Encontro de amor

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A primeira sexta-feira chegou com uma mistura de expectativa e ansiedade

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A primeira sexta-feira chegou com uma mistura de expectativa e ansiedade. Estávamos prestes a fazer nossa estreia no Jornal Oficial dos Estados Unidos, e mesmo que nossa participação fosse passiva — apenas sentar e assistir — o nervosismo era palpável. A ideia de sermos vistas por toda a nação causava um frio na barriga, e, ao mesmo tempo, uma euforia difícil de conter.

O protocolo exigia que estivéssemos prontas para a transmissão às cinco da tarde, devido aos fusos horários, então ainda tínhamos algum tempo. Minhas criadas — Calipso, Silena e Sam — se empenharam em me preparar com uma delicadeza quase reverente. O vestido longo, de um rosa claro sutil, caía com suavidade, ajustando-se perfeitamente à minha cintura e esvoaçando em uma leve ondulação acetinada. Cada detalhe — dos pequenos botões que elas abotoaram nas minhas costas até os grampos incrustados com pérolas nos meus cabelos — parecia retirado de um sonho. Completaram o visual com brincos de pérolas discretos e um colar que parecia flutuar no meu pescoço, de tão delicada que era a corrente.

Quando me olhei no espelho, a imagem refletida ainda era a minha. O rosto que eu conhecia tão bem estava intacto, apenas embelezado por aquele toque de sofisticação. Desde o início da Seleção, temi me perder debaixo de tantas camadas de artifícios, joias e maquiagem, mas, naquele momento, ainda me sentia Annabeth, e isso trouxe um conforto inesperado.

Ao caminhar para o estúdio do palácio, percebi minhas mãos suadas, algo que eu não conseguia evitar. Eu sempre fui pontual, então, mesmo que o horário exigido fosse dez minutos antes, para mim significava chegar quinze. Algumas garotas, como Reyna e Kelli, apareciam com o tempo contado, enquanto outras, como eu, já aguardavam ansiosas. O estúdio fervilhava com a energia caótica dos preparativos finais — membros da produção ajustavam o cenário, as Selecionadas checavam os vestidos e ajeitavam o cabelo, e os conselheiros do rei, figuras que eu reconhecia dos noticiários, revisavam suas falas e arrumavam as gravatas.

Foi no meio desse turbilhão que avistei Percy em um momento íntimo e despretensioso: sua mãe, a rainha Sally, arrumava com cuidado alguns fios rebeldes do cabelo dele, enquanto ele sorria em resposta. O gesto era tão simples, mas carregado de uma ternura que me fez sentir uma pontada de saudade de casa. Antes que eu pudesse me perder mais nessa cena, Iris surgiu ao meu lado, me levando até meu lugar.

— Pode sentar onde quiser, mas as garotas já ocuparam a fileira da frente — ela disse, com uma expressão quase apologética.

Sentei-me na última fileira, o que não me incomodou em nada. Preferia ficar um pouco mais afastada de toda aquela formalidade. Logo em seguida, Piper chegou e sorriu para mim, sentando-se ao meu lado. Havia algo tranquilizador na escolha dela de ficar comigo, uma espécie de solidariedade silenciosa que me fez gostar ainda mais dela. Seu vestido azul brilhante parecia irradiar luz, combinando perfeitamente com sua pele bronzeada.

— Piper, você está incrível! — elogiei, genuinamente admirada.

Ela corou levemente, e entre nós se formou uma troca de confidências e elogios que, por um momento, amenizou a tensão. Conversamos em sussurros sobre nos encontrarmos no Salão das Mulheres no dia seguinte, algo que me animou — era um alívio ter alguém como Piper por perto.

Enquanto esperávamos o início da transmissão, outras garotas se juntaram a nós. Rachel pediu ajuda para arrumar os enfeites do cabelo, e Clarisse, com seu batom marrom impecável, me perguntou se seus dentes estavam limpos. Esses pequenos momentos de camaradagem faziam tudo parecer menos intimidador, quase como se estivéssemos nos preparando para um evento qualquer, e não uma transmissão nacional.

No entanto, o clima descontraído logo foi interrompido por um incidente que causou murmúrios nervosos entre as Selecionadas. Olivia, que vestia um ousado vestido laranja, de repente começou a passar mal. Vomitou em uma lata de lixo próxima, deixando todas nós chocadas, e, logo em seguida, desmaiou. Iris rapidamente organizou o cenário e colocou a garota na última fileira com um balde aos pés, caso precisasse de novo.

No meio dessa confusão, meus olhos se desviaram para Percy, e para minha surpresa, ele estava olhando diretamente para mim. Antes que eu pudesse reagir, ele tocou a ponta da orelha de forma quase imperceptível — nosso sinal secreto. Fiz o mesmo, e nossos olhares se encontraram por um breve segundo antes de nos separarmos.

O hino nacional começou a tocar, e as luzes se acenderam. O brasão dos Estados Unidos apareceu nas telas, e eu me endireitei na cadeira, consciente de que meus pais, minha família, estariam me assistindo com orgulho. Zeus iniciou seu discurso sobre o ataque ao palácio, minimizando o pânico que todas nós havíamos sentido. As notícias se sucederam, e eu fiz o possível para prestar atenção, mas minha mente vagava. Fiquei questionando tudo o que sabia sobre os rebeldes e sobre o que realmente acontecia fora dos muros do palácio. Era estranho pensar que, por tanto tempo, havia aceitado passivamente o que me contavam.

Foi então que Grover, o mestre de cerimônias, entrou no palco para falar diretamente com Percy. A conversa começou leve, quase divertida, mas foi quando Percy mencionou que uma das Selecionadas havia gritado com ele que meu coração disparou. Ele não precisava dizer meu nome — eu sabia que estava falando de mim. As garotas ao meu redor trocavam olhares confusos, tentando adivinhar a quem ele se referia, enquanto eu tentava manter a compostura.

— Ah, sim — Percy concluiu, olhando diretamente para Grover. — E planejo mantê-la aqui por um bom tempo.

Eu queria afundar no chão de tanta vergonha, mas ao mesmo tempo não pude deixar de sorrir, apreciando aquele momento em que Percy, tão relaxado e à vontade, fazia piada com a nossa interação. Ele estava me desafiando, e eu sabia que, quando tudo aquilo acabasse, teria algo a dizer a ele.

O programa seguiu seu curso, mas para mim, aquele breve olhar trocado com Percy e a leve provocação foram o ponto alto da noite. E, de alguma forma, enquanto as câmeras continuavam a rodar, percebi que essa jornada estava apenas começando — e que, apesar de todas as dificuldades, eu estava pronta para enfrentá-la, ainda sendo eu mesma.

A Seleção | PercabethOnde histórias criam vida. Descubra agora