Ayreon: O Experimento Final

Eternidade

ㅤㅤ ㅤㅤChegamos ao ponto de encontro, a praça Dam. Único ponto da cidade que se manteve com construções antigas, cercado por estruturas de concreto bruto do Museu de Cera e o Palácio Real, aquele sempre fora o ponto escolhido para honrar os heróis que nos deixavam. Ao centro da praça, um obelisco era responsável por guiar todos os eventos de despedida, conhecido como Monumento Nacional da Holanda, inaugurado em homenagem às vítimas da Segunda Guerra Mundial.

ㅤㅤ ㅤㅤE era exatamente à frente da base do obelisco que se encontrava o caixão daquele senhor que tanto havia nos ensinado sobre a vida, rústico como sempre gostara que fossem suas coisas, composto basicamente por madeira de acácia bruta e vidro temperado ao topo. As alças não eram de ouro, como costumavam ser e muito menos travas automáticas ligadas a servomotores potentes e placas de LED na borda. Apenas era feitas de metal do mais simples possível, sem qualquer polimento.

ㅤㅤ ㅤㅤAinda que não fosse daquela maneira, a cerimônia estava como Sr. L. sempre gostou de frequentar. Ao redor da praça havia ainda um tapete de flores naturais, que representavam sua pureza. Pureza essa que me fez refletir bastante durante o caminho, sobre o porquê de possuir um livro tão sombrio quando era alguém tão sereno. Me surpreendia ainda mais o fato de Lisa querer ler algo assim em pleno luto, mas preferi mais uma vez não questionar.

ㅤㅤ ㅤㅤFinalmente nos aproximamos do monumento, fechando o meio círculo em torno do caixão, abraçado em Lisa, que ainda precisava de certo apoio emocional. Marjan já nos fuzilava com os olhos, mas não era hora para discussões e ambos sabíamos muito bem disso, além do mais, tinha Erik a seu lado. Marjan e Erik haviam se aproximado bastante nos últimos tempos, o que ajudou a melhorar a relação das duas e aliviar a tensão.

ㅤㅤ ㅤㅤ— Podemos começar? — questionou Erik, tomando a frente, enquanto olhava principalmente para Lisa, como se estivesse pedindo sua permissão, seguido de movimentos positivos de cabeça por todos.

ㅤㅤ ㅤㅤ— Por favor, Dr. Erik, faça valer — consentiu Lisa, com sua voz mansa, enquanto apoiava sua cabeça em meu ombro direto.

ㅤㅤ ㅤㅤ— Senhoras e senhores, bravos cientistas que nos cercam neste dia de hoje — iniciou, caminhando-se vagarosamente ao jardim de flores —, é com muita dor, mas ao mesmo tempo muita honra, que celebramos hoje a passagem de um dos homens mais importantes para a ciência! Desconhecido por todos, mas agora amado por muitos, o Sr. Jesse Lucassen, apesar de seus 87 anos de resistência, foi a peça-chave para que a ciência pudesse iniciar seu maior feito. Graças a este homem, hoje temos informações suficientes para salvar o mundo e torná-lo algo melhor.

ㅤㅤ ㅤㅤApós a introdução, Erik fez um movimento com as mãos, nos chamando para a frente. Sem hesitar, peguei Lisa pela mão e nos caminhamos à frente do jardim. Marjan veio pelo outro lado, completando a barreira, mantendo-se do outro lado de Erik.

ㅤㅤ ㅤㅤ— Estas três pessoas aprenderam muito com este senhor. Por mais experientes que sejam em suas especializações, nada os ensinou mais que alguém que sequer gostava da ciência. Peço então que tomem a palavra para nos contar um pouco sobre tudo o que aprenderam — solicitou, apontando primariamente para Lisa, que sacudiu negativamente com a cabeça, informando que não estava em condições, e apontando para que Marjan começasse.

ㅤㅤ ㅤㅤ— Obrigada — Marjan tomou a posição. — Bem, eu não o conheci por muito tempo, mas este homem foi tão poderoso e sábio em suas palavras que, em questão de dias, ensinou-me o que não aprendi em meus 5 anos de graduação, 2 anos de pós-graduação e meu atual período de mestrado. Ele me ensinou que não basta sermos gênios, se não pensarmos com o coração, que não podemos ser apenas frios como as máquinas, quando precisamos de sangue quente humano para operá-las. Lucassen não foi meu professor como muitos outros, ele foi meu mestre, meu treinador para a vida.