Capítulo 7: Uma Criança Vai À Guerra

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Bernado finalmente completou seus quatorze anos, o que significava que era hora de garotos como ele virarem soldados. Anabel já fazia parte do exército e era encarregada de treinar os novatos e por sua sorte, lá estava seu amado primo.

Todos os novos recrutas foram direcionados para um campo de terra em uma região bem longe da cidade, não havia nada em volta desse lugar, apenas algumas árvores próximas ao acampamento e barracas simples que foram montadas. Os novos soldados foram chamados e postos em fileiras organizadas.

A general Lúcia era uma mulher musculosa, seus cabelos eram tão loiros que parecia ouro, olhos castanhos que aparentava já ter visto de tudo, um semblante que transbordava confiança e uma voz ainda mais feroz. "Vocês são os novatos, espero que não tenham entrado aqui apenas pensando que é só ficar fazendo exercícios, pois estão errados! Há uma guerra acontecendo, o Norte não para de encher o saco, e cá estamos! Não irei mentir, alguns sobreviverão, outros morrerão, depende de vocês."

Um garoto da nobreza murmurou, "Que chatice, meu pai pode muito bem me tirar daqui."

Lúcia ouviu e caminhou até o garoto. "O seu pai? Se ele te mandou aqui, provavelmente é porque queria se livrar de você."

"Ele não faria isso." Gritou um garoto ao lado.

Ela continuou, "Quem sabe?" Lúcia andou e observou todas aquelas pessoas que estavam em seu mais novo exército. Parando na frente de Bernado, pensou que já tinha visto esse rosto. "Sofia, você por um acaso é filho da Sofia?"

Bernado franziu as sobrancelhas. "Como você sabe disso?"

"A gente nunca esquece o primeiro amor. Mas mesmo assim, Sua Alteza, não tenho expectativas, o que um príncipe pode fazer além de acenar para o povo?"

"Não tenha, isso não depende de você, certo?"

"Vejo que puxou a insolência do seu pai."

"Vejo que a guerra danificou seu cérebro." Lúcia o atingiu no rosto. Um soldado veio para que ela não o agredisse novamente. "General, você não pode fazer isso."

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Ao fim do árduo treinamento que os novos recrutas tiveram, todos se juntaram em uma única barraca, e começaram a conversar casualmente. Os garotos admiravam Bernado por ter coragem o suficiente e desafiar incontáveis vezes a general. Um desses admiradores comentou, "Sua Alteza não tem medo que ela faça algo?"

Bernado sorriu, "Se eu ter medo, como posso ser rei algum dia?"

"Sua alteza tem razão."

Um garoto comum que sentava-se perto e tinha muita curiosidade sobre o jovem príncipe que não saía muito para festas, resolveu perguntar, "Por que vocês vieram para o exército?"

Alguns respondiam que foi por causa de seus pais os obrigando, outros por motivos como estar entediado, e por fim Bernado, que acreditava que ele só estaria apto para tomar decisões a partir do momento em que ele soubesse o que era o caos. Muitos não entendiam seus objetivos, como pessoas jovens, eles não se importavam tanto com o futuro. As velas foram apagadas e todos finalmente adormeceram.

Foi um susto ao acordar, Anabel que era a primeira-tenente, batia duas panelas de ferro com o máximo de força. Os novos soldados saíram de suas barracas. Anabel olhou para o seu primo, o qual ela nunca tinha visto assim que o mesmo levantou de sua cama, a vontade de rir estava presente. Bernado com roupas simples, e o seu cabelo completamente armado que era quase impossível de ver o rosto do jovem. Ninguém se atreveria a dizer uma palavra sequer. Claro que nenhuma pessoa estaria disposta a ofender o príncipe. Exceto por um jovem que começou a rir. "Sua Alteza, não consigo ver o seu rosto! Sua imagem é realmente interessante!"

Bernado fechou os olhos. Todos os garotos estavam assustados. O garoto estava no chão.

"Você me deu uma rasteira!" Ele riu, "Sua Alteza após isso seremos os melhores amigos."

"Eu já tenho melhores amigos." Disse Bernado enquanto ajudava o garoto a se levantar.

"Pffft o que custa ter outro? A partir de agora você me chamará de Leo."

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Os treinamentos finalmente se iniciaram. Anabel os ensinava a segurar a espada, Lúcia seguia firme os obrigando a fazerem diversos tipos de exercícios. Alguns queriam ir embora, outros estavam ansiosos para lutar em campo de batalha. Leonardo realmente achou Bernado simpático apesar de franzir as sobrancelhas inconscientemente, acontece que os dois adoram bater um papo. "Então, no futuro você pretende ser um bom rei em?"

"Não apenas pretendo, como serei. Mas e você, Leo?" Perguntou Bernado enquanto se exercitava.

"Eu ainda conheci tão pouco com dezessete anos, acabar com as guerras, aproveitar com os amigos depois disso. É tudo que desejo. Uma vez que perdi meu amor, viver com amigos não é tão ruim." Respondeu Leonardo enquanto olhava para o céu.

Bernado suspirou. "Você pensa demais com o coração. Isso pode te levar à morte."

"Qual é Sua Alteza, nunca amou alguém? que coração gelado é esse?" Leonardo deu um leve tapinha em seu ombro.

"Eu sou jovem, não sou? Mas eu te pergunto, o que seria amar alguém? Não acho que eu sinta isso por meus pais."

"hm, amar, você me pergunta...Não há nenhuma pessoa especial pelo qual você atravessaria o mundo?"

Bernado agarrou seu peito, ele sentia uma dor inexplicável no coração com as palavras de seu mais novo amigo. Percebendo as ações de Bernado, o mais velho percebeu que a resposta seria afirmativa. "O que foi, ela te deu um fora?"

Ele ficou zangado com a pergunta de Leonardo. "É-é claro que não eu, eu só nunca contei para ele e...Não irei contar, talvez, nunca."

"Ah mas vai sim, como vai ser rei se não tem coragem nem de falar com um garoto? Vou te desafiar. Quando você for coroado rei, eu vou estar lá e se você não estiver namorando esse garoto eu vou contar seu maior segredo." Leonardo começou a cochichar. "Que você baba quando dorme."

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Já estava no inverno, mas nesse país não ficava realmente frio. Já faz cinco meses desde que André se mudou para o Leste. Seu padrasto sugeriu a mudança devido à situação em que estava o Oeste e o Norte, prontos para uma guerra. Ele não queria ver sua nova família sofrer com isso. E como o filho de sua esposa ainda era jovem, ele continuou a ensinar técnicas de combate para o garoto.

André aprendeu a usar uma espada com muita facilidade, mas se apaixonou por lutas onde era apenas um combate corpo a corpo. E quando não praticava, continuava a estudar. Até que com seus treze anos conseguiu uma bolsa em uma das melhores escolas do Leste. André sempre foi um prodígio. Mas por algum motivo, ele sempre sentia a falta de Bernado, não sendo muito bom em fazer amigos, se sentia um pouco só, e principalmente pelas palavras de despedida de seu bom amigo. Era doloroso só de lembrar.

Nos últimos meses, André começou a escrever cartas que jamais enviaria para Bernado, mas o sentimento que o jovem sentia por seu amigo, era como se fosse diferente do que sentia por Tomás, era um pouco inexplicável, talvez fosse a irmandade? André não encontrava nenhuma palavra certa, resolveu deixar de lado por enquanto.

Ao fim da tarde, seu padrasto voltou para a casa, a sala era simples. Uma pequena mesa redonda de madeira com quatro cadeiras, as paredes também eram de madeira com algumas janelas de vidro e cortinas pequenas, sua mãe se sentava na mesa enquanto segurava um livro, seu padrasto que mal chegou já estava cozinhando. "Fiquei sabendo que a situação no Norte ficou cada vez pior, o exército do Oeste ganhou muitos recrutas talentosos. Até o príncipe lutou!"

André arregalou os olhos e seu coração batia cada vez mais forte. "O príncipe...Ainda está vivo, certo?"

"Sinto muito André, essas foram as únicas notícias que ouvi."  

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Notas:

Por favor deem amor ao Leo!

Vida Longa Ao ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora