Over᯽Fabio Quartararo

Prólogo

𝗦𝗢𝗣𝗛𝗜𝗘

—O 304 precisa de algumas chapas,estou esperando o resultado da moça do 306 e a enfermeira Reed me chamou três vezes porque o paciente da 410 não conseguia comer,eu tentei algumas coisas mas no fim ele optou pela sonda nasal.

A atendente me analisou,de cima a baixo.Passou os olhos castanhos por cada parte dos meus pijamas cirúrgicos causando um arrepio e a sensação de que tinha algo de errado com eles,ou comigo.Mesmo que eu não falhasse nunca,ela sabia me fazer sentir como se o fizesse toda hora.

—Ok doutora,agora pode ir para o PS estão precisando de ajuda extra por lá.—sugeriu,da forma mais delicada que um alemão pode te mandar fazer algo.

Acenei com a cabeça e sumi da vista da neurocirurgiã mais amarga do mundo.Mesmo sendo um pouco vadia,ela é uma lenda,uma deusa da cirurgia como eu quero ser um dia.Estou no primeiro ano de internato,o que significa que não sou nada dentro desse hospital e provavelmente a máquina de café é mais valiosa do que eu.

Mas todos começaram assim,não existe pular fases na medicina,na vida sim,na medicina não.

—Você ainda está trabalhando com ela,sério como você aguenta?—brooks pergunta passando a mão no  chumaço de cabelos em seus ombros,enquanto andamos juntas até o centro de urgência.Lá é nosso parque de diversões já que nenhum dos atendentes quer perder tempo com coisas pequenas,apenas são bipados em grandes emergências,de resto...é basicamente nosso.

—Ela não é tão ruim quanto parece.—digo vestindo as luvas azuis que usamos aqui,eu não gosto muito delas já que tem muito talco e me dão alergias mas não posso reclamar,é um pequeno preço a ser pago por tanta fartura de casos a tratar sozinha.

Brooks continua falando mas não presto atenção,meu olhos estão concentrados nas portas automáticas que abrirão a qualquer momento.São ambulâncias,então provavelmente faremos apenas os primeiros exames ou contenção de danos até que os atendentes ou residentes cheguem.

—Carro contra caminhão múltiplas vítimas,esse é o motorista.Laceração óbvia nos braços e cabeça,perdeu a consciência no local e os vitais estão instáveis.Última medição 120 bpm e pressão 180 mmHg.Tem mais como ele vindo,aparentemente era uma viagem em família,carro lotado...—o socorrista informou enquanto corríamos e eu agradecia por ter optado por tênis e não crocs essa manhã.

E eu achava que estava em um dia ruim.

—Doutora?

—Ok precisamos de uma maca,e exames de imagem da região do tórax.Bipem neuro,cardio e orto rápido!—gritei enquanto todos se mexiam,normalmente traumas assim são comandados pelos residentes,mas nenhum está por perto o que deixa esse pobre coitado...comigo.Sorte dele que sou boa,muito boa,a melhor interna se me perguntarem.—Tentem achar algum documento,carteira,qualquer coisa que diga quem é esse cara.—orientei Reed que ligava intravenosos no corpo rechonchudo do caminhoneiro.

Fomos a sala de trauma,que são usadas para emergências como essas e não para crianças engolindo peças ou adultos com cortes no braço.Aqui as coisas são mais sérias,e todas as decisões tomadas decidem se o paciente morre ali,ou se acaba em uma mesa de cirurgia com chance de sobreviver.Chequei a vias aéreas,os exames de imagem e mesmo com as lesões no lugar os vitais ainda variavam,o que significava que eu estava deixando algo escapar,eu estava deixando o paciente morrer na minha frente,não agora mas em breve.

—Já chamaram o Hosk?—questionei novamente e todos afirmaram com acenos,odeio os cardio,eles se acham deuses e somem agora que eu preciso deles.—Ok preciso de um ultrassom portátil,um dreno 9 e uma lâmina 10,por favor.—todos me deram os olhares de "interna maluca",o que talvez eu seja,mas se eu estiver certa o paciente vai colapsar em alguns segundos,e eu vou precisar inserir um tubo no peito dele então eu prefiro tê-los aqui.

O bipe disparou mostrando que eu estava certa,seus pulmões estão colapsando.Checo por um segundo no ultrassom portátil,e o campo estéril é posto sobre o corpo do caminhoneiro que descobri chamar Carl.Ok Carl vamos abrir esse peito.Quinto espaço intercostal anterior a linha média,uma incisão mínima,inserir o tubo e esperar pelo...

—Posso saber o que DIABOS você acha que está fazendo com esse paciente,Hasster?—o doutor entra furioso,enquanto o ar vazava dos pulmões de Carl fazendo ele lutar contra a entubação.—Oie senhor,eu sou o Dr Hosk.Você esteve em um acidente mas vamos cuidar muito bem de você.—diz com uma voz doce,e me lança um olhar mortal pelos cantos dos olhos claros.

Grudo na parede respirando aliviada,eu não o matei,e acho que funcionou porque Carl está respirando sem ajuda de aparelhos.Talvez eu perca meu emprego,mas eu fiz mesmo assim.Sou expulsa da sala sem nem um agradecimento,ou convite para a cirurgia do caminhoneiro,mas sinto que salvei uma vida hoje,o que me faz sorrir para o prontuário em minhas mãos.Provavelmente preencherei prontuários pelo resto da semana,mas eu fiz o certo,eu sei e eles sabem.

—Parecia uma médica de verdade lá dentro Soph.—Brooks diz com um sorriso orgulhoso e erguendo suas sobrancelhas.

—Eu parecia mesmo não é?—respondo incrédula.—O que você tem?—pergunto pegando o prontuário de suas mãos pequenas,as vezes me pergunto se ela conseguiria quebrar ossos como quer com essas mãos,mas espero que sim.Hanna Brooks é uma boa médica,e amiga,minha única amiga por aqui.Mesmo que ela me irrite as vezes com seus brilhos labiais de cereja e conversas sem fim sobre seu namorado,eu a amo.

—Um cara que convulsionou mas acho que ele tem um tumor,então meio que normal... o trouxeram porque estava em uma competição de motos ou algo assim.

—Tom? O que? Não é possível...

Deixo Hanna falando sozinha e corro,mais ainda do que para Carl.Ele está em uma das macas normais do PS com o avental ridículo de pacientes,a cara enfiada em uma das vasilhas vomitando.Está pálido,mais magro,mas não muito.

—Eai irmãzinha,sentiu minha falta?

BEM VINDOS!
Estou muito ansiosa com essa história,e espero que gostem tanto quanto eu!
Para as leitoras de 18,não se preocupem tem espaço no meu coração para as duas e não vou priorizar nenhuma na hora de atualizar.
❤️