Muitos pensamentos rondavam sua cabeça naquele momento, e para sua surpresa as primeiras aulas passaram voando. Você suspirou observando o restante dos alunos saindo da sala animados com o intervalo, você apenas os acompanhou até o refeitório. Não havia levado nada de casa para comer, não estava com fome alguma no momento.
Se aproximando da mesa onde seus amigos estavam, você sentou-se ao lado de Sal e afundou o rosto sobre os braços, soltando um murmuro de frustração.
— S/n? — ouviu a voz de Sal a chamar, o garoto havia percebido sua inquietação naquele dia — Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Você apenas negou, sem responder nada ou erguer a cabeça para encarar seus colegas. Por outro lado, havia ficado nítido para todos ali que algo lhe incomodava, já que havia deixado tão visível.
— Não quer mesmo contar o que aconteceu...? — o menor insistiu mais uma vez, e então você virou o rosto apenas para encará-lo, observando os olhos azuis do mesmo carregados de preocupação.
— Ah, quero... — você disse, ainda pouco duvidosa — Mas, não aqui... — concluiu, observando os outros colegas conversando no momento. Não que não confiasse neles, apenas se sentia de alguma forma mais segura com Sal. E também, não queria falar sobre aquilo abertamente ali, no refeitório e na escola, iria esperar até o fim das aulas para conversarem quando já estivessem em casa. Sal apenas concordou, respeitando sua vontade.
— Eu segui o conselho da S/N e trouxe comida de casa — Larry comentou, olhando para você que apenas riu, concordando com a cabeça.
— Por que? A comida da escola é ótima! — Chug disse então com a boca cheia, devorando o lanche como se fosse a única coisa que importasse no mundo, todos na mesa apenas riram.
[...]
O caminho até os apartamentos havia sido um tanto silencioso, e Sal havia notado o quão pensativa e aérea você se encontrava novamente, o deixando ainda mais preocupado do que quando estava na escola. O garoto quase não conseguiu prestar atenção nas aulas direito imaginando o que poderia estar se passando na sua cabeça naquele dia.
Por sua vez, você mesma tentava compreender seus próprios pensamentos, seus sonhos se tornando cada vez mais frequentes e estranhos, flashes de memórias e recordações dos sonhos insistindo em lhe alcançar enquanto você estava em um de seus devaneios.
— E então, vão fazer alguma coisa hoje? — Larry perguntou logo após vocês adentrarem o prédio.
— Acho que vou tentar dormir um pouco, quase não consegui essa noite, estou cansada — você disse como desculpa, olhando de canto para Sal que também a olhava, parecendo buscar por algo. O garoto havia notado.
— Eu tenho que fazer uns trabalhos da escola hoje, cara — Sal disse, e Larry olhou para vocês dois com a sobrancelha arqueada, mas apenas concordou com a cabeça.
— Bem, vejo vocês mais tarde então — e com um aceno de mão, o mais velho seguiu para o elevador.
— Meu pai vai ficar até mais tarde no trabalho hoje, se quiser podemos ir para o meu apartamento conversar, ninguém vai atrapalhar — Sal disse assim que a porta do elevador fechou e não avistaram mais Larry, então, você apenas concordou.
Seguiu o garoto até o elevador que ficará desocupado minutos depois, vendo o mesmo apertar o botão para o 4° andar. Aqueles minutos pareciam ter durado mais que o necessário, ambos estavam em silêncio, a ansiedade repentina a atingindo. Após as portas do elevador se abrirem, ambos seguiram até o apartamento 402, e assim que entraram foram direto para o quarto de Sally. Não era tão diferente do seu, a não ser pelos quadros e alguns detalhes unicamente do garoto, mas a estrutura e até mesmo as cores das paredes, eram as mesmas, assim como provavelmente o restante dos apartamentos.
— Quer alguma coisa? Você não comeu nada na escola — ele ofereceu levando o olhar até você, que apenas negou e agradeceu. Ele não insistiu por mais que houvesse uma preocupação estabelecida ali, ele apenas se sentou sobre o colchão e a chamou para se sentar ao lado dele, e assim você fez — No seu tempo.
— Uh, bom... — você começou, coçando a nuca enquanto pensava por onde começar. Eram tantos pontos, isso te afligia de alguma forma, principalmente não sabendo por onde começar ao certo.
E então, você sentiu o toque da mão de Sal sobre a sua, tentando lhe passar algum conforto. Você observou ambas, e então Sal acariciou a sua com o polegar.
— Eu ando tendo alguns pesadelos, eu não sei muito bem — você começou, sem desviar o olhar de sua mão junta a de Sal — É como se eu buscasse por alguma coisa, sempre parecem ser reais, mas quando acordo eu simplesmente não lembro de mais nada, mas eu sei que aconteceu e que estão ali... — você disse, apertando a mão do garoto — E sempre que acordo, eu sinto uma sensação estranha, eu não sei explicar ao certo... É como se fosse um déjà vu, algo me esmagando por dentro. Às vezes, eu consigo ter alguns flash's dos sonhos, mas eu não consigo explicar o que são exatamente, pode soar como algo bobo, mas isso tem me deixado tão aflita ultimamente… É como se alguma coisa estivesse tentando me avisar sobre algo…
— Não é bobo — Sal tentou te tranquilizar, ainda passando a acariciar sua mão — Consegue se lembrar pelo menos de algum detalhe?
Você negou. Realmente, não conseguia. Eram sonhos monótonos e você gostaria de classificá-los como sem importância alguma, mas lhe incomodava.
— É como se... Todos os dias eu sonhasse com a mesma coisa, ou como se nesses sonhos os objetivos sempre fossem os mesmos... E, quando estou chegando no final disso, eu acordo, e não me recordo de mais nada — você contava, deixando um suspiro angustiado escapar.
— Talvez, seus sonhos possam estar ligados aos acontecimentos dos últimos meses, ou até mesmo a esse lugar — Sal iniciou, e então, sua atenção se prendeu totalmente ao garoto — Bom, é aparente que há algo estranho que paira sobre os Apartamentos Addison além dos fantasmas, é claro.. Depois do assassinato da Sra.Sanderson, me lembro que comecei a ter pesadelos muito frequentes, não os tinha desde que minha mãe morreu — você apertou a mão do garoto, o assunto era de certo delicado, queria de certa forma passar algum conforto, confiança.
E bom, Sal confiava totalmente em você, não havia sombra de dúvidas. O garoto não negava, por mais que te conhecesse há apenas alguns meses, a confiança do baixinho era fortemente depositada em você e Larry.
— Pode ser... — você concorda, ainda um tanto incerta. Mas de fato, a observação de Sal era a única explicação para seus sonhos constantes, mas de certo modo, ainda incomodava — Eu só não consigo compreender o porquê de me incomodar tanto sendo que eu nem mesmo consigo me lembrar...
— Bom, muita coisa nesse lugar tende a nos incomodar em algum momento — o de cabelos azuis disse, tentando te tranquilizar — Talvez devesse tentar se distrair um pouco disso, não pensar tanto, não deixar sua atenção ficar focada apenas nisso. Fará bem para você — ele segurou sua outra mão, e por mais que não conseguisse ver a expressão do rapaz por de trás da prótese, imaginava que ele estivesse sorrindo.
Você sorriu de volta, concordando com a cabeça desviando o olhar para ambas as mãos. Se lembrava da primeira vez em que você e o garoto haviam tido um contato físico mais "íntimo" como esse, havia sido o mesmo. Sal havia tomado sua mão para lhe confortar de algo que a chateava, e de imediato quando percebeu o que estava acontecendo ele se afastou, com as bochechas rubras e envergonhado. Você ria da forma em como o garoto ficara tão constrangido na época, se desculpando tantas vezes como se o que ele havia feito fosse errado.
Mas agora, por mais que se encontrasse tímida com os atos, era normal, você gostava, se sentia segura. E Sal percebia isso, e também já havia se acostumado, e muito bem. Gostava de te ter por perto, e isso da sua parte, era recíproco.
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Obscure Love ; Sally Face
Fiksi Penggemar[ Em andamento ] Mudar-se para os Apartamentos Addison não parecia uma idéia tão viável e boa para você no começo, ir para um lugar totalmente diferente, ter de enfrentar coisas novas, obstáculos novos, conhecer pessoas novas - pensar sobre tudo iss...