenadores, alunos, todos estavam fora da escola. Estavam todos com uma expressão de aflição. Havia policiais também, estavam ao redor da escola. Live e Davi me viram, então vieram correndo em minha direção.

- Gente, o que houve aqui? Alguém foi assassinado, ou o que? - Falei, dando uma risada de sarcasmo.

- Na verdade sim... - Disse Live.

- Espera... Como é? Como assim? - Estava ficando cada vez mais assustada. Meu coração pulava, como se a qualquer momento fosse sair de mim.

- Parece que acharam um corpo. - Continuou Live.

- Um corpo? Corpo de quem? - Insisti.

- Eles afirmam ser da professora nova... - Disse Davi.

- Espera... Mas a professora nova é a... - Falei, sem forças para completar a frase.

- Exatamente. Srta. Berry. - Concluiu Davi.

Fiquei extremamente chocada com tal notícia. Talvez tenha sido assalto, talvez ela estivesse voltando para a escola e alguém a tenha pego de surpresa.

- Em pensar que ela estava viva á poucos minutos atrás... Como isso foi acontecer? - Olhei para o chão, claramente me sentindo um tanto culpada.

- Emi, isso é impossível. - Disse Davi, chegando mais perto.

- O que? - Perguntei.

- Ela estar viva á alguns minutos atrás. O corpo dela foi encontrado enterrado, e o legista confirmou que o corpo estava ali desde ontem... Basicamente, desde o horário em que ela saiu correndo da escola por conta do ocorrido na sala de aula, com o seu sobrenome. - Continuou Davi.

- Isso é loucura... Como ela pode estar morta desde ontem? Hoje de manhã conversei com ela aqui mesmo na porta da escola. Ela apareceu na minha casa quase agora, me disse umas coisas que não entendi... Mas ela estava lá! - A cada palavra que saia de mim, aumentava mais o meu nervosismo.

Eles ficaram ali, parados na minha frente me encarando, como se a morta fosse eu.

- Não me olhem com essa cara. Eu não estou maluca! - Falei.

- Emi... Só queremos te ajudar. - Disse Live.

- Querem me ajudar? Então comecem acreditando no que eu digo! - Falei furiosa.

Já estava cheia de eles dois acharem que estou tendo um surto mental. Me virei e saí dali, era o melhor a se fazer. Eles não vieram atrás, e foi melhor assim.

O Outro Lado - O Segredo da Família GlarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora