Capítulo 14: Cartas

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Se preparando para resolver os assuntos de seu pai, Bernado pegou algumas coisas que poderia precisar. Sempre foi um pouco obcecado com sua higiene pessoal, suas manias irritaram muitos no exército, afinal, quem gostaria de parar uma viagem para que o jovem príncipe tomasse banho? Todos os dias os pobres soldados paravam em algum lago e esperavam pacientemente o príncipe.

Bernado pegou alguns conjuntos de roupas mais simples e outras formais. Assim que tudo estava pronto, começou a escrever uma carta para seus amigos. Anabel foi a primeira.

"Cara Anabel,

Falta apenas algumas semanas para seu aniversário, infelizmente não poderei estar ao seu lado para competir quem atira em mais maçãs, mas eu escreverei uma carta para que chegue no dia, não que eu goste de você, é apenas um cumprimento de um rival, infelizmente não posso te chamar de feia já que você teve sorte suficiente de se parecer um pouco comigo. Obviamente sou mais lindo, mas isso não vem ao caso. Partirei ao Leste nos próximos dias, meu pai me pediu para que eu resolvesse seus assuntos com o líder de lá, não entendi muito bem, de acordo com ele será mais um aprendizado para o futuro. Tenho medo de encontrar o André, e ser doloroso, afinal ele é meu antigo melhor amigo, tenho mais medo de não o encontrar. Apenas alguns pensamentos, espero que você fique bem. Eu não te amo, não sei finalizar cartas. Boba."

Ao fim de sua carta, Bernado se preparou para escrever as próximas, que agora seria para Tomás.

"Tomás,

Você deveria parar de ser lerdo. O aniversário de minha prima chegará daqui a algumas semanas, se você realmente quer conquistá-la, deveria mandar um arco novo. Ela odeia joias. Voltando ao assunto, estarei indo para o Leste, quero agradecer por me dizer que ele passou em uma das escolas com maior prestígio, caso eu o veja, vou lhe dizer que você continua baixinho como sempre. Suas esperanças de crescer se foram. Até algum dia."

Bernado pensou que tinha que enviar mais algumas cartas, e com isso as finalizou rapidamente. Assim que saiu de seu quarto, foi até onde ficava o seu pai.

O rei estava sempre naquele mesmo quarto. O quarto do rei tinha tons de azul turquesa, as paredes com ornamentos castanhos, e algumas figuras douradas de beija-flor esculpidas nas colunas de madeira nos cantos do quarto, a cama era ainda maior com cortinas e lençóis dourados que em frente ficava uma penteadeira feita de ouro puro, alguns sofás de mesma cor azul espalhados pelo quarto e um tapete azul marinho que seguia até uma simples varanda que era onde o rei Josias estava.

"Pai, eu estou partindo agora."

"Tenha uma boa viagem. Tenho fé em você meu filho."

Saindo do quarto de seu pai, ele foi em direção à praça externa do castelo. Como não queria chamar atenção, Bernado resolveu apenas pegar um dos cavalos. Seu pai estava preocupado, então pediu que alguns habilidosos guerreiros seguissem de longe. As viagens eram bem calmas, Bernado sempre parava em alguns lugares para comer, tomar banho, trocar suas roupas, Pandora gostava de ficar no conforto de seu dono, e o acompanhava sempre. Cerca de três dias se passaram quando finalmente chegaram até o palácio do Leste.

Com sua chegada, alguns servos vieram receber o jovem que andava apenas com um cavalo e roupas simples. O servo realmente duvidava se era o príncipe.

"Sua Alteza?"

Descendo do cavalo, ele responde, "Sim. Vim visitar Sua Majestade em nome de meu pai. Sua doença está pior e não teve condições de vir pessoalmente."

"Por favor, me siga até seu quarto, Sua Majestade foi caçar e não está no momento."

Bernado sorriu. "Devo fazer outro pedido."

"Sim?"

"Gostaria de andar pela cidade. Enquanto Sua Majestade não estiver no momento, irei me familiarizar com os locais. Devo lembrar que tens até praias, certo?"

O servo parecia um pouco em dúvida, mas concordou.

Bernado se dirigiu até a cidade, passeando pelos lugares. Nessa região as terras eram tão vermelhas, as casas eram feitas de madeira com paredes coloridas, era como um arco-íris, muitas senhoras mantinham flores nas janelas e conversavam com as outras pessoas que passavam. Indo em direção a parte mais humilde da cidade, era ainda mais animado. Havia crianças por todos os lados correndo e brincando, comerciantes vendendo joias, doces, salgados. Admirando a paisagem, uma pequena criança bateu de frente com Bernado. Pandora se assustou e foi para fora de suas roupas, ele segurou a gata nos braços e a criança caiu no chão com a batida. A criança não esperava que o moço em sua frente se agachasse para ajudá-la. "Você está bem?"

"O senhor não vai me bater?" Perguntou o garotinho, ele deveria ter cerca de oito a nove anos de idade, suas roupas estavam todas sujas de barro, seus cabelos pretos estavam bagunçados e seu olhar um pouco assustado.

"Não há necessidade de agredir uma criança. Você não se machucou?"

"Não senhor!" O garotinho olhou para a gata em seus braços. "P-posso fazer carinho?"

Bernado riu e colocou Pandora no chão. O garoto acariciou sua cabeça enquanto esboçava um rosto divertido. "Ah...Senhor, eu posso mostrar para os meus amigos?"

"Vamos até eles." Bernado se levantou e o garotinho pegou sua mão para levá-lo até as outras crianças.

Com casas em volta e um campo de terra plano, as crianças chutavam uma espécie de bola feita com trapos. O garotinho chegou segurando a mão de Bernado e logo gritou. "Gente, olha a gata desse moço, ela é muito fofa."

Por ser muito alto, Bernado apoiava um pé e um joelho no chão. O sorriso daquelas crianças era muito precioso, então o jovem não se importou muito em suas roupas ficarem um pouco sujas pela poeira da terra seca.

Pandora não estava nem um pouco tímida, e todos os pequenos faziam carinho na gata. "Tio, por que você não brinca com a gente? Tem um outro tio que vem brincar com a gente, mas ele está ocupado." Disse uma das crianças fazendo biquinho.

Primeiramente, era triste ser chamado de tio apenas com dezessete anos, mas Bernado gostava de crianças, então tudo bem por enquanto. "Certo, vocês terão que me explicar como brincar.

"É uma brincadeira primordial! Terá aquele que corre atrás de todos, ele pega as pessoas, e as transforma em pedra! E os aliados podem salvar com o feitiço da amizade!" Exclamou com muito ânimo a criança mais velha.

"Certo eu entendi, então todos vocês vão correr ?" Perguntou Bernado.

"Sim tio, agora eu o batizo de..de...Mago do mal e seu monstro!"

A brincadeira havia começado. Bernado não corria realmente rápido, dando um pouco de misericórdia para as crianças. Todos riam bastante, Pandora rosnava para parecer brava, e até mesmo corria até algumas crianças para as "transformar em estátuas", era de fato engraçado toda a perseguição.

André que ia ler para as crianças quase todos os dias ouviu algumas boas risadas e uma voz mais grossa. Quando foi até o local, viu uma cena incomum. Seu coração começou a bater quase como se ele fosse ter um ataque cardíaco. Uma garotinha percebeu sua presença e gritou, "Tio!" Fazendo com que André se escondesse atrás de uma parede. Com o rosto vermelho e segurando com muita força os seus livros, ele perguntou-se o que Bernado estava fazendo no Leste.

Com o grito da garotinha, as outras crianças correram em direção ao jovem. O garoto que estava ao lado de Bernado o informou. "Esse é o outro tio que brinca com a gente! Vem com a gente!"

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Notas: 

ai ai essas crianças...

Vida Longa Ao ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora