Capítulo 22- Perseguição?

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As vezes, ter mente fechada nos impede de enxergar certas coisas, que definitivamente estão bem à nossa frente. Vocês acreditam em almas perdidas? Acreditam em espíritos? Eu também não acreditava até uns dias atrás, mas vamos voltar de onde paramos.

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Foi difícil para mim escutar aquelas palavras dolorosas saírem da boca da minha avó. Entendo que ela não queria que eu lesse aquele livro. Ficou dizendo coisas absurdas o tempo todo. É sério que ela acredita em fantasmas? Quem em sã consciência e sanidade acredita que espíritos e essas coisas são reais? É realmente algo fora do comum, e eu me recuso a aceitar que existam. Me retirei da sala em passos lentos, imaginando que talvez ela pudesse se arrepender e me chamar de volta... Mas nada disso aconteceu. Ela não quis me chamar, e não quis sequer me olhar. Ela está tentando me defender de algo que definitivamente existe... Existe na cabeça dela.

- Ela vai ficar bem? - Me aproximei da enfermeira.

- Considerando o caso dela, não sou completamente capaz de lhe responder essa pergunta agora... Sinto muito Srta. Glarson. - Disse ela, e então se afastou indo em direção ao quarto.

Fiquei ali totalmente paralisada, em pé, sem saber o que fazer. Minha vida estava definitivamente arruinada, e eu não sabia mais dizer o que era pior. Preciso que a minha avó volte para nossa casa, mas pelo que me parece, ela está fazendo questão de se manter aqui. Decidi ir para casa. Fui até a recepção e devolvi as coisas que me deram quando cheguei, logo fui para fora do hospital. Assim que pisei meus pés fora, Lucas estava parado bem à frente. Me aproximei dele devagar já que não estava olhando, estava de costas.

- Buh! - Gritei enquanto apoiava minhas mãos em seus olhos.

Ele se virou para mim segurando meus braços, e confesso que gelei nesse exato momento.

- Que surpresa mais agradável. - Ele sorriu para mim, segurando levemente as minhas mãos.

- Surpresa? Eu quem deveria ficar surpresa. O que está fazendo aqui? - Soltei minhas mãos das dele, enquanto me afastava devagar.

- Vim buscar você. Se era um assunto sobre a sua avó, imaginei que você não estaria bem ao sair daqui, e não iria deixar você ir para casa sozinha e mal humorada. - Disse ele, ainda mantendo seu sorriso.

Lucas ultimamente estava agindo de forma tão encantadora, não estou acostumada com isso. Na verdade, isso me assusta um pouco.

- Tudo bem... Eu realmente não estou bem, você adivinhou. - Respondi.

Comecei a andar e ele logo veio caminhando atrás, se aproximou de mim e deu passos rápidos para me acompanhar no meu ritmo.

- Então... A sua avó está melhor? - Perguntou.

- Gostaria que estivesse, mas infelizmente, ela não quer mais me ver. - Falei.

- Como assim não quer ver você? Vocês brigaram? - Ele me encarava com sua expressão surpresa, e então voltava sua atenção para o chão.

- Bom, ela descobriu que eu li o livro, e vamos dizer que não ficou muito contente. - Dei um leve sorriso estampado no rosto, apenas de sarcasmo.

- Isso é impossível, sua avó não está internada? Como ela saberia? - Ele respondeu.

- É isso que também preciso descobrir. Preciso ler aquele livro de novo. - Dei uma pausa nos meus passos, e ele parou também em seguida.

- Emilly, está ficando louca? Se a sua avó tem fontes de fora te perseguindo, então claramente vai ficar mais furiosa se souber que continuou lendo. Se isso chegar aos ouvidos do meu pai, eu vou estar ferrado também, e então iremos ser dois ferrados. - Insinuou.

- Você está certo... - Falei.

- Est... Estou? - Ele gaguejou.

- Sim, pode ser que tenha alguém me perseguindo e eu não tenha notado. - Respondi.

- Quer companhia em casa? - Disse ele com seu sorriso novamente.

Voltei a caminhar e ele voltou a se mover rapidamente após eu sair do lugar.

- Boa jogada, mas não. - Sorri de volta.

Nós fomos andando até a minha casa, ele me acompanhou, e em seguida foi embora. Fico me perguntando o que irei fazer agora... É como se eu tivesse perdido o meu rumo, o meu foco nas coisas. Sempre me senti deslocada em qualquer papel que estivesse, mas ultimamente, ando me sentindo pior do que de costume. O dia passou rápido, já eram 19h da noite. Essa casa tão vazia quanto eu, está me deixando cada vez mais vazia. Fui até a cozinha, peguei um copo e resolvi fazer um chá para tentar acalmar os nervos. Geralmente funciona, mas não sei se vai fazer muito efeito agora. De repente, ouvi um barulho estranho vindo do andar de cima, acho que pode estar vindo do quarto da minha avó.

Ignorei, talvez não fosse nada. Voltei a fazer o meu chá, e novamente o barulho retornou. Coloquei o copo na mesa e resolvi ir dar uma olhada para ver. Subi as escadas em movimentos não alarmantes. Será que um ladrão havia entrado na minha casa? Ao julgar os barulhos, parecia mais que alguém estava derrubando algo. Entrei no quarto da minha avó, fui observando ao redor, mas não havia nada. Olhei para o chão e notei que havia algo diferente sim. Me abaixei para ver melhor, e ao olhar, não entendi muito. Era um álbum pequeno que continha fotos rasgadas. Fotografias do acidente dos meus pais... Me levantei no mesmo instante e corri para a janela. Tentei enxergar ao máximo o mais longe e o mais perto possível, mas ainda assim, não vi nada e nem ninguém por perto.

Pode ser que tenha alguém querendo me assustar, talvez seja isso. Uma brincadeira extremamente sem graça, mas deve ter sido apenas isso, uma brincadeira. Peguei as fotos rasgadas e as joguei no lixo, não iria me fazer bem ficar olhando para elas. Me virei indo em direção a porta, mas parei entre ela. Senti alguém parado logo atrás de mim me observando em pé. Admito que mal conseguí me mexer, senti um calafrio naquele momento e sinceramente, não foi uma sensação que eu adoraria repetir. Voltei minha atenção para a visão do quarto, encarei atentamente novamente, cada detalhe, e cada ângulo daquele quarto, mas ainda assim não encontrei nada.

Resolvi sair dali antes que ficasse completamente maluca. Antes que acabasse como a minha avó...

O Outro Lado - O Segredo da Família GlarsonOnde histórias criam vida. Descubra agora