Fiquei totalmente de queixo caído ao ler aquele começo do livro. Fizeram um tipo de pacto com pessoas da minha família. Agora fico me perguntando, era isso que a minha avó não queria que eu descobrisse? Por isso não queria me deixar ler? São tantas dúvidas e nenhuma resposta. Me pego pensando em silêncio sentada no chão com o livro em mãos. Será que todos já sabiam disso menos eu?
- ESTÁ TUDO BEM, EMI? - Lucas grita do outro lado da porta.
Ainda estou um pouco perpléxa então não tenho reações. Não consegui responder sua pergunta. Escutei o barulho da porta se abrindo, notei ele entrar mas ainda assim não conseguia me mover direito, como se estivesse paralisada. Ele se pôs em minha frente e então repetiu.
- Emilly? Você está bem? - Tocou sua mão em meu ombro me trazendo de volta à realidade.
- Estou... - Falei com a voz falha.
- E então? Sobre o que é este livro? - Perguntou.
- Você não vai acreditar. Ele é sobre... - Uma voz de fundo me interrompe imediatamente. Era a voz do pai do Lucas.
- LUCAS! DESÇA AQUI. - Gritou severamente, o que era comum, já que ele aparentava ser um tanto agressivo.
- Acho melhor você guardar esse livro, antes que o meu pai veja. Depois te empresto para continuar lendo, ok? - Ele se afastou aos poucos de mim e foi em direção ao lado de fora, me deixando sozinha no quarto de antiguidades.
Levantei rapidamente e fui guardar o livro em seu lugar, mas ainda com a mente completamente cheia e difícil de interpretar. Não sabia o que fazer em relação a tudo aquilo agora. Não foi um tempo tão longo, porém consegui ler o suficiente para entender um pouco sobre. De repente me sinto mais pesada, sinto como se o meu corpo estivesse sendo puxado para baixo. Não consigo ouvir nada da conversa do Lucas com o seu pai, não que isso me interesse exatamente... A quem eu estou querendo enganar? Claro que me interessa. Saí de dentro do quarto e fui até o corredor para ouvir melhor. Eles estavam falando super baixo, então foi difícil compreender todas as palavras, me parecia que estavam falando de mim, porém, não posso simplesmente dizer isso assim, não é uma certeza. Meu celular começou a tocar. Peguei-o do bolso rapidamente e sai de perto do corredor para atender.
- Srta. Glarson? - Disse uma voz feminina, me parecia até familiar...
- Sim, sou eu mesma. Quem é? - Respondi no mesmo instante.
- Aqui é a enfermeira que cuida da sua avó, nos conhecemos aqui na sala dela antes de ela ser internada. - Disse ela.
- Ah, sim! Me lembro de você, mas aconteceu algo com a minha avó? - Perguntei.
Já não estava muito bem, agora só me falta piorar...
- A sua avó está em um estado delicado, e exige a sua presença. Imediatamente, se for possível. - O que será que aconteceu agora? Quando imagino que as coisas não podem sair do controle mais do que já saíram, elas deslizam feito água.
- Tudo bem... Mantenha-a calma, já estou a caminho. - Falei e em seguida desliguei o telefone.
Bom, agora não posso ficar aqui de braços atados aguardando Lucas voltar. Preciso ir ver a minha avó nesse exato momento. Desci as escadas em uma velocidade alta.
- Emi, onde você vai? - Perguntou Lucas.
- Me ligaram do hospital, preciso ir ver a minha avó. - Respondi.
Ele começou a me seguir antes que eu pudesse passar pela porta.
- Srta. Glarson, sua avó está bem? - O pai do Lucas se aproximou.
- É o que pretendo descobrir Sr. Peterson. Obrigado pela preocupação e até depois! - Abri a porta antes que Lucas tentasse dizer algo.
Notei que ficaram parados na porta me observando, mas a minha avó era a minha prioridade, e ainda tenho como objetivo principal tirar ela de lá. Ainda não faço ideia de como irei fazer isso, mas vou descobrir. Fui caminhando até o hospital, era um pouco longe, e a caminhada foi de se tirar o fôlego, mas finalmente cheguei. Uma mulher que estava parada em frente ao hospital me entregou um panfleto, e não era algo sobre dentes ou sobre visual, era uma coisa estranha que não fazia sentido algum. Fiquei meio perplexa, mas parecia que tudo o que eu olhava se tornava bizarro, ou que talvez as coisas bizarras estivesse começando a me perseguir. Fui até a recepção.
- Olá, vim ver a Sra. Glarson, sou a neta dela. - Falei, com as palavras quase gaguejando.
- Ah, sim. Trouxeram ela de volta para cá ontem. Estão a sua espera no quarto número 6. - Ela me entregou uma ficha e um crachá, e eu agradeci com um gesto de cabeça.
Fui andando devagar até encontrar o quarto. Aquele hospital parecia um tanto agitado hoje, na vez anterior que estive aqui, estava mais calmo.
- Emilly! Estamos aqui. - A médica fez sinal com as mãos.
- Espero não estar muito atrasada... O que aconteceu com a minha avó? Por que a trouxeram de volta para cá? Pensei que fosse ficar internada em um hospital mais específico. - Tentei ser o mais direta possível.
- Sua avó está piorando a cada hora que passa. Tentamos de todos os jeitos acalma-la, demos remédios a ela, calmantes para ser mais exata. Tentamos colocá-la na terapia também... - Disse ela se recusando a completar sua frase.
- Mas...? - Perguntei.
- Mas ela está tendo colapsos breves. Ataques de pânico, e dificuldade de controle de sensor agressivo. Já desmaiou mais vezes do que piscou, e não para de falar sobre coisas totalmente perturbadoras. Exigiu sua presença, e achamos que talvez você pudesse ajudar em seu processo de sanidade. - Ela completou.
- Posso entrar na sala? - Falei.
Ela saiu do caminho abrindo espaço para que eu passasse. Não sei como ajudar a minha avó. Ela está piorando cada vez mais, e me sinto péssima por não conseguir fazer nada. Ela é a única família que tenho...
- Vó... Você pediu que me chamassem? - Me aproximei de sua cama.
Ela estava deitada, com seus braços e pernas amarrados. Seu rosto estava cheio de suor como se estivesse tendo uma luta interna. Estava mais pálida, aparentava estar fisicamente e mentalmente pior.
- Por que fez isso? - Ela nem se deu ao trabalho de me olhar, disse apenas encarando o teto.
- Do que está falando? Não tive como tirar você daqui ainda, me perdoe, mas vou dar um jeito nisso o quanto antes... - Tentei explicar.
- Você... Leu, não leu? - Ela persistiu.
Será que ela está falando do livro velho? Provavelmente, mas como ela saberia?
- Você foi teimosa o suficiente, eu lhe disse para não fazer e você o fez. A morte dos seus pais foram totalmente em vão e tudo graças a você. - Sua expressão estava totalmente séria e fria. Como ela pode dizer tudo isso assim?
- Por que está falando assim? - Insisti.
- Por que você não soube ficar quieta? Você estragou tudo. Você leu o maldito livro! - Ela finalmente me encarou, mas não era dessa forma que eu queria.
- Como sabe disso? - Questionei. O que de mal poderia acontecer por conta de um livro velho? Não entendo todo esse alarme na qual ela está fazendo.
- Acho melhor você se preocupar em como vai colocar as coisas de volta no lugar. - Os olhos dela começaram a fechar.
- Vó... Por que está dizendo isso assim? - Perguntei com quase lágrimas querendo escorrer.
- Vá embora, não quero mais ver você. Não volte mais aqui! E faça o favor de me obedecer pelo menos dessa vez. - Ela virou seu olhar novamente mirando no teto.
Aquelas palavras da minha avó. O que ela quis dizer com guardar de volta? E por que de repente me tratou tão mal assim, ela nunca agiu assim comigo.
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O Outro Lado - O Segredo da Família Glarson
Mystery / ThrillerEmilly Glarson é uma garota de 16 anos, nascida em Chester (Nova Jersey). Aos seus 5 anos de idade seus pais morreram em um acidente de carro, consequentemente ela cresceu com a sua avó Clarice. Sua cidade tem uma reputação assombrada, Emi descobre...