Vida Longa Ao Rei

Capítulo 1: Um Possível Adeus

Eles diziam que era fácil ser um governante, diziam que era só você ser bom o suficiente, o reino ia ir bem, o povo ia amar, mas uma visão tão superficial quanto essa? Não é assim que eu conheço. Não foi assim que aconteceu, meus erros trouxeram consequências que eu jamais imaginei. O que eu mais queria eu consegui, o que eu mais amava, eu perdi.

Um som de espadas cruzando-se, o cheiro de sangue e ferro no ar, em todas as direções, só era possível enxergar uma única coisa, morte. Pessoas lutando acabariam em morte, soldados no chão, esses já estavam sem vida alguma, gritos, barulho estridente. Essa guerra parecia uma eternidade.

Não se sabia a quanto tempo o Oeste confrontava o Norte, talvez já tenha sido há séculos, desde que o reino crescia, essas duas regiões já estavam em guerra. O Leste não ajudava nenhum lado, mas também não tinha motivo para atacá-lo. Pelo menos, ninguém o fez.

Bernado era um guerreiro, mas acima de tudo, era um líder, ele não queria ver morte novamente, não queria perder aqueles que amava, mas já perdeu, não havia volta, porém, qual o sentido de continuar essa batalha? Famílias iriam perder seus amados, comerciantes iam à falência, e situações que só levariam a piores consequências.

"Como posso ser considerado um bom líder, o que eu causei? Por que você não está do meu lado?" Disse Bernardo para si mesmo.

Ele caminhava lentamente até o exército inimigo empunhando sua espada, sua cabeça estava definitivamente em outro lugar. "Ah, essa espada, foi ele quem me deu, você já está comigo a tantos anos, definitivamente mais tempo do que ele."

Bernardo olhou ao seu redor novamente. faltava mais uma pessoa, sua general, a mulher mais poderosa dentre as quatro regiões, mas onde ela está? Ela também se foi? Mas por quê? Ah sim, falta mais uma pessoa, aquele jovem alegre, seu melhor amigo, cadê? Por que as pessoas estavam sempre propensas a abandonar e abandonar, a deixar o seu lar, a sair do seu lado? Isso dói. Dói demais. Continuar a viver sem essas pessoas, não faz sentido.

Uma voz feminina o chamou, "Senhor, nós vamos perder, precisamos recuar, desse jeito o Leste vai dizimar nossos soldados!"

Ele não parecia estar tão preocupado com isso, "Nós vamos perder, sim, mas essa é uma dívida de sangue a qual só eu posso pagar. Recue, eu irei enfrentar ele, isso começou anos atrás, está na hora de resolver."

"Senhor, eu me recuso a deixá-lo aqui,se vamos lutar até a morte, lutaremos aqui e com você!"

Bernado riu cruelmente. Ser um rei tinha enormes desvantagens, ser um rei aceitável, era pior ainda. As pessoas morrem por você, se sacrificam por você, fazem inúmeras coisas desnecessárias apenas para que o próprio rei obtenha a vitória. Assustador. É assim que aqueles reis podres se aproveitavam facilmente.

Bernado riu novamente, "O rei podre definitivamente sou eu, eu menti para meu povo, durante anos e anos, eu matei, e coloquei a culpa em outro, por que vocês só não podem me deixar morrer em paz? com alguma honra, por quê? Eu não aguento mais, apenas vão embora, eles querem a cabeça do rei, eles terão."

"Majestade..."

A jovem garota estava chocada, enquanto Bernado já não tinha o mesmo olhar alegre, mas para a jovem, ela nunca o viu sorrir, ele era sempre carregado de um olhar apático, como se não tivesse mais nenhum propósito, o jovem rei que um dia sonhou com a esperança, agora não passava de um homem velho sem fé.

Os dois estavam no meio do campo sem mais palavras para dizer, a mulher podia sentir um arrependimento enorme, mas não sabia o motivo. O reino progrediu tão bem, como ele poderia estar infeliz? Era solidão? Não era fácil arrumar um esposo invés de se afogar em lágrimas?

Cada um debatia seus próprios ideais em meio a guerra, até que o homem de cabelos ruivos falou com um tom raivoso. "Você quer tanto assim morrer? você não sacrificou-se para conseguir o que tanto desejou? Sua Majestade conseguiu, mas é hora de seguir em frente não acha?"

Ele não entendia, esse rosto, essa voz, a pinta na testa que amava beijar, os olhos tranquilos que agora eram ferozes, todas essas pequenas coisas, agora estava em seu lado oposto. Mas Bernado não conseguia achar a verdade, como sua paixão de anos poderia estar lá, lutando contra ele. O homem sabia a verdade, sabia que seu amado deixava ganhar todas as vezes que praticavam juntos, no fundo ele estava ciente, tinha total certeza que não era capaz de ganhar dele, em nada.