𝗦𝗢𝗣𝗛𝗜𝗘
Tudo ali me lembrava um circo. Desde o momento em que pisamos em San Marino as câmeras se voltaram ao Fabio, agora com o braço apenas enfaixado, as pessoas disparavam perguntas ao piloto e ao Tom esperando que revelassem seus planos para o final de semana. O tempo de recuperação estava longe do ideal, mas no fundo todos sabíamos que aquilo não importava, o show tinha que continuar e o francês era uma das estrelas principais.
— Eles são como urubus. — Alicia resmungou com uma careta para os jornalistas amontoados na entrada do paddock. Felizmente, a equipe já havia previsto o importuno e o piloto fora apressado para a garagem por outra entrada.
— Piores, urubus devem ser mais educados. — completei e a publicitária gargalhou.
Os ventos de um tempo fechado na pequena província italiana sopravam meus cabelos no caminho para as instalações da Petronas. Com o tempo que passei acompanhando a dupla fantástica me permiti relembrar coisas sobre o esporte, e mesmo uma leiga como eu podia sentir a atmosfera competitiva se formando, os pilotos se cumprimentavam e sorriam uns aos outros, mas em horas se digladiavam nas pistas pela melhor classificação possível.
Era um pouco como a residência de cirurgia.
— Hmmm, alguém acordou inspirado. — a americana exclamou, com os olhos na caixa de rosquinhas deixadas em cima da mesa.
Me aproximei curiosa, o cheiro da calda açucarada de coco invadiu meu nariz trazendo diversas lembranças com ele. Manhãs nas arquibancadas da quadra do Don Quijote Madri, a escola que me abrigou por toda a adolescência. Uma das caixas apenas com as migalhas, enquanto Tom e Fabio se importavam em jogar futebol com rosquinhas na boca, eram minhas partes favoritas dos dias, até quando eu ainda não namorava com o francês, aquele era nosso ritual matinal. Duas das pessoas que mais importavam para mim, juntas, e um café da manhã recheado de açúcar.
— É, acordou mesmo. — concordei analisando a caixa, Alicia deve ter se enfezado e agarrou um dos bolinhos com pressa, antes de fazer o mesmo conferi o pequeno papel que repousava sua tampa, "Para Sophie", dizia com letras garrafais, mas que eu não reconheci a caligrafia.
Ali tentou dizer algo, mas sua boca lotada de café da manhã não permitiu que eu entendesse mais do que um "humhumhum" abafado. Subitamente, as lembranças foram substituídas por raiva, meu sangue esquentou quando lembrei em que dia estávamos, só poderia ser uma brincadeira de mal gosto, tudo se tornou amargo, era irritante, ele era irritante. A simples e inocente caixa era um signo. Um símbolo de coisas que vivemos e não viveríamos mais. Coisas boas e coisas que me magoaram profundamente.
Fechei a tampa com raiva e sai da sala determinada a matar Fabio Quartararo.
O encontrei na garagem, com fones nos ouvidos pendurados no pescoço e discutindo calmamente com os mecânicos sobre sua moto estúpida. Pisei duro até que suas costas estivessem a minha altura, com um cutucão — mais forte do que o necessário —, o fiz olhar para mim confuso, ele esboçou um sorriso que logo se perdeu quando lhe lancei um olhar irritado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Over᯽Fabio Quartararo
ФанфикEm seu primeiro ano de internato, e depois de fugir de irmãos e ex namorados, Sophie sente que tem tudo sobre controle. Sua carreira caminha como gostaria,suas amizades e até sua vida amorosa, tudo está exatamente como deveria estar. Mas uma manhã a...