Em seu primeiro ano de internato, e depois de fugir de irmãos e ex namorados, Sophie sente que tem tudo sobre controle.
Sua carreira caminha como gostaria,suas amizades e até sua vida amorosa, tudo está exatamente como deveria estar. Mas uma manhã a...
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𝗦𝗢𝗣𝗛𝗜𝗘
Piso e paredes brancas, o cheiro de desinfetante inundando os corredores e salas, a movimentação de equipes preparadas, sempre em alerta, sempre esperando que algo ocorra, que alguém passe pelas portas rotativas precisando de ajuda. Os papéis espalhados pelos balcões das enfermeiras, o telefone que nunca para de tocar no pronto socorro, as luzes fortes e brancas, as galerias no topo de salas de cirurgia. Eu sempre amei todas essas coisas, tudo em um hospital me fazia ter certeza de que estava no lugar certo e na profissão certa, desde criança eu podia me ver andando pelos corredores com pijamas cirúrgicos e jalecos brancos. Eu simplesmente sabia que aquele era meu lugar.
Ah, eu realmente amava os hospitais até ser a pessoa na sala de espera.
A luz refletindo no chão polido faz meu olho arder, o cheiro de limpeza está impregnado na calda do meu vestido espalhado pelo chão, a equipe me faz tremer de pensar que podem a qualquer momento serem solicitados para uma emergência, e a emergência vai ser meu irmão herniando na mesa de cirurgia. Hanna não cessava as lágrimas ao meu lado, podia ouvir seus suspiros preocupados que com o passar do tempo se abrandaram se transformando em soluços esporádicos, Fabio andava sem rumo, de uma ponta a outra com as mãos batucando em um ritmo somente dele, totalmente concentrado em seus passos. Ninguém poderia começar a explicar o sentimento que pairava no ar daquela sala de espera. Eu me sentia congelada, como em um sonho em que não podemos fazer nada para mudar o rumo que vai tomar, me sentia em uma corda bamba apenas esperando que o vento me lançasse para um lado ou outro.
O tempo não passava da forma que deveria, seis horas impactavam o mesmo peso de um dia inteiro. Sentia cada músculo do meu corpo doendo, virando de um lado para o outro na cadeira de plástico, nunca soube como é ser a família que espera por notícias, sempre tive empatia por elas, por seus rostos brandos e perdidos naquele momento em que tinham tão pouco poder. Agora sei que nunca mais vou vê-los da mesma forma, agora que estive em seu lugar.
A doutora atravessou as portas rotativas, o pijama cirúrgico amassado e a touca de tecido em mãos, tentei analisar sua expressão e entender se seus olhos frígidos pareciam mais felizes ou se sua expressão era que penava para dar notícias trágicas para a família. Nós três nos prendemos a ela, a expectativa do que sairia de seus lábios escuros, Fabio se colocou ao meu lado um ou dois passos à frente, sua mão esmagou a minha com um aperto ansioso, Brooks estava atrás de nós, como se quisesse se esconder das notícias que estariam por vir.
– Foi tudo como esperado, Sophie, mas você sabe tão bem como eu que só saberemos com certeza quando ele acordar.
Um ar pesado se desprendeu de meu pulmão, não estava acabado ainda, mas eram boas notícias, as melhores que poderíamos receber. Estendi minha mão para a cirurgiã que um dia fora minha mestre, mas fui interrompida, Quartararo a prendeu entre seus braços em um abraço apertado e celebrou nossa pequena vitória, Hanna seguiu a linha do piloto e flagrei um sorriso nascer nos lábios da doutora, sútil, mas um sorriso que escancarou que até neurocirurgiões têm corações pulsantes.