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𝗦𝗢𝗣𝗛𝗜𝗘

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𝗦𝗢𝗣𝗛𝗜𝗘

A memória é a forma como o cérebro adquire e armazena informações, uma das funções mais complexas do organismo humano.

É uma das coisas que escutei de um dos meus professores de neuro durante a faculdade, a memória é um dos mistérios da ciência, uma de suas limitações, ninguém sabe exatamente como funciona, quais são as informações escolhidas para serem mantidas ou não, elas apenas... são.

Meu aniversário de 17 anos, era uma terça feira no horário da tarde e o cheiro de produtos químicos do laboratório de biologia avançada me deixava enjoada. Fabio surgiu na pequena janela de vidro, esticando o pescoço como uma girafa e fazendo gestos para que eu saísse de lá. Arranjei alguma desculpa, e com o estômago revirando em ansiedade o encontrei pela primeira vez naquele dia.

Nem todos os dias era fácil ser namorada de Fabio Quartararo. Além de ter que suportar os olhares tortos e risadas mal intencionadas de Valentina e seu clã, também me restava seus próprios demônios, e os meus. Mas apesar de tudo, ele fazia valer a pena, todas as vezes.

— O que está fazendo aqui?— lhe perguntei com os olhos brilhantes, ele sempre dizia  como eram transparentes, revelavam tudo que eu sentia e pensava.

— Tenho uma surpresa. — contou e quis explodir em entusiasmo, ele sorriu sabendo disso. Então agarrou meu pescoço e sem preocupação alguma me beijou bem ali, na porta de minha sala de biologia avançada, e eu o beijei de volta com borboletas explodindo em meu estômago.

Corremos pelos corredores, ignorando os gritos da inspetora, e fomos direto ao estacionamento ao encontro de sua moto. No trajeto o vento soprava em meu rosto, era um dia quente em Jerez e depois de algum tempo, ali agarrada a seu corpo rígido, chegamos a um estúdio de tatuagem.

Congelei imediatamente, aquilo parecia uma péssima e animadora ideia. Mas Fabio sussurrou "Chérie, você confia em mim?". E eu confiava, mais do que em mim mesma.

E lembro de sair de lá com minha primeira tatuagem, combinando com a dele.

Uma chave e uma fechadura. Um símbolo que ele mesmo pensou e desenhou. Era mais do que um significado óbvio como "nos completamos". 

Ele sabia que éramos quase como polos opostos, ele a emoção pura e eletrizante, como encontrar uma chave misteriosa e todas as possibilidades diferentes que ela carrega, e eu a razão, uma fechadura apenas aceita uma única e exclusiva chave, feita totalmente para ela nas medidas certas.

E ele era a minha.

A razão e a emoção, mesmo que opostas, ocorrem em concomitância, e suas existências estão atribuídas uma à outra.

Sem razão, não existe emoção. Sem emoção, o que é razão?

Talvez no fundo não sejam tão diferentes assim, qualquer que seja a raiz dos termos, provêm da mesma fonte. O que me leva a crer que... qualquer que seja o âmago da essência de Fabio, é também da minha.

Over᯽Fabio QuartararoOnde histórias criam vida. Descubra agora