Comunicação

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As meninas que pediram para irem embora mudaram de ideia assim que o pânico deu lugar à calmaria

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As meninas que pediram para irem embora mudaram de ideia assim que o pânico deu lugar à calmaria. Ninguém sabia exatamente quem havia solicitado a saída, mas algumas — principalmente Kelli — estavam determinadas a descobrir. Havia no ar uma curiosidade maliciosa, como se cada mínima falha fosse uma pista a ser desvendada. Por enquanto, éramos ainda vinte e sete, mas o silêncio que restou após o caos parecia mais pesado que o próprio tumulto.

Iris explicou que, se o ataque tivesse sido mais grave, teríamos permissão para telefonar para nossas famílias e avisar que estávamos bem. Ao ouvir isso, a ideia de falar com meus pais provocou um pequeno colapso interno. Durante alguns instantes, desejei desesperadamente ouvir suas vozes, uma âncora de segurança, mas a realidade logo me trouxe de volta: nos permitiriam apenas escrever cartas. Redigi a minha com cuidado, escolhendo as palavras com precisão, numa tentativa de tranquilizá-los. Era como se o ato de escrever fosse, para mim, uma forma de forjar coragem, como se ao pôr as palavras no papel, o perigo desaparecesse por completo.

No dia seguinte, tudo parecia ter voltado ao normal, pelo menos na superfície. O clima era como o de uma ressaca, onde todos fingiam que nada havia acontecido, que o céu nunca escureceria. Eu tinha planejado descer até o Salão das Mulheres e aproveitar a oportunidade para promover Percy entre as garotas, mas o estado de Sam ainda rondava minha mente. A visão de sua vulnerabilidade havia mexido comigo de um jeito inesperado, e a solidão do meu quarto me pareceu mais reconfortante naquele momento. Eu não sabia exatamente o que minhas três criadas faziam quando eu não estava presente, mas, na minha companhia, jogávamos cartas e elas me contavam uma fofoca ou outra.

Foi assim que comecei a perceber a vastidão do palácio. Para cada dez pessoas que via, havia centenas de outras invisíveis, trabalhando para manter tudo em perfeito funcionamento. Eu já conhecia as cozinheiras e lavadeiras, mas me surpreendi ao saber que havia pessoas cuja única tarefa era limpar as janelas — uma função sem fim, já que a poeira retornava logo após o último vidro ser polido. Também havia ourives, costureiras e compradores de tecidos. Todos eles formavam um exército silencioso, que trabalhava nas sombras para manter a perfeição ilusória do palácio. Nós, as Selecionadas, éramos apenas a parte visível dessa máquina incansável.

Fiquei sabendo também que alguns dos funcionários haviam começado a fazer apostas sobre qual de nós venceria. Descobrir que eu estava entre as dez favoritas foi desconcertante. Era estranho pensar que o destino de cada uma de nós, tão cheio de incertezas e emoções, fosse visto como mero entretenimento por aqueles que observavam à distância. Uma das criadas até confidenciou, com os olhos marejados, que o bebê de uma amiga próxima estava gravemente doente e já havia sido desenganado pelos médicos. Havia uma tristeza crua na voz dela, algo que me atingiu de forma inesperada. Naquela atmosfera controlada e artificial, era fácil esquecer que todos ali carregavam suas próprias lutas silenciosas.

O ambiente no quarto estava tão agradável e tranquilo que, no dia seguinte, decidi novamente não descer. Dessa vez, deixamos as portas do corredor e da sacada abertas, permitindo que uma brisa suave circulasse. A brisa acariciava Silena de um jeito que a fazia relaxar completamente, e me perguntei se ela alguma vez já havia deixado o palácio. Calypso, sempre atento às regras, fez um comentário sobre como era inapropriado que eu, uma Selecionada, estivesse jogando cartas com as criadas de portas abertas. Mas logo desistiu da tentativa de impor formalidades, talvez percebendo que meu desejo de ser eu mesma era algo impossível de moldar.

Estávamos no meio de uma partida de cartas quando notei uma silhueta na porta. Olhei para cima e lá estava Percy, parado, com uma expressão de surpresa e admiração, como se tivesse tropeçado numa cena que jamais esperaria encontrar. Nossos olhares se cruzaram, e eu soube imediatamente o que seu rosto perguntava: "O que você está fazendo?". Levantei-me com um sorriso e caminhei em sua direção.

— Ai, meu Deus — murmurou Calypso, notando o príncipe. Ela rapidamente enfiou as cartas no cesto de costura e se levantou. Silena e Sam a seguiram.

— Senhoritas — cumprimentou Percy com uma leve reverência.

— Majestade — Silena respondeu com uma reverência mais profunda. — É uma grande honra.

As criadas se entreolharam, claramente lisonjeadas. Um silêncio constrangedor se seguiu, e Sam, tentando aliviar a situação, exclamou:

— Estávamos de saída.

Calypso rapidamente acrescentou:

— Sim, íamos... hã...

Ela olhou para Silena em busca de ajuda.

— Íamos terminar o vestido da senhorita Annabeth para sexta-feira — completou Silena.

Com sorrisos tímidos, as três saíram do quarto, fazendo reverências desajeitadas antes de desaparecer no corredor.

Percy sorriu, claramente divertido.

— Que turma você tem — comentou ele, enquanto olhava ao redor do quarto.

— Elas me mantêm motivadas — respondi, tentando conter um riso.

Percy parou em frente ao espelho, observando as fotos da minha família.

— Você se parece muito com seu pai, exceto pelos olhos — comentou, intrigado.

Rolei os olhos, sorrindo.

— Já perdi a conta de quantas vezes ouvi isso. E então, o que você veio fazer aqui? — perguntei, tentando mudar de assunto.

Percy sorriu de leve.

— Bem, tive uma ideia... — começou, hesitante. — Nós não temos o tipo de relacionamento típico, então pensei que podíamos nos comunicar de um jeito menos formal.

Ele sugeriu que tivéssemos um sinal secreto para quando quiséssemos falar em particular, como coçar o nariz. Rindo, recusei a ideia, até que finalmente concordamos em mexer discretamente na orelha. Era simples, mas eficaz.

— Da próxima vez que quiser falar comigo, basta mexer na orelha, e eu virei assim que puder — disse ele, com um brilho divertido nos olhos.

Percy passou a mexer em meu colar, o colar de minha mãe. Pedi que ele o devolvesse, e ele o fez, ainda mais intrigado.

— Até mais tarde, sabidinha — disse ele, ao sair.

Respondi sem pensar:

— Assim espero, cabeça de alga.


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