Your Blood Is My Wine - ZoSan

I want.

Notas: Atualizando aqui de boas essa história que ultimamente está surpreendentemente não-angst :o (até quando?...) Acho que nessa despedida dá pra notar a diferença da interação deles desde a última vez em que teve um capítulo parecido :> //

Zoro havia decidido finalmente voltar a caçar. Já havia se recuperado completamente há muitos dias, mas andava inconscientemente evitando tomar essa decisão, com a desculpa de treinar mais para compensar os dias que ficou imóvel na cama. Mas talvez por ter se acostumado àquela rotina. Passar a noite acordado com o vampiro, fosse treinando, discutindo ou trocando carícias. Se despedir dele quando ia para seu calabouço. Acordar ao meio-dia e comer o prato de comida que Sanji sempre deixava pronto para ele. Treinar e... Esperar.

Esperar... O quê? Era estranho. Pensar que estava esperando sempre o sol se pôr, aguardando ansiosamente, ainda que relutasse em admitir, a escuridão da noite. Parecia que estava vivendo ao contrário, que tudo estava de cabeça para baixo. Porque a noite com certeza não deveria trazer nada a ninguém senão medo e frio. Entretanto, cada vez que Sanji finalmente acordava e lhe dava um dos seus sorrisos calorosos, ele podia jurar que se sentia mais aquecido do que qualquer dia que tivesse passado debaixo do sol quente.

E o sol realmente estava quente naquele dia. Já estava quase se pondo mas ainda fazia as costas do espadachim esquentarem, enquanto ele exercitava o corpo do lado de fora do castelo, o último treino que teria antes que pudesse partir. Quando finalmente se cansou e pôs a roupa novamente, resolveu pôr um pouco de água e comida para a égua, já que precisariam percorrer uma certa distância e ele sabia que ela não apreciava tanto viver apenas de grama.

— Vamos, coma. Vai se arrepender depois se não o fizer. — Zoro disse um pouco irritado para o animal que ao invés de olhar para a comida estava o encarando estranhamente. Ela aproximou um pouco a cabeça e começou a cheirá-lo com entusiasmo e Zoro por um momento pensou que estivesse interessada em comer suas vestes ou algo do tipo, mas a maldita égua apenas o mordeu, parecendo muito irritada consigo.

— O que diabos?!!! O que deu em você pra fazer isso? — Zoro encarou aquela maluca mal-agradecida, não entendendo qual o sentido de cheirá-lo e depois mordê-lo. Ele levou o nariz até as próprias vestes e se cheirou para saber se estava fedendo tanto assim ou algo do tipo, mas tudo que conseguia sentir era o cheiro normal das suas roupas e talvez... O cheiro de Sanji. Oh. — Mas qual o problema do cheiro dele estar em mim? Égua esquisita.

Sanji não queria acordar naquela noite, sabia que era o dia que Zoro partiria e mesmo que tenha tentado muito convencê-lo do contrário, apenas ouviu um estúpido "O dever me chama". Era um idiota inconsequente. Se pudesse, iria com ele para qualquer lugar, o protegeria, mesmo que por mais imbecil que fosse, Zoro era forte e sabia se cuidar, ainda que de forma desleixada. Nada restava ao vampiro aguardar seu retorno e aceitar seu destino.

Ele seguiu pelo castelo após se levantar, em busca do jovem sem cérebro, encontrando-o apenas do lado de fora. Sentiu um calor agradável em seu coração ao ver como o garoto sofria nas mãos de Hime. Bom, não exatamente mãos. Gostava de ver que Zoro também havia se apegado à ela, assim como o próprio vampiro.

— Estou atrapalhando o momento de ternura dos dois? — Sanji disse rindo de como o jovem caçador conseguia se desentender até com Hime, que era um anjo muito dócil. Zoro apenas olhou feio para ele, com certeza um tanto envergonhado pelo vampiro tê-lo visto conversando com ela, coisa que costumava negar veementemente que fazia.

Ele percebeu que Zoro estava trajado com suas roupas de viagem, e seus poucos mantimentos já estavam acomodados na sela de Hime, fazendo com que soubesse que o espadachim não tinha mudado de ideia e ainda planejava partir, o que não exatamente o agradava muito. Na verdade, não gostava da ideia nem um pouco.

Estava sendo confortável passar os dias com Zoro no castelo, Sanji tinha um objetivo, uma razão para acordar toda noite. Ele gostava de cozinhar para o garoto, de vê-lo comendo com tanta vontade a comida que preparava com tanto carinho e, por mais que não elogiasse nunca, sabia que estava bom só pela expressão em seu rosto. Era agradável a convivência e ele acabou se acostumando. O baque quando notou que Zoro estava voltando para as caçadas foi um tanto dolorido. Estava se iludindo, se deixando levar pela boa convivência recheada de insultos e troca de golpes, mas também havia carícias que ele apreciava muito. Não queria que Zoro fosse embora, mas sabia que ele voltaria logo, tinha certeza mais do que qualquer outra vez.

Durante aquelas semanas em que o outro esteve de recuperação, Sanji conseguiu testar novas combinações de onigiri, tentando sempre encontrar o sabor que Zoro tanto amava, que traria lembranças agradáveis de sua infância. Ainda não havia conseguido, mas Zoro sempre gostava e antes dele partir, preparou com os ingredientes não perecíveis onigiris o suficiente para uma semana, entregando em uma bolsa para o jovem.

Zoro não precisava nem perguntar para saber o que era, Sanji sempre insistia para que se alimentasse bem e já estava acostumado a receber comidas antes de viajar. O que certamente era uma melhora comparado à época em que ele comia o que conseguia encontrar pelos bosques durante suas caçadas. Não sabia direito como se despedir de Sanji, então não disse nada, mas antes que ele pudesse se virar e partir, o loiro o beijou profundamente, como uma despedida.

O espadachim pensou que era bom fazê-lo uma última vez antes de ir, mas ao mesmo tempo que era injusto que o fizesse. Porque tornava bem mais difícil a resolução de deixá-lo no castelo. Seus lábios o beijavam como se realmente não quisessem se despedir e seu cheiro inundava suas narinas. Zoro pensou imediatamente na égua o cheirando e em como ele estava com um pouquinho do cheiro de Sanji. E em como aquilo não seria o suficiente. Quando se afastaram, segurou o casaco que o vampiro usava com força.

— Eu quero. — Zoro disse da forma mais egoísta possível que queria aquela roupa. Que queria aquele cheiro do qual um dia quis tanto se livrar.

— Irei buscar um para você. — O loiro não entendeu, mas assim que sugeriu pegar outro para ele, Zoro apertou ainda mais o que vestia como se estivesse insistindo que fosse aquele.

— Esse. — Zoro enfatizou seu pedido, que era tão egoísta e mimado que chegava a parecer uma ordem. Não havia problema, então Sanji apenas o retirou e colocou no corpo moreno. Atrás do outro, conseguia ver Hime bufando como se estivesse irritada, arrancando risos do loiro, que se aproximou para acariciar a bela crina em seu pescoço, ouvindo-a relinchar como se quisesse demonstrar estar gostando.

Em compensação, quando se afastou dando espaço para Zoro montá-la, ela pareceu dar um passo para o lado oposto propositalmente quando o jovem pegou impulso para subir, fazendo-o quase cair no chão. Sanji não conseguia evitar as risadas, era hilário o relacionamento dos dois, quase como se disputassem sua atenção.

Quando Zoro finalmente conseguiu domar a fera, os dois ficaram se encarando em silêncio por alguns minutos, como se tivessem muito a dizer, mas não sabiam colocar em palavras. Era normal momentos de silêncio, mas costumavam ser calmos e agradáveis, aquele era bem mais pesado. Sanji só arrumou forças para abrir a boca quando o outro se virou para partir.

— Volte logo... — Ele fez o pedido baixo, na esperança de que nem fosse ouvido. Mas o balançar positivo que Zoro fez com a cabeça e o grunhido que saiu de sua boca, era a resposta que precisava ouvir, que o deixaria seguro. Era bom saber que ele estava aceitando seu desejo egoísta.

Zoro poderia achar que era apenas para alimentá-lo e certamente o teria se fosse há alguns meses, mas estava certo que não era apenas por seu sangue que Sanji desejava seu retorno.

Enquanto ele partia, o loiro apenas conseguiu sorrir de leve, até vê-lo sumindo de seu campo de visão.