Quanto mais eu pensava em tudo o que Luck havia me dito e em como havia me tratado, me subia um certo desconforto no coração. Luck e eu sempre fomos muito amigos, e querendo ou não o fato de ele sempre ter estado do meu lado me defendendo era real. Não poderia negar isso nem se eu quisesse. As vezes me pergunto se fiz a coisa certa entrando em guerra com ele... Mas toda vez que me lembro da nossa briga, não me sinto obrigada a tentar reatar a amizade. Sei que no fundo, isso me machucou e talvez, sem que eu percebesse. Nós sempre fomos muito chegados, e eu sempre tive aquela enorme queda por ele... Talvez por ele fazer sempre com que eu me sentisse segura, por estar sempre comigo. Sempre costumei sentir uma imensa paz quando estava com ele, por isso me sinto confusa em relação ao Lucas. Sempre imaginei que o que eu sentia por Luck, era amor; mas se de fato fosse isso, então o que sinto por Lucas? Qual a definição exata para isso? Ele bagunça meu mundo, põe tudo de cabeça para baixo, quase sempre me deixa sem palavras, e olha que eu sempre costumo ter uma resposta pronta para tudo. O que será que está acontecendo comigo?
Minha cabeça se enchia de pensamentos aleatórios, um atrás do outro. Tenho medo de me perguntar se as coisas ainda podem piorar, e realmente ter mais uma sequência de decepções. Naquela manhã, a rua estava começando a ficar um tanto mais agitada do que o normal. Parecia que alguém estava de mudança para a casa ao lado. Finalmente, alguém resolveu alugar essa casa. Fiquei me perguntando se os novos moradores eram gente boa. Eu deveria ir lá cumprimentar?
- Olha, parece que terá novos vizinhos para discutir pelas belas manhãs em Chester. - E o velho Lucas está de volta.
- Vê se não enche. Acha que devíamos ir lá dar um oi? - Perguntei, só para confirmar se seria a coisa certa a se fazer agora, pois mudanças nos deixam exaustos e impacientes.
- Bom, seria extremamente educado da nossa parte. Você quer ir? - É estranho ainda, ver o Lucas tão atencioso assim, não sei se vou me acostumar a isso...
Antes que eu e ele tivéssemos a chance de ir até os novos vizinhos, um garoto se aproximou de nós. Ele era alto; tinha a pele clara; olhos eram castanho claro; seus cabelos também eram, e aparentava medir cerca de 1,75 de altura. Bom, ele era de fato encantador.
- Olá! Vocês devem ser os novos vizinhos. Muito prazer em conhecer vocês. - Ele sorriu para nós e veio se aproximando, seus olhos me encaravam com uma enorme profundidade. Ele era além de bonito, gentil.
- Ela é sua vizinha, eu sou apenas um amigo. E aí cara, de onde você veio? - Disse Lucas.
- Olá... Eu me chamo Emi. Emilly Glarson, mas o pessoal aqui me chama sempre de Emi. - Falei, e de repente sinto minhas pernas tremerem. Vergonha?
- Muito prazer, Emi. Muito prazer Lucas! Venho de tão tão distante, haha. - Disse ele, com sarcasmo estampado na cara. Todos nós rimos.
- Que legal cara, pelo menos tem bom gosto por filmes. - Lucas sorriu e piscou para nós.
Nós fizemos uma cara de quem não havia entendido. Rimos mais ainda. Fiquei curiosa demais sobre esse novo vizinho, mas não estava interessada nele, pelo contrário; só é estranho alguém querer se mudar para cá assim do nada. Segunda questão é que ele desviou a pergunta do Lucas, ao invés de dizer de onde veio, fez uma piada. Mudou totalmente o caminho da conversa.
- Bom pessoal, foi bom conhecer vocês... Mas agora preciso voltar, muita mudança para descarregar ainda. - Disse o garoto novo.
- Certo, mas como é seu nome mesmo? Só para saber. - Perguntei.
- Meu nome é Jack... Jackson Sville, mas todos me chamam de Jack. - Finalizou ele.
O vizinho novo se virou e saiu andando para sua casa. Eu fiquei ainda paralisada observando, esse garoto me parece estranho.
- Ficou interessada? - Lucas entrou em minha frente e perguntou.
- Como é? - Falei, recuando.
- Você ouviu, gracinha. - Fiquei vermelha. Lucas veio se aproximando e me encarando profundamente. Fiquei sem palavras.
- Ele é estranho, Lucas. - Fiz uma expressão que entregou convicção em minhas palavras.
Nós entramos para dentro de casa. Fomos até a cozinha e Lucas começou a preparar algo para nós. Aquele garoto não sai da minha cabeça, mas de uma forma ruim... É como se eu tivesse a impressão de que algo ruim estivesse para acontecer. Depois de tudo que já me ocorreu, as coisas vão mesmo piorar? Eis a questão... Elas sempre tendem a piorar.
Fiquei sentada ali observando de longe a janela. Me encontrei perdida em meus pensamentos. Ainda estava criando questões em minha mente sobre Luck, a preocupação sobre a minha avó também se mantinha aqui, e agora.... Tem esse novo morador de Chester. Algo me diz que ele é encrenca, mas ainda vou descobrir o por que. De repente, ouço um barulho estranho vindo do andar de cima.
- Você ouviu isso? - Perguntei a Lucas, que estava super concentrado colocando geleia nas panquecas.
- Ouvi o que? - Ele se virou surpreso.
- Eu escutei um barulho esquisito vindo de lá de cima, você não ouviu nada? - Insisti.
- Não... Está o maior silêncio por aqui, Emi. - Disse ele.
Me levantei e fui caminhando devagar em direção as escadas.
- Onde você está indo? O café da manhã está quase pronto. - Perguntou.
- Vou lá ver o que é, já volto. - Respondi, e continuei a caminhar.
Dei passos lentos até chegar no meio do corredor. Minha respiração já estava começando a ficar ofegante, cada vez que pisava mais à frente. De não muito longe, escutava o barulho de Lucas cantarolando na cozinha. De repente, o ar começou a ficar mais frio. Me aproximei da porta do quarto da minha avó, o ar ficava cada vez mais gelado. Antes que eu pudesse abrir a porta do quarto, a campainha tocou. Dei um pulo para trás.
- Quem será agora? - Pensei em voz alta.
- DEIXA QUE EU ATENDO, EMI. - Lucas grita.
Fiquei parada em pé pensando sobre continuar a minha busca, na qual eu nem faço ideia do que estou buscando.
Ouço uma voz de fundo, bem suave e meiga. Percebo que soa tão leve, como uma voz feminina.
Mas... Espera, é de fato uma voz feminina.
Logo desisti da ideia de prosseguir minha busca implacável. Me virei de costas, voltando a minha direção à porta de entrada. Passos um tanto mais rápidos do que quando estava indo a procura de coisas sinistras. Me aproximei devagar da sala. Lucas estava parado conversando com uma moça, que aparentemente tinha a nossa idade. Quantas pessoas novas estão pela cidade? Virou uma cidade turística talvez? Tantas questões. Enquanto me perco nesse turbilhão de perguntas a minha própria consciência, antes que eu possa dar o primeiro passo, a tal garota toma a iniciativa feito flash.
- Olá! Me chamo Julie Steph... Mas pode me chamar de Juh, ou então de Julie mesmo hahaha! Como preferir. - Disse a garota, fazendo uma pausa para sorrir enquanto jogava seus dedos sob seus cabelos longos. - Sou a nova moradora ali do lado, somos vizinhas. - Julie voltou a sorrir novamente.
Fiquei claramente impressionada, pois ela tinha uma beleza notável. Seus olhos eram tão negros quanto uma escuridão repleta por reflexos de diamantes radiantes. Provavelmente cerca de uns 1,61 de altura, ela é uns centímetros mais alta do que eu. Seus cabelos sedosos e brilhantes também pretos. Fala sério! Essa garota não tem um defeito sequer? Não pode ser real. Lucas parecia estar atento a seus detalhes tanto quanto eu estava, pois seus olhos desde que pude notar, não saíam de sua direção. A direção da garota nova.
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O Outro Lado - O Segredo da Família Glarson
Mystery / ThrillerEmilly Glarson é uma garota de 16 anos, nascida em Chester (Nova Jersey). Aos seus 5 anos de idade seus pais morreram em um acidente de carro, consequentemente ela cresceu com a sua avó Clarice. Sua cidade tem uma reputação assombrada, Emi descobre...