Capítulo 7 - Lucas

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Aquela professora esquisita estava começando a me assustar. Talvez fosse de propósito, talvez não, mas estava de certa forma me apavorando.

- LIVE! DAVE! VENHAM AQUI... - Gritei, quase sem fôlego.

- Oi Emi, o que houve? - Os dois se aproximaram.

- Vocês estão vendo aquilo? - Me virei de volta para a janela e apontei para o local onde eu a tinha visto, mas ela simplesmente não estava mais lá.

- Emi, fica calma, mas não tem nada ali. - Disse Davi, apontando para o mesmo local.

- Realmente, agora não tem, mas eu juro que vi a professora esquisita ali. Eu juro! - Falei, demonstrando convicção, mas creio que não foi o suficiente para que acreditassem.

- Tudo bem, Emi, pelo visto você anda com a cabeça cheia demais garota. Respira um pouco, você acha que viu coisas, quando na verdade é a sua imaginação. - Live colocou sua mão em meu ombro para tentar me acalmar.

- Está me chamando de maluca? - Empurrei sua mão, e fui me afastando.

- O que ela está querendo dizer Emi, é que talvez o lance da professora nova ter falado sobre os seus pais tenha mexido com você. Talvez ao ponto de te deixar um pouco paranoica sobre as coisas. - Disse Davi, tentando se aproximar de mim.

- Quer saber? Vocês tem razão, eu só preciso de um tempo. - Respondi.

Peguei a minha bolsa em cima da mesa, e fui caminhando até a porta. Luck estava parado ao lado da entrada.

- Está tudo bem, Emi? - Ele puxou meu braço quando passei ao seu lado.

- Está sim, eu só... - Tentei falar, mas travei completamente.

- Vi que você chegou na sala hoje com o Lucas, ele te fez algo? - Perguntou preocupado.

- Relaxa, o Lucas é inofensivo. - Falei, puxando meu braço de volta para me soltar.

- Se você diz. - Concluiu.

- Escuta, você se importaria de me passar depois as lições? Das próximas aulas. - Perguntei.

- Passo sim, mas onde você vai? - Ele me olhou atentamente.

- Preciso resolver umas coisas. - Falei, então me virei e fui caminhando sem olhar para trás.

Andando em direção à porta, caminhei com cautela para que absolutamente ninguém me impedisse de sair. Felizmente atravessei o portão da escola e dei passos rápidos sem olhar para trás. Já esperava que a minha avó estivesse em casa, então mandei uma mensagem para ela com o número privado, dizendo para ir até o banco pois seus dados estavam com problemas.

Fui de pressa até o ponto de ônibus, peguei o primeiro ônibus que passasse pelo menos próximo a minha casa, não demorou muito, logo cheguei. Desci, e então caminhei até a porta. Me aproximei para abri-la com a chave, mas não estava trancada, então apenas a empurrei.

- Hoje eu descubro o que tem naquele livro velho! - Pensei em voz alta.

Subi as escadas lentamente, só para me certificar de que a minha avó havia mesmo saído. Como pensei, ela não estava. Andei até seu quarto e abri a porta, entrei nele e olhei em direção ao local onde havia encontrado seu livro da primeira vez. A porta de seu guarda-roupa já estava entreaberta, então a puxei. Olhei ao redor das roupas, mas não encontrei o livro. Tirei a maioria das roupas de cima e olhei por baixo, mas ainda assim, não havia sinal de livro algum. Será que ela descobriu que eu achei e então resolveu esconder melhor? Mas o que há de tão importante neste livro, minha avó nunca guardou segredos de mim.

Enquanto estava imóvel em frente ao guarda-roupa, ouvi a campainha tocar. Provavelmente não é a minha avó por que ela não tocaria a campainha para entrar na própria casa, principalmente por que para ela, eu estou em período de aula. Saí do quarto às pressas. Fui descendo a escada o mais rápido que pude, a campainha não parava de tocar. Logo cheguei à porta, então a abri, e tomei um breve susto.

- Oi, Emilly. - Disse Lucas, acenando com uma mão.

- O que faz aqui? E por que não está na escola? - Falei surpresa e indignada, um pouco inquieta.

- Ouvi você falando com o Wotson, e então eu segui você. - Respondeu ele, com as mãos quase tremendo. Meu Deus, o que está havendo com ele?

- Está certo, mas o que lhe trouxe aqui? Por que me seguiu? - Reformulei a pergunta, enquanto o encarava. Ele mantinha sua expressão séria como sempre, imprevisível.

- Eu sei que ouvir isso vindo de mim, vai ser extremamente estranho...Mas eu preciso da sua ajuda. - Ele parecia um tanto desesperado por dentro, era como se eu pudesse ver o seu interior.

- Bom, se eu puder ajudar eu vou. No que exatamente você precisa de ajuda? - Fui gentil, talvez ele precisasse de gentileza para aprender a ser gentil com os outros também.

- Estou atrasado nas lições, e como sei que você tem todas eu gostaria de que você me ajudasse a recuperar minhas notas. Pode pedir o que quiser em troca, e então? O que acha? - Ele disse em um tom neutro, uma proposta interessante, já que vou poder pedir o que eu quiser.

- Posso ao menos pensar no assunto? - Falei.

- Claro que sim, mas por favor... Sabe que não seria importante se eu não estivesse implorando. - Ele me disse, e sua expressão era algo que eu jamais havia visto o Lucas demonstrar. Parecia indefeso.

- Tudo bem, eu vou pensar muito, prometo.

Ele acenou com a cabeça para mim, sorriu enquanto se despedia, e então se virou e foi embora.

Foi algo fora do normal. Talvez o Davi esteja certo, talvez eu esteja tendo alucinações e o Lucas tenha sido apenas mais uma.

- Bom, vamos voltar lá para cima e procurar novamente este livro. - Novamente, pensei em voz alta.

Caminhei em direção à escada e passei em frente a cozinha, tive uma leve impressão estranha de que vi alguém parado em frente à mesa. Dei meia volta, fui à cozinha apenas para me certificar, mas ao entrar lá, não havia ninguém. Absolutamente ninguém.

O Outro Lado - O Segredo da Família GlarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora