CAPÍTULO 15: vocês mentiram para mim

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Uma hora. Demorei cerca de uma hora para chegar na casa dos meus pais, mas não por causa da distância, e sim pois eu realmente quis enrolar. Um pedaço de mim estava apreensivo de encará-los depois de tudo que eu soube, mas não podia descartar o fato de ambos serem meus pais. Por isso estou agora, em frente à casa que antes eu dividia com Priscila e Edward, meus pais, para passar um tempo com eles. Nunca pensei que um dia iria me sentir uma intrusa em um lugar tão conhecido por mim.

Toquei a campainha e, como que se já esperasse, minha mãe abriu a porta abruptamente abraçando-me fortemente.

- Stella, como eu senti sua falta filha. - Sorriu, fazendo-me sorrir forçado. Por enquanto devia fingir que está tudo certo.

- Mãe, nós nos vimos há pouco tempo.

- Não foi tão pouco tempo, assim não Stella. - Brincou pegando minha mala e eu fiz o mesmo com as minhas duas bolsas. Assenti com a cabeça estranhando o fato de papai não ter me recebido ainda.

- Edward saiu para resolver uns problemas do trabalho. - Minha mãe pareceu ter lido meus pensamentos.

- Tudo bem. - Suspirei cansada. - Será que posso deixar minhas coisas em meu antigo quarto e tomar banho antes de conversarmos direito?

- Claro, querida, mas antes de ir me responda uma coisa: Como está indo seu trabalho? - Sabia que ela iria perguntar.

Girei meus calcanhares e me virei em sua direção.

- Normal, porque mãe? - Ela deu de ombros.

- Só fico preocupada com você filha. Desde que decidiu se formar em psiquiatria você sempre dá um jeito de ajudar as pessoas doentes mentalmente, só que neste caso, acho que seu paciente não tem solução. - Arqueei as sobrancelhas, sabendo que ela não queria realmente dizer isso e dei um meio sorriso.

- Meu paciente está progredindo muito bem. - Dei um sorriso forçado. - Se a senhora me der licença eu gostaria de ir ao meu quarto.

Senti que fui mais fria com ela do que pretendia, mas a culpa não é minha se eu havia ficado magoada com eles. Ambos tiveram bastante tempo para me contar sobre o que aconteceu comigo. Gabriel, Michele, Fernando e Robert foram os culpados pela minha perda de memória, mas os meus pais também têm culpa de não me contarem sobre o traumatismo craniano. Não existe uma explicativa mais razoável para eles não me contarem. Os dois querem esconder isso de mim, mas por quê? Porque eu não mereço saber a verdade? Isso é tudo muito injusto e eu vou tirar a limpo essa história.

[...]

Após duas horas terem se passado, eu pude arrumar minhas coisas no lugar, tomar banho, trocar de roupa e anotar mais algumas coisas sobre Gabriel. Sim eu ainda faço isso, pois, além de tudo, continuo sendo a psiquiatra dele e continuo com dever de ajudá-lo.
Senti de repente uma fome extrema e me vi na obrigação de ir comer algo para matar o que estava me matando.

Fui diretamente para a cozinha e, ainda no corredor, pude ver que meus pais estavam jantando, como faziam desde sempre. Aproveitei a ocasião para interrogá-los.

- Nesse tempo que me dedico no caso do Gabriel Lessa, vim percebendo que eu estou mais envolvida do que esperava. No começo, achei que iria simplesmente ter que analisá-lo, achar a raiz do problema e enfim, depois de todo o processo que vocês não entendem, poder finalmente fazer com que ele se torne uma pessoa que eu pudesse afirmar com todas as palavras, que consegui curar mentalmente e que graças ao esforço de ambas as partes, ele possa recomeçar a vida, sendo que, na maioria das vezes que peguei um caso parecido com o dele, demorei cerca de um ano e meio para afirmar que o paciente estava saudável. Mas por um tempo achei que as coisas, mesmo parecendo impossíveis, seriam mais fáceis com ele. Estava errada. Porque a raiz do problema é, justamente e exclusivamente, a pessoa que está falando com vocês, não é? - Apontei para mim e os encarei.

Psiquiatra De Um Assassino - Fluxo Bak  ( Concluído )Onde histórias criam vida. Descubra agora