Epílogo

349 21 27
                                    

Sinto que minha vida é como um antes e depois

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Sinto que minha vida é como um antes e depois. Antes e depois da faculdade de medicina, antes e depois de voltar para uma realidade que, por muito tempo, foi perturbadora para mim, antes e depois da cirurgia de Thomas, antes e depois de subir no altar com Fabio. Mas se for pensar com afinco, e eu sempre faço, gosto de dividir minha vida em antes daquela tarde de fevereiro e depois dela. Estava absorta no meu próprio mundo, deitada com preguiça em um dos sofás da sala, alguns feixes de luzes do fim da tarde transbordavam pela janela enquanto eu folheava um livro sobre flores, era obcecada por elas na época e esse era um dos milhares exemplares que peguei emprestado na biblioteca da escola. Tudo sobre o funcionamento daquelas espécies tão delicadas me fascinava profundamente, ler sobre seu ciclo reprodutivo e sua alternância de gerações tinha um sabor quase epopeico. Era um dia de São Valentim, uma das poucas datas comemorativas que não significava muito para mim, mas parecia ser uma grande coisa para o resto do mundo ou pelo menos para as garotas da minha escola.

— O que é isso? — uma voz rouca e instável me alcançou os ouvidos, nunca tinha escutado uma voz como aquela, nunca tinha escutado aquela voz. Levantei o olhar, me desgrudando das páginas amareladas, estava curiosa, seus olhos ocres me fitavam com interesse e seu cabelo cor de palha caia pela testa, me senti febril, corada, meu estômago estava queimando e esqueci todas as palavras do mundo mesmo sendo campeã de soletrar ao seis anos. Ele sorriu, seus dentes eram brancos e tinham pequenas separações entre eles, o que poderia por muitos ser considerado um defeito e para mim era um charme tremendo. Não sabia quem era aquele garoto estonteante a minha frente, tinha quinze anos e fazia parte do clube de biologia e química avançada da escola, apesar de ser bonita não era popular entre os meninos, não sabia como conversar com um garoto bonito, mas soube exatamente o que responder ao Fabio.

— É o ciclo de reprodução das angiospermas, é bem interessante na verdade — murmurei e ele sorriu novamente — Quem é você?

O garoto que ainda era um mistério para mim se escorou na parede branca da sala de meus pais, me lembro de vê-lo colocar a sola de seus Vans na parede e me imaginar brigando com ele por isso. Ele franziu a testa.

— Sou o melhor amigo do seu irmão, tá  me zoando que ele nunca falou de mim? Que babaca.

Dei uma risada contrariada, o melhor amigo de Tom estava falando comigo, era quase como ter um fruto proibido bem a minha frente, invadir a vida do meu irmão mais velho parecia perigosamente interessante. Nunca liguei muito pra garotos até aquele dia, mas tinha algo nele, na forma que ele me observou furtivo e como ele tinha um charme só dele e sabia disso, porém, acho que o que gostei mais foi da atenção que ele me deu. Garotos não me davam atenção, não por muito tempo, eles me notavam por acaso, gostavam do que viam, mas assim que eu citava palavras como angiospermas, eles fugiam para longe.

— Ele já falou sim, só não falou sobre sua aparência, então, poderia ser qualquer um.

Fabio deu de ombros, ele usava jaqueta de couro e percebi uma tatuagem escapando pelo tecido pesado, a tinta preta formando um desenho misterioso bem em seu pulso, isso fez meu coração palpitar.

Over᯽Fabio QuartararoOnde histórias criam vida. Descubra agora