alguns de nós precisam gritar de outra forma

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Autor's note: o capítulo trás a tona questões do qual eu, autora, não concordo. Incluindo: relacionamento abusivo, agressão física em alta escala, estrupo, auto-mutilação, entre outros. Se você tem gatilho, por favor pule todas as cenas, para seu próprio bem.

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Arthur Fernandes, point of view

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Ele estava certo. Tinha toda a porra da razão. Me lembro bem quando ele disse aquelas palavras para mim, foi engraçado, olhando agora, mas naquela época não foi.

"por que você não me ama, papai?" poderia parecer uma pergunta simples de uma criança que só queria ouvir o querido papai dizer o quanto ama seu filho, porém não é só uma pergunta simples entre choros, gemidos, dor, pranto e traumas

"eu te amo, filhão" ele disse antes de estender o cinto para o alto "mas aprenda algo: o amor não é tão lindo assim. Ele dói e dói pra caralho!" desceu a mão com toda força como se para provar suas palavras. Papai adorava ter razão "ninguém nunca vai te amar como o papai. não desse jeitinho." papai desceu a mão mais uma vez me fazendo gritar de dor e agonia. Ele pressionou suas mãos imundas e fedorenta de quem tinha acabado de voltar de dois dias inteiros fora — provavelmente no bar ou fodendo com mulheres, quando não, os dois juntos —, contra minha boca, abafando meu sofrimento. "você nunca vai encontrar esse tal de amor, Arthur, está no seu sangue azul de rei" ajeitou sobre mim a antiga coroa que vovó havia confeccionado.

Ele adorava meu nome, afinal, fora ele quem escolhera. O grande rei Arthur era seu ídolo, e ele resolveu passar seu nome para mim, dizendo sempre que o sangue que corria em nossas veias eram azuis. E como rei Arthur, em seu ponto de vista, não sentia ou recebia amor, nós também não.

Minha corazinha caiu no chão quando ele bateu pela última vez e eu tive a certeza de que havia ganhado uma nova cicatriz e muito sangue. Ele havia batido com o ferro. Gritei alto, mesmo por sua mão. Não sei por que ele estava se preocupando tanto para que ninguém escutasse aquele dia; os vizinhos não estavam em casa. Anna não estava em casa para me salvar e me limpar depois disso, não dessa vez.

"Papai" gemi de sofrimento não aguentando a dor e, de certa forma, adormecendo no chão da cozinha. Senti o líquido quente antes de perder meus sentidos, contrai todo o corpo com o contato. "cura todas as feridas" ele disse antes de me deixar jogado ali no chão frio, em contraste com minha pele totalmente quentes e quase queimadas pelo café quente. Nem era a pior coisa quente que ele usava para me curar, agradeci por isso.

Bem, podem ver o quão certo ele estava. Papai sempre me dissera que o amor — lindo e mágico — não era uma das coisas que eu iria experimentar. Era o legado da minha família paterna: nós éramos maldosos, frios, traidores, mentirosos e por isso não éramos capazes de amar ou sermos amados. Nem mesmo as esposas e namoradas gostavam de nós; estava em nosso sangue azul.

𝐒𝐞𝐫𝐞𝐧𝐝𝐢𝐩𝐢𝐭𝐲 - 𝐋𝐎𝐔𝐃 𝐓𝐇𝐔𝐑𝐙𝐈𝐍𝐇𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora