Seis é demais

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Os cinegrafistas circularam pela sala, capturando imagens de todos os ângulos, antes de finalmente nos deixar em paz para o café da manhã. Claro, sem antes filmar o príncipe Percy, que parecia imune àquela rotina de câmeras. Eu, por outro lado, ainda estava processando a recente eliminação e o ambiente tenso que ela havia criado, mas Percy permanecia relaxado. Ele comia tranquilamente, uma serenidade que me fez lembrar de terminar meu prato antes que esfriasse. O sabor era espetacular, como antes. O suco de laranja, tão fresco e puro, exigia que eu tomasse pequenos goles, apenas para prolongar o prazer. Os ovos e o bacon pareciam vindos de um banquete celestial, e as panquecas tinham a textura perfeita, nada parecidas com as finas e queimadas que eu costumava fazer em casa.

À medida que o silêncio se instalava, escutei pequenos suspiros de satisfação ao redor da sala, um sinal de que eu não era a única encantada com a refeição. Sem perder a compostura, peguei cuidadosamente um pedaço da torta de morango no centro da mesa.

Levei o primeiro pedaço à boca e, imediatamente, a doçura do morango e a delicadeza da massa derreteram em meus sentidos. Foi tão perfeito que, por um momento, o mundo ao meu redor desapareceu. Eu queria evitar qualquer reação exagerada, mas aquela torta era, sem dúvida, a coisa mais deliciosa que já provei.

— Senhorita Annabeth? — uma voz inesperada me chamou de volta à realidade.

Todas as cabeças na sala se voltaram na direção do príncipe Percy. Ele tinha falado comigo, de forma descontraída e, para minha surpresa, diante de todas. O choque do momento foi agravado pelo fato de que minha boca ainda estava cheia de comida. Cobri-a com a mão, mastigando rapidamente, sentindo o calor subir ao meu rosto. Dez segundos. Talvez tenha demorado menos, mas com tantos olhares sobre mim, pareceram horas. Entre as observadoras, notei Kelli sorrindo de canto, como se já me visse derrotada. Para ela, eu era uma presa fácil.

— Sim, Majestade? — consegui responder após engolir o último pedaço, lutando para manter a compostura.

— O que está achando da comida? — A pergunta foi feita com uma leveza que me pegou desprevenida, seu tom quase brincalhão.

Percy parecia à beira de rir. Talvez da minha expressão atordoada, talvez pela lembrança de nossa primeira conversa, claramente proibida pelas regras. Eu precisava manter a calma.

— Está excelente, Majestade. Essa torta de morango... Bem, eu tenho dois irmãos que adoram doces mais do que eu. Aposto que eles devorariam essa torta em seis segundos. Está perfeita.

Ele parou um momento, engolindo um bocado de sua própria comida, antes de recostar-se com um sorriso intrigado.

— Seis segundos? Isso é um tempo impressionante. — Seus olhos brilhavam com curiosidade.

— Com certeza. Eles são rápidos — acrescentei, rindo internamente ao imaginar meus irmãos comendo como se não houvesse amanhã.

— Apostaria dinheiro nisso? — Ele arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo com a situação.

As cabeças ao redor da mesa viraram de um lado para o outro, como se estivéssemos em uma partida de tênis. Percy estava gostando desse jogo, e eu sabia que teria que acompanhá-lo.

— Se eu tivesse dinheiro para apostar, sem dúvida o faria. — Respondi com a mesma leveza, sentindo um certo prazer no flerte velado.

— E o que gostaria de apostar, então? — Ele inclinou-se levemente para frente, seus olhos nunca deixando os meus. — Parece ter talento para negociações.

Eu quase ri. Ele estava aproveitando cada segundo disso. Muito bem, se ele queria jogar, eu jogaria.

— O que Vossa Alteza gostaria de ganhar? — rebati, fingindo inocência, enquanto me perguntava o que alguém que tinha tudo poderia querer.

— E o que a senhorita quer? — devolveu, agora com um brilho mais intenso no olhar. Uma pergunta perigosa.

— Se eles devorarem a torta tão rápido... quero os melhores livros de arquitetura que puderem me conseguir. — Minha proposta saiu sem hesitação, e um leve murmúrio de risos correu pela sala.

Até a rainha e Zeus sorriram, seus olhares divertidos me deixando menos nervosa. A rainha me olhava de forma quase afetuosa, como se minha ousadia a tivesse agradado. Senti um alívio tímido, como se, de repente, eu não fosse mais uma completa estranha naquele castelo.

— Feito — declarou Percy, com um brilho nos olhos. — Mas, se eles não comerem tão rápido, a senhorita me deve um passeio pela propriedade amanhã à tarde.

Um passeio pela propriedade? Minha mente travou por um segundo. Se perdesse, eu seria a primeira garota a ter um encontro a sós com o príncipe. Parte de mim quis renegociar, mas o peso de minhas promessas anteriores me impediu.

— Seus termos são duros, Majestade, mas os aceito. — Senti meu coração quase parar quando ele sorriu vitorioso, e o suspiro coletivo das outras meninas encheu a sala.7

— Justin? — Percy chamou o mordomo, que já estava a postos. — Embrulhe as tortas de morango e envie-as para a família da senhorita Annabeth. Quero um relatório sobre o tempo de consumo.

O mordomo acenou e saiu, e naquele momento percebi que deveria ter dito cinco segundos.

— Talvez devesse escrever um bilhete para acompanhar as tortas — sugeriu Percy, relaxado. — Na verdade, todas vocês deveriam escrever para suas famílias.

Um alívio visível percorreu o grupo. Assim que terminamos o café, Silena, sempre prestativa, trouxe papel e canetas, e comecei a escrever. Contei para meus irmãos sobre a aposta com Percy, imaginando suas risadas quando recebessem aquelas tortas "real". A minha madrasta, descrevi o castelo e suas pessoas gentis, como se ela estivesse ao meu lado, observando tudo com seus olhos críticos. Já para meu pai... Bem, talvez tenha me empolgado. Escrevi detalhadamente sobre a arquitetura, sobre as conversas com Percy, e até mencionei Piper, a garota gentil que conheci no aeroporto.

Após uma hora, o mordomo voltou, recolheu as cartas e partiu. E enquanto o dia continuava, eu só conseguia pensar no que aconteceria no dia seguinte, quando enfrentaria Percy naquele passeio.

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